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Quando o essencial fica invisível
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Quando o essencial fica invisível

 
O POVO foi o jornal do Ceará que, nos últimos dias, mais publicou matérias sobre as mudanças na Lei de Uso e Ocupação do Solo de Fortaleza (Luos), aprovadas na Câmara Municipal. O assunto começou a ser divulgado mais amiúde a partir do dia 3 de agosto. Dessa data até a sexta-feira passada (11/8), foram sete manchetes sobre o tema.

Economia, Política e Cotidiano publicaram conteúdo sobre o assunto, que chegou a ser manchete do jornal, no dia 7 de agosto (ver fac-símile). Uma cobertura tão prolongada, porém, não foi capaz de trazer para o debate o nível necessário de aprofundamento para que o leitor pudesse entender que, a partir dali, uma nova configuração de Cidade poderia surgir das entranhas daquela lei.

No dia da publicação da primeira matéria da série em Economia (“O impacto econômico na vida de Fortaleza”), escrevi, em comentário interno, que a matéria principal apresentava a mudança de forma celebrativa. Cobrei ainda que se precisava explicar melhor as modificações na Luos. Somente na segunda-feira (7/8), em uma matéria de Cotidiano, fez-se uma leitura melhor do que seria a mudança: “Menos vagas para carros e prédios mais altos entre as propostas”. No dia seguinte, diante da manchete, “Vantagens da Luos para a economia da Cidade”, em Economia, um leitor questionou: “A manchete não deveria ter sido ‘Vantagens e desvantagens da Luos’?” De fato, as desvantagens estavam em uma matéria coordenada e num quadro, mas o título privilegiou somente um dos lados.

Porém, foi na quinta-feira passada (10/8), que a Redação, ao cobrir a votação da Luos, na Câmara Municipal, esqueceu o que é fazer bom jornalismo. Na matéria “Câmara vota hoje texto final de Lei de Uso e Ocupação do Solo”, um importante detalhe estava escondido nos últimos parágrafos do texto. Os vereadores haviam colocado no bojo da Luos um penduricalho, que, aprovado, revogou a lei de criação da Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) das Dunas do Cocó, criada em 2009. Com a criação da Arie, ficou proibida qualquer construção em 15 hectares de dunas, entre as avenidas Padre Antônio Tomás e Sebastião de Abreu. Vale lembrar que a aprovação da lei na época já foi envolta em polêmica. A emenda da Arie estava lá, foi aprovada e os leitores do O POVO só ficaram sabendo dela no rabicho de um texto com parcas informações. O essencial ficou invisível.

Até mesmo uma matéria que havia sido publicada no online do O POVO ‘sumiu’, como notou um leitor. “Li a matéria, que por sinal estava bem escrita e completa, na tarde de ontem (9/8). À noite, fui abrir no Twitter (do O POVO) e a página não foi encontrada. A matéria existiu, pois você ainda encontra no cache do Google. Ontem questionei no Twitter do O POVO e não houve resposta”. Até sexta-feira passada, a matéria não havia sido recuperada.

Embora extensa, a cobertura da Luos, em sua maioria, ficou presa às necessidade das fontes. O POVO teve pouco protagonismo para mostrar para os leitores a mudança na lei que saiu da Câmara Municipal. As matérias giraram em torno de um ou dois assuntos.

Quando O POVO descobriu a emenda da extinção da Arie do Cocó, preferiu jogar o tema para um segundo plano. Fugiu do debate que tão bem sabe fazer.


AS MUITAS FORMAS DE ARGUMENTOS


O editorial publicado pelo O POVO, na terça-feira passada (8/8), resultou em queixa de leitores durante a semana que passou. Nele, O POVO seguia os passos da Folha de S. Paulo e informava que, no noticiário, o regime da Venezuela passaria a ser chamado de ditadura.

Um primeiro leitor questionou se O POVO passaria a chamar de ditadura outros regimes que também se assemelham ao que ora acontece na Venezuela. “Serão dois pesos e duas medidas?”. O segundo leitor enviou uma longa mensagem informando a decepção com o editorial e com a linha editorial do jornal. “Num editorial agressivo, o jornal abre mão de qualquer prudência, cautela que deveria nortear a conduta ética de quem cumpre a função de informar, revelando os lados contraditórios de uma crise vivida naquele país”, escreveu.

Um dos itens da Carta de Princípios do O POVO é “democracia” – “O próprio nome do O POVO define a opção democrática que sempre foi e sempre deve ser de defesa das causas populares...”. O editorial poderia ter usado este item como argumento para a defesa de sua posição. No entanto, preferiu fazer a fundamentação de seu ponto de vista de uma forma que soou grosseira. Esta não é a primeira vez que trato do editorial do jornal por reclamações de leitores a partir da forma inconveniente da defesa de ideias. Parece que as palavras, as frases e os argumentos são escolhidos de afogadilho, sem que se pense muito sobre o tema. Não deveria ser assim, pois existem muitas maneiras mais comedidas de argumentar.

PARA ACIONAR A OMBUDSMAN


Os leitores das diversas plataformas do O POVO podem entrar em contato com a ouvidoria pelo WhatsApp (85) 988 93 98 07; por email (ombudsman@opovo.com.br) e telefone fixo (3255 6181). O leitor pode ainda visitar a ombudsman se necessário. Basta ligar e agendar. 

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