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A histeria do dólar ante Ciro e Bolsonaro
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

A histeria do dólar ante Ciro e Bolsonaro

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O mercado acordou e está nervoso. A histeria tem lá seus motivos. O primeiro colocado nas pesquisas de intenção de votos, Jair Bolsonaro (PSL), é um liberal de fachada – o ex-capitão do Exército costumava votar com o governo petista. No segundo pelotão despontam Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), cujas promessas de revogar o teto de gastos e repensar a Previdência assustam quem apostou no país reformista vendido por Michel Temer (MDB) dois anos atrás, quando o Planalto esperava chegar a junho de 2018 colhendo o fruto das medidas que saneariam a economia e devolveriam o Brasil aos trilhos do crescimento. Ledo engano.

Nas sondagens feitas até aqui, os “nomes” do mercado vêm na rabeira, com Geraldo Alckmin (PSDB) à frente, mas sob desconfiança crescente do próprio partido, e Rodrigo Maia (DEM) patinando entre o zero e a inexpressividade. Além dele, Henrique Meirelles (MDB), que não figura sequer no terceiro grupo de pré-candidatos, enfrenta um “fogo amigo” pesado que pode eliminá-lo antes mesmo da largada.

E o centrão? Bom, o centrão, sob a batuta de Maia e o beneplácito de Fernando Henrique Cardoso, lançou manifesto nesta semana na tentativa de aglutinar essas forças mais volúveis em torno de um nome do campo, mas quem? E quando? Ninguém sabe.

A poucos meses das eleições, o cenário não apenas está excessivamente aberto, como também favorável a poucas candidaturas. Bolsonaro e Ciro. E Lula, vá lá. Com o petista virtualmente fora da disputa, salvo alguma reviravolta jurídica por ora descartada, a dupla encena um duelo que pode se tornar mais duro e frequente.

Aqui e ali, Alckmin até tenta meter a colher na fervura, é verdade, mas o tucano é morno. Não tem a têmpera mercurial de Ciro, tampouco a verborragia inconsequente de Bolsonaro. Entre os dois polos, o ex-governador de São Paulo resta apático, no que faz lembrar o velho estilo “picolé de chuchu” ao jogar parado e esperar que o tempo opere algum milagre.

Ora, natural que o dólar dispare e os juros cresçam num ambiente de volatilidade no qual as cartilhas pró-reformas (previdenciária e trabalhista, sobretudo) estão sendo rejeitadas pela maioria dos brasileiros e segmentos como os dos caminhoneiros têm expressivo apoio popular quando decidem emparedar presidente e governadores.

O mercado então reage, avinagrado. E seu humor tem piorado à medida que o pleito se avizinha e os caminhos até as urnas se estreitam. Sem Joaquim Barbosa, candidato a outsider, a tendência é que a partir de agora o eleitorado passe a se concentrar nos nomes que se mostram mais visíveis, distinguindo-se, seja pela competência, seja pela estridência, da miríade de competidores.
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E, novamente, quem se sobressai nessa pândega que tem sido a pré-campanha? Bolsonaro e Ciro. Um pelo ideário feito sob medida para atender um tipo de eleitor mais conservador e pouco tolerante com os malfeitos da classe política expostos pela Lava Jato. E outro por reunir qualidades administrativas e experiência, mas também pela falta de opções na centro-esquerda.

Esse coquetel é explosivo: governo frágil (o cerco do Supremo se fechando), suspensão da agenda econômica (a pauta travada no Congresso), efeitos da greve dos motoristas de caminhão (o pacote de promessas desmontado), economia aos pandarecos.

E os candidatos ligados direta ou indiretamente ao governismo assistindo de camarote aos sopapos entre um pavio-curto em versão mais comedida e um fanfarrão suavizado.

O PACOTE VIROU PESADELO

O pacotão de Temer para os caminhoneiros virou pesadelo para o governo. Das quatro medidas prometidas à categoria após mais de dez dias de paralisação e desabastecimento no País, nenhuma deve vingar plenamente, o que adiciona ainda mais instabilidade à corrida eleitoral. Nova tabela de fretes, redução de R$ 0,46 no diesel, isenção no pedágio para o eixo suspenso e previsibilidade no reajuste das tarifas na bomba – dessas propostas, uma é irreal, outra é parcial e as outras duas estão sendo questionadas na Justiça.

Outro efeito danoso do pacote: uma briga entre agências reguladoras, ministérios, postos e setores que representam o agronegócio. É o retrato de um governo moribundo.

 

Foto do Henrique Araújo

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