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Quem ganha e quem perde com a greve
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Quem ganha e quem perde com a greve

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Mesmo ainda não totalmente encerrada, a paralisação dos caminhoneiros já aponta claramente vencedores e derrotados políticos. Deflagrado há nove dias, a greve emparedou o governo Michel Temer, que perdeu o pouco capital que ainda lhe restava: o econômico. A crise dos combustíveis sepultou qualquer hipótese de uma candidatura oficial, seja com o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), seja com o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM).

 

Chamado ao Planalto para ajudar a desatar o nó da greve, Meirelles não ajudou em absolutamente nada. Nem podia. Fora do governo a fim de viabilizar sua pré-candidatura, foi atropelado por um terremoto de péssimos indicadores, do emprego ao PIB, passando pela manutenção dos juros pelo Banco Central. Se o emedebista tinha a intenção de surfar na melhoria do cenário econômico do País a poucos meses das eleições, é melhor repensar a estratégia para 2018.

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Rodrigo Maia não se sai melhor dessa greve. Chamuscado depois do erro de cálculo primário da votação do projeto que zera PIS/Cofins até o fim do ano, o parlamentar passou a imagem de quem tentou capitalizar o protagonismo e se projetar numa eventual disputa interna dentro do bloco governista. O tiro saiu pela culatra.

 

O mesmo vale para Eunício Oliveira (MDB). Ainda que o presidente do Senado haja tentado saltar a fogueira ao criticar duramente Temer desde o início da paralisação e depois pedido a cabeça do presidente da Petrobras Pedro Parente, o que ficou foi a lambança – no meio do tiroteio, o senador deixou Brasília e viajou ao Ceará, mas, acossado pelos caminhoneiros, precisou voltar no mesmo dia. Depois disso, esboçou uma reaproximação com o presidente e até tentou tirar uma casquinha na reta final ao participar das rodadas de acordo com os sindicatos da categoria.

 

O próprio Parente está agora muito menor do que quando assumiu o comando da Petrobras, pouco tempo atrás. Artífice da política de flutuação do preço do combustível indexado ao dólar que levou a sucessivos aumentos e a uma crise sem precedentes, o presidente da estatal tem a cabeça a prêmio. Hoje, só permanece no cargo porque exonerá-lo teria um custo maior ainda. Seria um sinal inequívoco de capitulação do governo, que já cedeu em tudo que podia na pauta dos manifestantes – não deixou a cadeira, é verdade, mas os caminhoneiros talvez tenham entendido que seja melhor esperar até outubro.

 

Os governadores também não ficaram muito bem nessa fita. Embora tenham permanecido a maior parte do tempo calados, com receio de chamarem atenção num momento tão delicado, os gestores foram atingidos por estilhaços. A estratégia usada pelos chefes de Executivo estaduais foi clara: esperar e depois jogar a batata quente no colo do governo federal. Apesar disso, tal como em 2013, não sobrou pra ninguém, e até quem se manteve pianinho precisa agora explicar por que não pretende reduzir o ICMS do combustível. No bolo que forma o preço do diesel, por exemplo, é esse imposto que mais pesa. Então, qual a desculpa para que os estados não queiram reduzir um percentual que seja nessa alíquota?

 

No meio desse cenário de terra arrasada, apenas dois políticos ganharam com a greve. O governador de São Paulo, Márcio França (PSB), e o pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL). França porque traçou uma agenda populista de aproximação com os movimentos exatamente num momento em que Temer ainda acreditava que a paralisação havia terminado. Com isso, o pessebista esteve quase sempre dois passos à frente do Planalto, o que o cacifa na disputa pelo governo paulista.

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E Bolsonaro por razões óbvias: o ex-capitão do Exército surfou nas palavras de ordem dos caminhoneiros que pediram intervenção militar. Pesquisa do Ibope feita somente com eleitores de São Paulo durante a greve mostrou que o deputado cresceu cinco pontos percentuais, empatando tecnicamente com Lula (PT). Todos os demais pré-candidatos ou se mantiveram no mesmo patamar em relação à pesquisa anterior ou caíram.

 

Foto do Henrique Araújo

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