Bolsonaro e a conquista do Nordeste
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Bolsonaro e a conquista do Nordeste

2018-11-18 00:00:00
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Não, o Governo Bolsonaro ainda não começou, por mais que a agenda da oposição, ainda dolorida pela derrota e já em campanha, queira antecipar a posse e os desgastes inerentes ao Poder. No caso dos médicos cubanos, um exemplo clássico. Ainda também que indícios haja pelas nomeações feitas até agora. Bem ou mal, ele desfruta um pouco do entremeio no qual pode surfar na onda dos 57 milhões de votos conquistados na urna, aquela que em má hora pôs em suspeição. Ante um Congresso cuja relação não se constrói na "prensa", é o apoio popular seu maior patrimônio. Perecível, mas ainda fresco.

 

Ele sabe que a maré a favor tem o tempo exato de a economia estar em mar flat, ou seja, calmo, sem ondas, liso (no sentido literal, bom que se diga), como se descreve no surf. Foi a tragédia econômica a sentença de morte do Governo Dilma e da relação fluida do PT com a classe média, aquele segmento que trabalha loucamente para apenas se manter e não suporta ver a nau à deriva. Tanto que levou a capitã à prancha ao avistar o iceberg. Isto explica as escolhas refinadas de Bolsonaro na economia, área da qual não entende necas, mas nem precisou, por conta do debate fácil, limitado, no mais das vezes, às pautas menos prementes para a maioria dos cidadãos.

 

A nomeação de Roberto Campos Neto para o Banco Central e a manutenção de Mansueto Almeida no Tesouro Nacional - os nomes confirmados até o fechamento deste artigo - foi lida pelo mercado - aquela instância abstrata e demonizada por quem julga dela ser indiferente - como um golaço, não somente um gol. O cofre na beira da pista é robusto e há expectativa de virarem investimentos no novo cenário. Novos negócios, novos empregos. Aliás, eis uma área - a econômica - na qual inexiste margem para concessões partidárias. O cumprimento deste princípio por Bolsonaro é um alento para o desdobro desta equipe. Leiam-se, por exemplo, os bancos públicos e sua imensa capacidade de mover a economia, na simétrica condição de sabotá-la. Sabe os campões nacionais da Era Dilma?

 

No âmago das escolhas a serem feitas, estão instituições como o Banco do Nordeste (BNB), um braço determinante para que a nova gestão consiga resultados na região, uma parte do País historicamente subestimada pelo Poder Central, a despeito de seu potencial econômico, criativo e eleitoral. No dizer do economista Célio Fernando Bezerra Melo, oriundo dos quadros do BNB e mais do que observador atento - ele liderou dentro da equipe de Maia Júnior no time de Camilo Santana o desenho de reforma da previdência - é fundamental uma agenda integrada com os estados da região.

 

Ele afirma que água continua sendo a maior riqueza, com ou sem dessalinizadores de Israel, mas educação é o salto, com pesquisa em tecnologias de ponta. "O exemplo fiscal do Ceará deve ser exemplo com também a resolução da Previdência. O turismo do mar deve ter competitividade com o Caribe. Instituições precisam ser fortalecidas com meritocracia e modernização, incluindo a pujança do BNB e uma revisão e fusão das demais", diz ele.

 

O novo Governo ainda carrega vácuos da campanha, quando o que deveria ter sido discutido não foi. Nem pelos vencedores e nem pelos derrotados. Prevaleceu em vez de programas de Governo claros a tradição de fazer apenas cartas de intenções. Portanto, se há vacuidade herdada da campanha, que a nova gestão perceba que o papel de desenvolvimento e do planejamento faz parte deste novo momento, como nunca.

 

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