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O difícil casamento dos FG com Eunício
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

O difícil casamento dos FG com Eunício

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Nada mais simbólico que uma igreja tenha servido de cenário para declarações sobre costuras políticas no Ceará. Foi no último domingo, durante o aniversário do governador Camilo Santana (PT). Na igrejinha de Nossa Senhora da Assunção, no bairro Vila Velha, antigos desafetos e amigos de última hora reuniram-se para ajudar o governador a soprar 50 velinhas. Cada qual a seu modo, alguns visivelmente sem jeito. Mas é a política, e ela é dinâmica, como dizia Gonzaga Mota.
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O FUTURO DA ALIANÇA CAMILO/EUNÍCIO

Eunício Oliveira (MDB), um dos presentes à cerimônia, está forçando o namoro com o PDT? O emedebista está prestes a mudar o status do MDB no Ceará para “relacionamento sério” com o bloco cidista/cirista/camilista, mas, do outro lado, tem esbarrado em declarações ambíguas ou insuficientes. O presidente do Senado tem dado mostras evidentes de que flerta com a aliança, sugerindo inclusive um arco nacional de apoio ao pré-candidato Ciro Gomes (PDT), outro dos que cantaram parabéns para Camilo. E todos vimos o quão disposto Eunício está.

No auge da crise dos caminhoneiros, por exemplo, o líder do Congresso deixou Brasília para viajar ao Ceará, onde participaria de evento ao lado do governador. Mal pisou em solo alencarino, porém, foi avisado de que o País estava de pernas pro ar e que os líderes da paralisação exigiam que o Senado votasse imediatamente a redução de impostos sobre o diesel, já aprovada pela Câmara. O parlamentar deu meia-volta e tornou a entrar no avião rumo ao Distrito Federal.

Resumo da ópera – ou da missa. A relação entre MDB e PDT/PT pode dar em casamento, sim, mas os indícios até aqui levam a uma preocupação, se não aberta, pelo menos implícita. Como se, na entrada da igreja, o noivo desconfiasse de que a noiva não está muito a fim e se perguntasse se vai ser abandonado no altar. O que faz, então? Paga pra ver? Desiste antes da hora?

Os Ferreira Gomes já deixaram outro nubente esperando às portas do enlace matrimonial: o senador Tasso Jereissati. Foi em 2010. Não faz um mês, o tucano confidenciou que nunca se sentira tão sozinho na política. Essa solidão de que agora se ressente começou naquele ano ao sofrer a rasteira do grupo. De lá pra cá, recuperou-se do baque e voltou a se enamorar da política, mas os estragos do rompimento permanecem.

É NAMORO OU AMIZADE?

Até aqui, apenas Camilo parece animar-se com a perspectiva de ter o ex-adversário Eunício a seu lado na corrida eleitoral. Pudera. Facilita a vida do governador, cuja base tem engordado a uma proporção espantosa, chegando a um estágio de obesidade partidária – reúne 24 dos 35 partidos existentes no Brasil.


Também desafoga recursos para o Estado. Afinal, como presidente do Senado, Eunício tem se empenhado pessoalmente em ajudar a liberar verba represada, desanuviando o céu do petista num ano de escassez de água e de dinheiro.

Daí que o petista ande sorrindo mais nas fotos ao lado do emedebista do que os Ferreira Gomes, que, por enquanto, têm evitado dividir com Eunício até o mesmo banco na igreja, quanto mais um palanque em horário eleitoral.

A FALTA DE UM VETO CLARO

Por outro lado, não há até aqui um veto claro a Eunício por parte do bloco, tampouco um aceno direto de Ciro à presença do senador. É óbvio que a presença do emedebista na chapa causa embaraço. Quer dizer, constrangimento. E talvez constrangimento seja uma palavra ainda muito branda: a aliança do PDT com Eunício, caso se concretize, é um vexame para as pretensões eleitorais de Ciro.

Seja no plano local ou nacional, o pedetista não tem nada a ganhar com isso. Pelo contrário, confrontada com a realidade, a retórica que o ex-ministro tem adotado vira conversa de botequim. Num momento delicado da pré-campanha e com Lula virtualmente fora da parada, é tudo que Ciro não deseja.

Certo que Eunício tem se esforçado em facilitar a vida de Ciro. Por exemplo, quando o presidente do Senado critica o da República Michel Temer (MDB) em termos tão duros, como o fez na semana passada e agora repete, está pavimentando o próprio caminho e o de Ciro também. Como se dissesse: eu detesto esse presidente tanto quanto você e quase 90% dos brasileiros.

Bom, isso é apenas meia-verdade. Eunício é umbilicalmente ligado a Temer. O parlamentar esteve com ele nos momentos decisivos nos últimos dois anos, do impeachment até as delações dos irmãos Batista. Agora, porém, com o barco temerista indo a pique velozmente, o cearense procura um bote salva-vidas no encouraçado dos Ferreira Gomes. O risco de ficar a ver navios é grande.

 

Foto do Henrique Araújo

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