O POVO vem numa sequência de sete manchetes consecutivas sobre o assunto segurança pública. A contagem refere-se até a última sexta-feira, dia em que tenho de enviar este texto. A maioria dos fatos que deram origem às manchetes da Capa está relacionada à morte dos homens que comandavam facções criminosas e que foram assassinados na semana passada no Ceará.
São perceptíveis o esforço e a dedicação do jornal em noticiar o caso e publicar matérias correlatas ao longo dos dias. Nota-se cuidado ao citar as fontes diante dos fatos e não há, em geral, a predominância de recursos apelativos ou textos sensacionalistas. Grande parte dos jornais e dos jornalistas entende que esse modelo já está saturado.
Diante da notoriedade que a temática alcançou, é necessário refletir sobre a qualidade da cobertura publicada.
Porque é uma necessidade do ser humano, a segurança é um assunto em evidência. Além do noticioso, O POVO reflete mais do que o principal jornal concorrente, com a publicação de mais análises e entrevistas com pesquisadores do assunto.
Para um deles, no entanto, ainda é pouco. “O POVO tem ilustrado a situação da violência no Ceará de maneira abrangente, mas, como outros jornais, ainda insiste nos fatores de impacto. Mesmo com a coluna do jornalista Ricardo Moura realizando um ótimo trabalho analítico, faltam melhores aprofundamentos nas matérias que tratam da segurança no Estado. São matérias, em geral, curtíssimas e com uma frase de um ‘especialista’. São pobres do ponto de vista analítico, explorando os elementos de impacto, explorando muito pouco distintos pontos de vista e os conteúdos produzidos pelos pesquisadores da área”, avalia o professor Luiz Fábio Paiva, da Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Análise das facções
O jornal tem-se debruçado com constância sobre a atuação das facções criminosas. No início, omitiu os nomes dos grupos numa tentativa de evitar dar visibilidade a eles, conforme o jornal anunciou.
Depois, com os acontecimentos envolvendo diretamente as facções, passou a nomeá-las.
Luiz Fábio Paiva acrescenta que é importante refletir sobre a análise desses grupos e suas consequências para a vida social. O jornal deve investir, de modo atento e cuidadoso, na investigação da genealogia desses agrupamentos e o que provocou a sua reprodução. “Milhares de pessoas não se associaram e estabeleceram relações porque são naturalmente ruins e resolveram, do dia para a noite, serem cruéis umas com as outras. É preciso entender esse fenômeno e encontrar saídas para pensar esse problema para além de um discurso simplificador da realidade. O acirramento da ideia de que é possível vencê-los pela força nega as condições sociais geradoras desse problema”, indica o professor, que é pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV).
Procedimentos adotados
Outra crítica acerca do assunto chegou por meio de uma leitora, na semana passada, que revelou “certo desconforto” com o uso do termo “líderes” em referência aos comandantes das facções. “A primeira coisa que me vem à mente é que essa é uma escolha por dar tratamento respeitoso a criminosos. O termo líder, de imediato, lembra algo positivo”, citou. A partir do dia seguinte, O POVO passou a dar preferência ao termo “chefes” em relação às facções.
De acordo com o professor Luiz Fábio, as relações entre os membros dos grupos são diferentes, e “líder” caracterizaria melhor o posto do que “chefe”. “A liderança não é apenas um posto de chefia, mas algo que amplia as características pessoais de quem exerce encanto sob seus comandados”, observa.
Sobre a avaliação que faz da cobertura nessa área e os procedimentos adotados, questionei a Redação (Chefia e repórteres envolvidos), mas não recebi resposta até o fechamento desta coluna.
É interessante observar que o jornal deve ficar atento às críticas que recebe, especialmente no que concerne à segurança. A mídia é vista como um elo entre anseios e necessidades da sociedade e a atuação do poder público. É reconhecida por muitos como um elemento relevante na reivindicação por políticas públicas bem-sucedidas e seus consequentes desdobramentos. Não pode, portanto, se esquivar de acolher os questionamentos – dos leitores, dos pesquisadores ligados ao tema e dos próprios colegas jornalistas.
Em vez da reação abrupta, optemos pela reflexão acerca do que produzimos. O bom jornalismo é que sai ganhando.
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