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Sobre "barrigas" e subterfúgios
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Sobre "barrigas" e subterfúgios

O Guia de Redação e Estilo informa, entre outras coisas, nos itens “Furo” e “Barriga”: “É necessário cuidado especial com as informações que chegam à última hora e que são, às vezes, publicadas apressadamente pelo temor de comprovar, no dia seguinte, que o jornal foi ‘furado’ (Informação importante publicada por apenas um veículo de comunicação). Algumas vezes trata-se de boato ou de informação plantada e o temor do ‘furo’ pode levar ao outro lado da moeda, que é a ‘barriga’, a publicação de um erro grave de informação”. Pois, na terça-feira passada (7/3), o impresso deu uma “barrigada” em notícia na editoria Radar, que foi reproduzida em outras plataformas do Grupo de Comunicação O POVO. A matéria, publicada em destaque na página, informava equivocadamente que quatro adolescentes suspeitos de participação no assassinato da travesti Dandara dos Santos haviam sido apreendidos. No dia seguinte, a partir de uma coletiva de imprensa convocada pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), constatou-se que eram dois.

Esse caso não foi único típico de “barriga” nos últimos dias nas plataformas do O POVO. No último dia 3 de março, a editoria Política publicou uma notícia, como manchete de página, dando conta de que a mensagem de aumento dos servidores públicos estaduais, iniciativa do Governo do Estado, ainda não havia chegado à Assembleia Legislativa até aquela data. O Diário do Nordeste publicou conteúdo com o mesmo assunto, no mesmo dia, informando que a pauta já estava na Casa e que iria começar a tramitar. No dia seguinte, a matéria “Mensagem do governo chega à AL” esclarecia no O POVO que a mensagem já estava na Assembleia desde o último dia 2 e corrigia a informação anterior.

O que também chamou atenção nos dois casos foi a forma de fazer a correção da informação. Em ambas, atribuía a terceiros o problema. No caso da apreensão dos adolescentes, a uma nota enviada pela assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Ceará. No outro, conferia o desacerto ao líder do Governo na Assembleia Legislativa. Esta última matéria explicou ainda que duas outras fontes (assessorias da Assembleia e do Governo) haviam confirmado a primeira informação. Porém, nada disso afasta a premissa de que uma informação que o jornal publica é de responsabilidade do O POVO. Não se pode transferir culpa. Erro publicado no jornal, no online ou nas redes sociais é erro do O POVO, e não de terceiros. E nem adianta apelar para subterfúgios.
 

DANDARA, BOEING E CRIANÇAS
Três assuntos publicados no O POVO durante os últimos dias merecem ser realçados por motivos distintos. O primeiro trata-se da decisão de levar a morte da travesti Dandara dos Santos para a manchete do jornal no dia 4 passado, após a descoberta do vídeo que viralizou e chocou o Brasil pela crueldade do assassinato. Quando as imagens foram compartilhadas à exaustão nas redes, chamando atenção para a barbaridade do espancamento, já haviam se passado duas semanas do crime. Mesmo assim, o assunto foi escolhido acertadamente para ir à manchete.
 

O segundo assunto foi publicado no domingo passado (5/3). Trata-se de matéria sobre um Boeing que foi alvo de sequestro em 1977, conhecido como o “Outono Alemão”, e que virou sucata no Aeroporto Internacional Pinto Martins de Fortaleza (ver fac-símile). É um assunto de memória que se tornou atual a partir da decisão do governo alemão de repatriar o avião.

Por fim, a primeira matéria da série “Vidas breves”, manchete do O POVO de segunda-feira passada (6/3), que abordava a morte/vida das oito crianças assassinadas em 2016. O mérito vai para o esforço de trazer a lume a história de cada uma delas.

FAZER MANCHETE É UMA ARTE
A manchete do O POVO da quinta-feira passada (9/3) causou estranhamento de um leitor que entrou em contato com a ouvidoria para tecer comentário sobre o título. Para ele, a frase “Líder de comunidade católica preso por suspeita de estupro” não ficou precisa. Ele explicou: “Todos concordam que foi bom ter descoberto (o caso de abuso sexual) e ter sido feita a denúncia, mas o uso de ‘líder de comunidade católica’ na manchete ficou genérico, deixou algo no ar. A comunidade tinha nome”.

De fato. A manchete daquele dia não tinha nada de errado, mas não estava perfeita. No comentário interno enviado para a Redação, já havia mencionado que teria sido melhor colocar o nome da comunidade Família em Missão no conjunto da manchete, com mais visibilidade. O nome aparecia na chamada abaixo do título principal. Na Igreja Católica existem outras comunidades que são, inclusive, mais conhecidas. Poderia gerar dúvidas, levando o leitor a fazer conexões inexistentes.

Além disso, vale ressaltar que a tarefa de fazer títulos perfeitos nunca é fácil. É como uma arte. É um trabalho invisível que requer escolha das palavras certas para ser atraente e, ao mesmo tempo, aproximar-se ao máximo dos fatos transcritos na matéria. Naquele dia, essa meta não foi alcançada.  

 

Por Tânia Alves

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