Donde saem as questões do Enem
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Donde saem as questões do Enem

2018-11-11 00:00:00

Quem passou pelos bancos escolares sabe. Há um perfil ideológico bem claro nos professores, sobretudo nas disciplinas de humanidades, nos ensinos fundamental e médio. Os mestres, em larga medida, são militantes de um lado em um suposto embate primário esquerda-direita, também conhecido como bem contra o mal, sendo eles o bem, naturalmente. Em verdade, o mal está noutro ponto. Mora na incapacidade de quem tem a missão de formar aquela garotada para encarar a vida com bom background, capazes de discutir temas importantes para a formação escolar e, mais tarde, acadêmica. Justamente ter bom discernimento para ir além da dicotomia bem x mal.

 

Nos seus escritos, Paulo Freire fala em formação como algo além do que formar as pessoas em destrezas diversas. Defende ir além, preparando os educadores sob perspectiva ética para que estes apliquem em suas turmas o exercício da reflexão crítica sobre a realidade. Pois bem, abstraindo a ideologia de Freire e detendo-se apenas à essência da fala, aplique-se hoje. Como ignorar as pluralidades inerentes às diversas linhas ideológicas e às gestões públicas a elas alinhadas? É onde começa a desonestidade intelectual. Recorrente em salas de aula deste Brasil varonil.

 

Ao cingirem seus conteúdos a uma suposta verdade absoluta, professores deformam. Isto explica por qual razão, grosso modo, e não é de hoje, um jovem pode ir a uma prova de estudos sociais relativamente apto a acertar questões apenas seguindo a seta da esquerda. Onde houver menção ao que deprecie coisas "mundanas" como uma visão liberal de mundo e divergente das palavras de ordem, marque X. Onde a América for chamada de "império" é batata. Uma opção que legitime a invasão de propriedade privada em nome de reforma agrária é mole. Alguma que trate um Movimento de Luta Social por Moradia apenas como "movimento", e não como milícia idem. E por aí vão os bizus.

 

De fato, temas como direitos humanos, gênero, cor e agricultura familiar não deveriam ser, a rigor, uma pauta exclusiva das esquerdas. Dizem respeito à sociedade, para além das cores partidárias. Mas depois da educação infantil - no meu tempo maternal, Jardim I e II - até os ursinhos sabem se tratar de conteúdo carimbado.

 

Incomodado com a prova de domingo passado - o dia das humanidades - e falando ainda sem descer do palanque, o presidente eleito se manifestou. Bolsonaro disse que no seu governo o Enem deve tratar sobre "o que interessa", citando geografia e história, por exemplo. De acordo com ele, o Brasil é um "país conservador" e seu objetivo, como presidente, é pacificar. Fez o que seus eleitores esperavam. Como ele vai agir, não se sabe. Cometeria o mesmo erro, se apenas trocar o sinal, chamando golpe de revolução, por exemplo.

 

A pobreza a assolar o debate político no País é a mesma das salas de aula e das provas. É a mesma das ruas e de boa parte do jornalismo. Só conversa de militante. E, pior, chega à Academia. É de lá que saem as questões do Enem.

 

BENDITO DINHEIRO PRIVADO

Quando o governador Camilo Santana (PT) vai à Holanda vender os potenciais do Ceará a empresários europeus (na sexta), a razão de ser do investimento do Ceará na sociedade com o Porto de Roterdã; quando comemora a operação do aeroporto Pinto Martins pela alemã Fraport; quando festeja a instalação dos cabos de fibra óptica, compondo assim o que ele chama de trinca de Hubs - e sem contar o Hub da saúde no circuito Porangabussu-Eusébio; nada mais está do que celebrando o dinheiro privado. E novo.

 

JOGO RÁPIDO

Quem mais se preocupa com as anunciadas extinções de ministérios, como o do Trabalho, são as corporações de funcionários. O contribuinte não dá tanta importância assim. Quer mesmo é ver a coisa funcionar. Os 13 milhões de desempregados da Nação não se comovem com o drama dos servidores concursados.

 

Novo menu

Governo novo, novos poderosos ou pelo menos novas expectativas de Poder, novo cardápio, novos convivas, novos almoços. Na sexta-feira, ao meio-dia, aconteceu o almoço "entre amigos". À mesa, o deputado federal Heitor Freire (PSL) e seus novos amigos. Ele é um dos principais nomes do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) no Ceará. Faz parte do jogo. Há uma imensa disposição de empresários e políticos de se aproximarem da nova Corte. Um dia já foi um tucano, um dia já foi um petista.

 

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