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Governo expõe as vísceras da sua fragilidade
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Colunista de Economia, Neila Fontenele já foi editora da área e atualmente ancora o programa O POVO Economia da rádio O POVO/CBN e CBN Cariri.

Governo expõe as vísceras da sua fragilidade


Encurralado pela greve dos caminhoneiros, o presidente Michel Temer expõe as vísceras da sua fragilidade política. A impopularidade, característica desse governo desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, parecia ser vista como capital para a apresentação de medidas polêmicas, consideradas importantes pelo mundo corporativo, para se restabelecer o equilíbrio fiscal do País.


Com a não realização de propostas como a reforma da Previdência, aliadas à falta de regularização da reforma trabalhista e à economia estagnada, o presidente passou a desagradar os seus apoiadores. A greve dos caminhoneiros se apresenta nesse contexto como a cereja do bolo que faltava para a derrocada final de um governo que se aproxima do fim.


Mas vale a pergunta: quem seria beneficiado imediatamente no caso de um afastamento antecipado do presidente em um ano de eleição?


GOLPE


EXEMPLO CHILENO


Diante do impasse entre governo, manifestantes e Petrobras, muita gente tem lembrado que, antes da ditadura no Chile, em 1973, o presidente Salvador Allende enfrentou greve dos caminhoneiros e comerciantes, a qual comprometeu a safra, culminando em seguida com o golpe.


A história, mais uma vez, nos remete para os riscos de um colapso no País, que pode ultrapassar o problema do desabastecimento e culminar com o agravamento de uma crise política. Na época de Allende, havia o contexto internacional da Guerra Fria e o financiamento dos Estados Unidos para essas ações.


No momento brasileiro, pelo que até agora se apresenta, o movimento dos caminhoneiros não possui esse tipo de apoio. A sua origem seria o peso do custo dos combustíveis, o que é bastante justificável.


Portanto, utilizar o poder militar para desbloquear as vias interditadas pelos manifestantes não representa a melhor saída. Essa não é a questão principal, resolvendo apenas emergencialmente o problema de um desabastecimento. A grande questão consiste nos aumentos desenfreados, que exigem uma solução real e rápida.


Outro ponto é: qual será a base para esse governo continuar, já que ele não consegue mais controlar a sua principal bandeira, que é a economia, desequilibrada pelo peso de todos os aumentos?


PROPOSTA


REONERAÇÃO DA FOLHA


A proposta de reoneração da folha de pagamento de 28 setores produtivos no País para compensar a redução de PIS/Cofins sobre combustíveis é considerada uma saída esdrúxula para resolver o problema.


Técnicos da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) já se manifestaram, informando o peso da medida para o aumento da inflação, o que poderia elevar as demissões em várias atividades produtivas. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) anunciou que a medida colocaria em risco aproximadamente 400 mil empregos.


As propostas compensatórias para não esvaziar o tesouro nacional, como a isenção de impostos como Cide, PIS/Cofins, agravariam a situação social. Dentro dessa situação, a saída seria utilizar a Petrobras, mais uma vez, como um colchão para amortecer os aumentos dos combustíveis diante das oscilações dos preços no mercado internacional.


AEPET


PAPEL DA PETROBRAS


A confusão provocada pelos aumentos do diesel e da gasolina, e pela pressão dos caminhoneiros, tem forçado as manifestações de representantes de vários setores. A Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet-NS), por exemplo, lançou nota lembrando o papel social da Petrobras.


“A Petrobras é uma empresa estatal e existe para contribuir com o desenvolvimento do país e para abastecer nosso mercado aos menores custos possíveis. A maioria da população quer que a Petrobras atue em favor dos seus legítimos interesses, enquanto especuladores do mercado querem maximizar seus lucros de curto prazo. Nossa Associação se solidariza aos consumidores brasileiros e afirma que é perfeitamente compatível ter a Petrobras forte, a serviço do Brasil, e preços dos combustíveis mais baixos e condizentes com a capacidade de compra dos brasileiros”, afirma a nota.


PREJUÍZOS


CUSTO DA GREVE


A Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad) também considerou legítima a mobilização dos caminhoneiros, mas teme os prejuízos. O presidente da entidade, Emerson Luiz Destro, cobra do governo uma saída verdadeira para o impasse, que contemple não só a questão do preço como a frequência dos reajustes realizados, sem que isso represente ingerência ou um retrocesso no processo de recuperação da Petrobras. O setor defende uma transparência nesse processo para que fiquem claros os critérios adotados para os preços.


Ou seja: todo mundo quer tudo, enquanto o governo não tem recursos e a Petrobras não abre mão da sua política corporativa.


SINDIPOSTOS


À ESPERA DE UMA SOLUÇÃO


Os postos de gasolina de Fortaleza pareciam ontem surpresos com a ampliação da mobilização dos caminhoneiros. A interdição dos terminais da Shell e da BR no Porto do Mucuripe fez com que o setor se reunisse e esperasse uma solução, negociada em Brasília pelo presidente nacional da entidade, Paulo Miranda Soares.


Em conversa com a coluna, o presidente do Sindipostos-CE, Manoel Novaes, afirma que os postos são clientes indiretos e há muito tempo eles lamentam a política de preço. “Os postos acabam penalizados pela situação”, ressalta.


Não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante todos”

SALVADOR ALLENDE,

ex-presidente do Chile (1908-1973)


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O POVO Economia da Rádio O POVO CBN (FM 95.5), a partir das 14 horas. Destaque para o quadro “Atacado e varejo”, com o jornalista Eliomar de Lima.


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