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A política da gambiarra e as eleições
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

A política da gambiarra e as eleições

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Aliança política também é feita de gambiarra. É o que se vê agora, por exemplo. Eunício Oliveira (MDB) diz que sim, Ciro Gomes (PDT) diz que não e Cid (PDT) fala que talvez, quem sabe, na frente a gente conversa etc.

 

A cizânia, claro, é eleição. Cabe um emedebista na chapa de Cid e Ciro? O ex-governador tem sugerido que a presença do presidente do Senado é tóxica à candidatura presidencial do irmão, hoje prioridade para o grupo no Estado.

 

De fato. Cid tem razão. Estrategicamente, é disparatada qualquer hipótese de coligação com um partido que apoiou o que Ciro vem trovejando aos quatro ventos como “golpe”, ou seja, o impeachment de Dilma Rousseff. E Ciro tem sido até desinteligente nesse ponto, reiterando esse discurso num momento em que até o PT já deixou de lado a narrativa golpista e Lula costura dobradinhas em estados do Nordeste com parlamentares da legenda que deram sustentação crucial à derrubada da petista.

 

Para Ciro, todavia, é interessante manter certo escrúpulo, como a dar a entender que ele, sim, é homem de esquerda, o que o ajuda a vender-se como oposição a Michel Temer (MDB) e a estabelecer conexões com siglas como PSB e PCdoB. É inteligente como tática eleitoral.

 

E aí vem Eunício melar os planos ciristas. Que fazer, então? O grupo dos Ferreira Gomes acha que encontrou uma saída ideal: que tal se, oficialmente, afirmarmos que não há aliança com o MDB, mas, extraoficialmente, abrirmos espaço para que o governador Camilo Santana (PT) se encarregue de jogar sozinho a água no moinho eunicista?

 

Também parece uma estratégia inteligente. Apenas parece. Para dar certo, depende de uma combinação de variáveis que incluem o PT, a oposição e, último caso, os eleitores. Num estado majoritariamente lulista como o Ceará, a quem caberá carregar o ônus de pedir votos para Eunício?

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O RISCO DE UMA ALIANÇA INFORMAL

Para Cid e Ciro, o risco é nenhum. Faturam indiretamente porque a presença do presidente do Senado como virtual aliado ajudou a desarticular a oposição no Ceará. A parceria de 2014 (PR/MDB/PSDB) foi pras cucuias, Tasso tenta emplacar o General Theophilo e o Capitão Wagner (Pros), que disputa vaga na Câmara dos Deputados, é voz solitária na Assembleia Legislativa, hoje um apêndice do Palácio da Abolição. De blocão quatro anos atrás a bloquinho agora, a oposição foi minguando até chegar ao estado de penúria.

 

Camilo também ganha porque elimina um foco de resistência a seu governo e amplia sua base de apoio, a maior da história no Ceará desde a redemocratização, como mostrou o repórter Wagner Mendes neste O POVO outro dia.

 

E Eunício? Leva o quê? Bom, aí é mais complicado. O emedebista tinha a pretensão de integrar a chapa governista, mas vai ter de se contentar com uma gambiarra. Verdade que Cid prometeu eterna gratidão a quem apoiar Ciro na campanha. Gratidão, sim. Compromisso, não. E candidato não pode depender apenas de boa vontade. Precisa de apoios, tempo, dinheiro e votos.

Eunício tem uma boa base no Interior e dinheiro pra bancar a campanha, mas conseguirá se descolar de Michel Temer no Estado? Terá apoio suficiente do clã? Sem querer, o emedebista, ao abandonar o barco da oposição, talvez tenha se colocado numa posição de extremo risco.

 

E O PT COM ISSO?

Volto a falar de 2010. Não é por acaso. As condições políticas no Ceará eram parecidas com as de hoje, os atores também e os dilemas, idem – apoiar ou não Tasso na disputa ao Senado? Cid Gomes, então governador pelo PSB, mantinha conversas informais com o tucano, que tentava a reeleição, mas esbarrava na antipatia de Ciro e no veto expresso do PT.

 

Não custa perguntar: e se, diante das afirmações de Cid segundo as quais a chapa vai sair com um nome apenas ao Senado, o PT reivindicar a segunda vaga no bloco governista? Hoje, sabe-se que uma banda do partido capitaneada pelos deputados federais Luizianne Lins e José Guimarães deseja isolar Eunício e eleger um nome para o lugar de José Pimentel, caso ele mesmo não se lance na disputa.

Terão força para dobrar Camilo?

 

Foto do Henrique Araújo

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