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O pecado e o pecador famoso
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O pecado e o pecador famoso

Daniela Noogueira

Há situações em que o pecador chama mais atenção do que o pecado. Há alguns dias, a imprensa do País todo publicou a notícia de que o pai de um jogador que hoje atua pelo Fortaleza teria sido preso com 15 quilos de droga em São Paulo. O nome do jogador, a posição em que atua e o time atual estavam no título dos principais portais de notícia Brasil afora. No O POVO Online, inclusive.

A maioria dos títulos focava no sujeito da ação – o pai do jogador. Daí, seguia para a descrição do crime, o porte de drogas para venda. Houve reclamação dos leitores. “Sou torcedor do Ceará e sinceramente espero que tal notícia não afete a carreira do jogador. Aliás, deveria estar na página policial e não esportiva. Não é um fato esportivo”, escreveu Vitor Nobre.

No O POVO, como na maior parte dos portais de notícia pelo País, a informação estava no canal de Esportes. O leitor Américo Souza questionou: “Em que a informação de que o homem detido pela polícia de São Paulo ajuda a entender o caso? Qual a relevância desta notícia para nós, leitores do O POVO? Acaso há uma ligação entre as ações do detido, ou da polícia paulista, com o tráfico de drogas ou com as ações da polícia cearense? Qual a justificativa para que uma notícia sobre a prisão de um acusado de tráfico seja veiculada na editoria de esporte?”

A estranheza surge porque o assunto principal da notícia é o crime por causa da droga. Não há uma relação direta com o esporte. Há, sim, uma relação de parentesco direta com o preso e o jogador famoso. Por isso, é preciso cuidado.

"Relevância"

O jornalista Érico Firmo, editor do O POVO Online, responde sobre o caso: “A prisão do pai do jogador é notícia pela relação dele com o jogador. Assim como são noticiadas mortes de familiares de jogadores, por exemplo. Pela mesma razão, a matéria foi em Esporte. Poderia também ter ido na editoria Brasil, sem problema. Mas, como a relevância da informação está no parentesco com o jogador, não vejo razão pela qual a matéria não poderia estar ali publicada.”

A delicadeza aí está em dois aspectos: estamos tratando de um assunto desagradável – a prisão de um familiar, situação embaraçosa especialmente para uma figura pública, constantemente em exposição. Segundo: estamos lidando com futebol, um tema que é associado a motivos passionais e, portanto, uma situação de desconforto poderia incitar mais hostilidade entre as torcidas rivais. Não é isso o que se quer quando se divulga uma informação. Jornalismo é, sobretudo, uma função social.

Erramos

Com apoio do O POVO.Doc (como agora se chama o Banco de Dados do jornal), listo os Erramos publicados nos últimos meses. “Erramos” é o nome da seção dada no O POVO à errata – um texto escrito com a intenção de corrigir uma informação dada anteriormente. Assim é usada (ou deveria ser) também no jornalismo. O POVO demonstra, ao longo do tempo, uma tradição de publicar as correções dos erros. Há um padrão para a seção – com o Erramos no título seguido pela data, página da publicação e a informação certa. Tudo contextualizado.

No mês de março inteiro, 10 correções foram feitas na versão impressa do jornal. Em abril, até dia 27, sexta-feira passada, haviam sido publicados no impresso 5 Erramos. Isso significa o quê? Algumas possibilidades: diminuímos consideravelmente a quantidade de erros publicados? Passamos a ser mais rigorosos com todas as listas de checagem e métodos de revisão nas dezenas de páginas que fechamos todos os dias e estamos por findar o número de deslizes? Ou simplesmente não estamos dando a atenção devida às correções que devem ser feitas?

O Erramos já quase passa despercebido de tão discreto que está nas páginas, sem um diferencial que o destaque como instrumento de rigor que é. Já está sendo publicado sem padrão, muitas vezes sem dados necessários para o seu entendimento, como o nome da matéria ou a data em que a informação foi veiculada. Precisa ser lembrado para que vire rotina, inclusive atualização constante nos meios online e digital.

Sempre incômodo é admitir erros, mas eles continuam a existir. É preciso uma política de correção desses equívocos. Ignorá-los ou desconsiderar um meio que colabora para o aprimoramento da qualidade jornalística nunca foi uma boa solução.

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