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Caçada a Temer ganha novo capítulo
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Caçada a Temer ganha novo capítulo

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Voltou a se fechar o cerco ao presidente Michel Temer (MDB). Um dia depois do lançamento de um manifesto político em apelo à união da meia dúzia de candidaturas de centro, o emebista viu as investidas da Polícia Federal se aproximarem ainda mais.

 

Agora, com pedido de quebra de sigilo telefônico, medida que, se concedida, será inédita na República. Nunca antes na história do País um presidente teve seu sigilo de registro de ligações quebrado. A ação agora está no colo do relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin. A ele cabe autorizar ou não a devassa, que se estende também aos ministros Moreira Franco (Minas e Energia) e Eliseu Padilha (Casa Civil).

 

Temer é alvo de dois inquéritos no Supremo, um que investiga repasse irregular da Odebrecht no valor de R$ 10 milhões ainda em 2014, quando o emedebista disputou a vice-presidência na chapa de Dilma Rousseff (PT). E outro que apura malfeitos na edição do decreto dos portos, de abril do ano passado – o presidente prorrogou a renovação de concessões de 25 para 35 anos. Entre as empresas beneficiadas, está a Rodrimar, cujo presidente é suspeito de operar maracutaias sob as graças do Planalto quando Temer já dava as cartas em Santos.
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O caso dos portos está bem avançado. E o pivô das investigações é o coronel João Baptista Lima Filho, espécie de testa de ferro que vem prestando serviços a Temer há mais de três décadas. Como num passe de mágica, pingaram somas vultosas nas contas do coronel: R$ 20 milhões aqui, outros R$ 3 milhões acolá e mais R$ 500 mil numa terceira. Nada de offshore ou paraíso em fiscal, como o engenhoso esquema comandado por Eduardo Cunha, hoje preso em Curitiba. Previdente, o coronel aposentado da PM guardou seu dinheiro no Bradesco e no Banco do Brasil. Tudo em casa.

 

Até agora, todas as peças do quebra-cabeça convergem para Lima, das delações de executivos da Odebrecht ao material colhido pela PF na Operação Skala, que encontrou documentos relacionados à reforma de um imóvel pertencente à psicóloga Maristela Temer, filha do presidente. Instada a depor à Polícia, Maristela afirmou que Lima se encarregara das benfeitorias de sua casa apenas por camaradagem ao presidente. Certo. E aquela dinheirama encontrada no apartamento do Geddel era resultado apenas sucessivas rodadas de Banco Imobiliário.

FORA, MDB

Falando no MDB de Michel Temer, o pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) tornou a desancar o partido, a quem chamou de “quadrilheiros”. Foi durante sabatina promovida ontem pelo jornal Correio Braziliense. “Ladrão do PMDB vai me fazer oposição”, disse o pedetista. E Eunício?, quiseram saber. Ciro desconversou e pediu a próxima pergunta.

 

Noves fora a declaração de Cid Gomes a Eliomar de Lima segundo a qual o PDT vai com um candidato ao Senado, fato é que a estratégia do grupo está clara: jogar o presidente do Senado no colo do governador Camilo Santana (PT). Quem pariu Mateus que o embale.

 

Ciro também ligou a artilharia contra o candidato do PSL Jair Bolsonaro, que lidera todas as pesquisas feitas por enquanto. O ex-ministro chamou o ex-capitão do Exército de “boçal” e “tresloucado”.

CIRO X BOLSONARO OU PT X PSDB?

Até aqui, a estratégia de crescimento do pedetista no primeiro turno é usar Temer como saco de pancadas (bater no presidente é o verdadeiro esporte nacional) enquanto polariza com Bolsonaro, deixando Geraldo Alckmin (PSDB) de escanteio – o tucano patina abaixo dos 10% e tem problemas sérios de confiança a resolver dentro do próprio ninho.

 

O plano cirista vai funcionar? As próximas sondagens de intenção de voto dirão.

 

A intenção do ex-governador do Ceará, todavia, parece correta: romper com o dualismo PT-PSDB nas disputas pela Presidência, um jogo que, bem ou mal, vem definindo todas as campanhas desde a redemocratização, mas chega em 2018 com as duas legendas claudicantes depois do furacão Lava Jato.

 

Sem o apoio da sigla de Lula e à espera de um sinal verde do PSB, Ciro vai fazendo o que sabe de melhor: um pugilato de ideias e, quando a temperatura esquenta, xingamentos. A depender do adversário, modula o discurso. Por enquanto, tem se saído bem. Mas ainda faltam 44 dias para as convenções partidárias. É cedo pra falar.

 

Foto do Henrique Araújo

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