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Equilíbrio, notícia e espetáculo
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Equilíbrio, notícia e espetáculo


Os últimos dias têm sido de uma dinâmica cada vez mais acelerada nos acontecimentos políticos, especialmente envolvendo o julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula. As opiniões divergentes se perdem, muitas vezes, em conflitos desrespeitosos nas redes sociais e catalisam quebras de relações antes amistosas. É o tipo de iniciativa que não deve chegar à imprensa.

Dos veículos de comunicação exige-se um equilíbrio que vai desde a escolha de fontes que esbocem uma pluralidade de análises, incentivando os contrapontos, até a seleção atenta de palavras e a divulgação de informações de forma objetiva e clara, como apregoam os princípios básicos do jornalismo. Casos como o julgamento de Lula, a determinação de sua prisão e os fatos que se sucederam devem ter o devido espaço na mídia. Mas daí a fazer uma cobertura de espetacularização do fato é outra história.

Matérias televisivas com direito a helicópteros em sobrevoo, envio de imagens aéreas em tempo real numa ansiedade noticiosa, junto com apresentadores alvoroçados para emitir seus pareceres político-opinativos ao vivo, precisam de cuidado. Chegam a uma parcela expressiva do consumidor de notícias em um tempo mais rápido.

 

Nos jornais impressos, a escolha das fotos, sob certos ângulos e com determinados semblantes, tem sua parcela expressiva no significado. As cores de fundo, em tons escuros, completam o sentido. Tudo é pensado no processo, mas as interpretações a que chegará o leitor devem ser previstas e levadas em consideração, para que não haja a confusão entre jornalismo e preferências político-partidárias ou militância. Há espaço no jornal para análises e pontos de vista que não as matérias objetivas.

A propósito, tenho de concluir este texto na sexta-feira. De lá até hoje muito pode ter acontecido. O jornalismo se reforça quando a sensatez predomina.

 

O cinema voltou

A programação do cinema está de volta às páginas impressas do jornal. Com a reforma gráfico-editorial do O POVO, informações de serviço sobre os filmes em exibição, com horários, salas e locais, haviam sido retiradas do impresso. Desde a segunda quinzena de janeiro, os leitores não tinham mais acesso a esses dados pelo jornal de papel. A programação passaria a ser publicada no portal e no aplicativo Agenda Vida&Arte.

As queixas, inclusive mencionadas neste espaço, foram muitas. Leitores, insatisfeitos com a supressão do serviço, alegavam que, sim, consumiam a informação pelo impresso. Era necessário que O POVO reavaliasse sua decisão para atender a um público que exigia o serviço de volta.

Dois meses e meio depois, a programação do cinema está de volta. Tempo um tanto longo para reavaliar a decisão e encontrar um espaço para o serviço – que saiu do caderno de cultura do jornal (Vida&Arte) e passa a ser publicado nos Populares. O retorno do serviço mostra que o jornal, de fato, ouviu, leu e acolheu as críticas dos leitores, ratificando seu compromisso com o público, diante de tantos canais que disponibiliza para o recebimento dessas observações. Além disso, expõe que nenhuma mudança é definitiva, mesmo quando o projeto é lançado. Em muitos casos, somente quando o produto é apresentado ao público é que as necessidades surgem.

No entanto, o longo tempo de espera poderia ter sido evitado. As reclamações apareceram logo que a seção sumiu do jornal e tiveram continuidade nos dias seguintes. Foram leitores que não se acostumavam a ver a programação no online, que sentiam dificuldade em achar o serviço no portal, que reclamavam em ter mais um aplicativo no telefone. Deveríamos ter sido mais ágeis no atendimento aos apelos.

E, ao deslocar o serviço para os Populares, perde o caderno de cultura, porque se desintegra de um serviço importante para os assuntos de que trata. O suplemento apresenta uma página sobre análise de filmes e séries, mas indica que o leitor procure a programação em outro caderno. Dissociar esses dois conteúdos vai contra a lógica da marca estrutural que compõe o roteiro cultural de um lugar. Em vez de potencializar a convergência entre os suplementos, reduz-se o potencial de leitura de um caderno editorial.

 

Daniela Nogueira

 

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