Zema e o projeto de case do Novo
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Zema e o projeto de case do Novo

2018-12-23 00:00:00

Minas Gerais é um laboratório tamanho gigante para o Novo, o partido do governador eleito Romeu Zema. Ele decidiu sair candidato com a proposta de renovar a administração pública e encontrou ali a novidade que procurava. Zema elegeu-se governador com 71% dos votos, resultado que junta a crença em seu nome e a imensa rejeição ao PT.

 

Na equipe de transição dele, técnicos de áreas diversas. Um time formado por gente da Fundação Dom Cabral, consultoria Falconi e Instituto Aquila. Todos mineiros. A equipe analisou as contas do estado e informou a conclusão: terá na antessala do Palácio um rombo de quase R$ 100 bilhões nos próximos quatro anos, caso não realize pesado e, portanto, antipático, ajuste fiscal. Isto para começar logo, enquanto ainda varrem a festa da posse.

 

Minas tem 150 mil funcionários contratados ou temporários. Este contingente representa 42% do quadro de servidores ativos. Para completar, a despesa com a folha estoura o teto da Lei de Responsabilidade Fiscal.

 

Decerto, muito daquilo a ser feito vai precisar do aval da Assembleia Legislativa. É nessa hora que Zema entrará ou não para a história. Precisa fazer como os bons advogados criminalistas. Entrar na lama e sair limpo. Noutros termos, terá de saber lidar com a vida real da política e suas demandas ora elevadas ora (quase sempre) comezinhas.

 

Para isto, um time de notáveis gestores não basta. Gera apenas boas intenções e muitas explicações. Um governo revolucionário, como vendido pelo partido, não se basta no administrativo. O discurso do Novo é atraente para uma geração de pessoas que toca o País trabalhando, pagando (muito) imposto e vendo os revolucionários de outrora envolvidos com corrupção. Muitos compraram esta ideia e veem no partido uma esperança de tudo se ajeitar.

 

Há neste público uma visão um tanto asséptica da política. O natural ceticismo desta persona chega a acreditar em um Governo capaz de dar de ombros para a Política. Mas isto não existe. A realidade se impõe. Vencendo a guerra em Minas, o Novo se tornará um case nacional. O laboratório é muito grande. Para mal e para o bem.

 

A luta inglória pela profissão que acabou

O Sindicato dos Trabalhadores fala em 100 cobradores demitidos. Projeta o risco de 4.500. Mas certamente poderão muito mais. Não só em Fortaleza, mas onde houver ônibus. Por uma razão dolorosa para quem exerce o ofício, mas irremediável: a tecnologia tornou a atividade prescindível. A profissão se chama cobrador ou trocador, contudo, não há o que cobrar ou trocar.

 

A tecnologia a empregar poucos cria soluções implacáveis para muitos. Vale para a afim caixa do estacionamento. Vale para o consertador de guarda-chuvas, o limpador de ouvidos em Bangladesh (por causa da popularização dos cotonetes), cortadores de pedra em Honduras (cobertos pela precisão das máquinas) ou ascensoristas (para os mais jovens, o piloto de elevador).

 

Ao tempo em que muitas acabam, outras surgem. Nada garante o equilíbrio. O mundo lida com este descompasso, como um dia já se enovelaram os trabalhadores do setor têxtil com a chegada dos teares mecanizados, símbolos da Revolução Industrial. A única certeza é a de que o futuro do trabalho é imprevisível.

 

Os protestos devem continuar por um tempo, mas irão sucumbir. O argumento do Sindicato não passa a catraca. Em verdade, a exemplo de tantas outras entidades, revela o quão atônito está. O fim da contribuição sindical obrigatória criou esta outra revolução. As representações laborais terão de saber enfrentar este novo cenário com argumentos diferentes daqueles do século XVIII.

 

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