A chance de ir além do tenentismo
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A chance de ir além do tenentismo

2018-10-21 00:00:00

Votações expressivas em eleições para o Executivo significam lastro no cheque em branco concedido pelos eleitores. Vitórias em primeiro turno dobram o cheque especial. E reeleições em primeiro turno então nem se fala. Este é o caso de Camilo Santana, ainda no PT. Camilo tem a oportunidade de entrar para a história. Oportunidade é bola na marca do pênalti. Se Camilo vai chutar e marcar aí são outros 500. Ou melhor, outros 3,4 milhões de votos.

 

Muito dificilmente a segunda gestão é melhor do que a primeira. A senha para contradizer este destino é mexer no time sem cerimônia, como fez na metade do primeiro Governo. E agir sem medo de desagradar interesses não-públicos, os corporativos, por exemplo. Neste segundo mandato, a começar em janeiro de 2019, o governador terá as circunstâncias favoráveis para que sejam tomadas medidas fortes. Decisões cujos efeitos sejam de Estado, não de uma gestão. Leiam-se uma reforma da previdência, uma fiscal e uma administrativa. Um conjunto capaz de revolucionar a economia estadual, amainando a dependência da Brasília hostil que se avizinha. No assoalho do Palácio da Abolição, terá de pisar no histórico fisiologismo partidário, esparramado na aliança monstruosa criada com o pragmatismo de quem mira apenas na vitória.

 

Não se trata de autoafirmação, mas de espírito público - dadas as necessidades do Estado - e construção de uma marca política própria. 

 

Enquanto integrante do grupo da família Ferreira Gomes, mal comparando, Camilo é como um país membro não permanente no Conselho de Segurança da ONU. Tem poder apenas durante o mandato, mas depois fica menor. O fundamento sanguíneo de um clã já o exclui. Camilo é Santana.

 

A propósito, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, é Rodrigues Bezerra. Tanto um como outro têm dado provas seguidas de lealdade à família mais poderosa da política cearense. Mas, jovens que são, têm sonhos que vão além do papel de tenentes. Ainda mais em tempos de capitão, tanto lá como cá. Roberto tem mais dois anos. Camilo mais quatro para não acabarem suas gestões envelhecidos.

 

JOGO RÁPIDO

 

Se agregar e segregar. Antíteses quase homófonas. Neste clima eleitoral irrespirável, a segregação ganha com folga. É alimentada por ambos os lados da contenda e assim deverá permanecer ao longo do próximo governo.

Uma reforma, no capricho

 

Quem se preocupa mais com o País do que com o partido, torce para que o próximo Governo apresente ao distinto público uma proposta racional de reforma da previdência. No dizer de um economista com visão além do alcance das paixões, não tem mistério: é preciso uma regra de transição dura, limites para acumular aposentadorias com pensões, limites para valor de pensão, definição de idade mínima, tratar dos regimes especiais e ver o custo de transição para um regime de capitalização. A propósito, não se deve alimentar a esperança de uma reforma mais branda do que a atual. Será difícil.

 

Seguir com a proposta atual economizaria tempo. Já no primeiro semestre de 2019 poderia sair uma reforma da previdência aprovada e modificada no Senado, com os ajustes indicados pelo novo Governo. Uma nova proposta de reforma começando do zero terá a favor o frescor de uma nova gestão. 

 

Entretanto, levará mais tempo. O percurso volta algumas casas, com novas audiências públicas na Câmara e no Senado. E então, nada acontecerá antes do segundo semestre de 2019 ou primeiro semestre de 2020.

Jocélio leal

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