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Roleta-russa
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

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Mais de uma semana se passou desde a queda definitiva da seleção, mas ainda me pergunto: e se aquela bola de Renato Augusto tivesse entrado? E se o chute meio torto de Thiago Silva logo  no começo do jogo houvesse batido na trave e depois rolasse vagarosamente pra dentro do gol? E se Coutinho tivesse acertado o pé naquela jogada na qual mandou a pelota pra linha de fundo?

 

A tentação de reescrever a história é grande. Daquela sexta-feira pra cá, tenho me flagrado inconscientemente repassando momentos de Brasil x Bélgica. Ligo no SporTV e revivo aqueles erros, revejo as reprises mais de uma vez e torço pra que Neymar evite cair. Nesse futuro alternativo, o atacante empata a partida e leva a decisão para prorrogação. Depois é pênaltis. E penal, mesmo na imaginação, é pura sorte.

 

Sozinho diante da TV, ordeno a Paulinho que faça falta em Lukaku e mate o lance que resultaria no segundo gol dos Diabos Vermelhos ainda no primeiro tempo, fazendo disparar o gatilho do medo de um novo vexame em Copa do Mundo. A ameaça do passado assombrando o presente.

 

Ocioso dizer que tudo é vão, o jogo segue exatamente como foi ao vivo, com o placar desfavorável eliminando o Brasil ao cabo dos 90 minutos de uma peleja no curso da qual os comandados de Tite não perderam o controle, é verdade.  Mostraram-se irredutivelmente serenos, mestres da inteligência emocional. Saíram derrotados, mas prontos pra estrelarem comerciais de xampu sem que suas imagens tenham sido arranhadas com o fracasso – a exceção é Neymar, que terá muito trabalho pra desfazer a péssima impressão que o seu talento cênico deixou.

 

A Copa chega hoje a seu desfecho. Como na melhor literatura russa, um desenlace improvável: França x Croácia. Uma nova potência contra um azarão. A lógica é que os “azuis” vençam e se tornem bicampeões, mas a lógica não tem frequentado os gramados russos desde o início do torneio.

 

Talvez seja o caso de esperar a reprise do jogo de logo mais para tentar entender melhor o que acontece ao vivo, com a partida se desenrolando diante dos nossos olhos. Afinal, essa é uma das características desta Copa: todos vamos precisar de tempo ainda pra entender o que está acontecendo no futebol.

 

Foto do Henrique Araújo

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