Logo O POVO+
Decisão isola Tasso e complica o general
Foto de Henrique Araújo
clique para exibir bio do colunista

Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Decisão isola Tasso e complica o general

NULL (Foto: )
Foto: NULL

 

Comunicada ontem, a ida de Domingos Filho (PSD) para a base de Camilo Santana (PT) tem dois efeitos práticos – ambos devastadores para a oposição ao petista no Ceará. Um, fortalecer a reeleição do governador, cujo leque de partidos aliados cresce à medida que o pleito se aproxima. O segundo: ofuscar o lançamento do candidato adversário General Theophilo. Foram dois coelhos com uma cajadada só.

Apenas oito meses depois de perder a batalha que travou com o grupo dos Ferreira Gomes contra a extinção do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), Domingos volta ao seio do governismo. O retorno, cedo mas não inesperado, isola Tasso Jereissati (PSDB), que já havia amargado deserção de Eunício Oliveira (MDB), e cria dificuldades extras para o postulante tucano, que agora tem de se virar sem os ex-parceiros.

Não deve ter sido uma decisão das mais fáceis para Domingos. Em dezembro de 2016, o então presidente do TCM patrocinava uma manobra atabalhoada: o apoio indireto ao deputado estadual Sérgio Aguiar (PDT) na disputa pelo comando da Assembleia Legislativa do Estado. Derrotado, o que se seguiu foi uma blitzkrieg palaciana que não deixaria pedra sobre pedra e cujo desfecho seria o fim do TCM e o ostracismo do próprio Domingos, além da captura de figuras-chave da oposição pelo Abolição, como o deputado Audic Mota (MDB).

A adesão do ex-presidente do TCM ao “cidismo” encerra ainda uma novela cujo enredo se arrastou até outubro do ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) finalmente pôs fim à querela da extinção do TCM, rejeitando por 8 votos a 2 pedido de liminar que defendia a manutenção da Corte de Contas.
[FOTO1]

OS REVESES DA OPOSIÇÃO

De lá pra cá, a oposição no Ceará acumula derrotas em série. Desidratada, vê-se hoje reduzida a vozes solitárias. A demora na urdidura de uma estratégia eleitoral e no lançamento de um nome, combinada à inexpressividade do candidato finalmente escolhido (um forasteiro, a bem dizer), pressagia cenário de estiagem para o bloco oposicionista.

Tasso, que agora reclama de isolamento, tem parcela de culpa nisso. Houvesse acolhido o desejo de seus aliados de que ele mesmo entrasse na disputa contra Camilo, o cenário talvez fosse outro. O tucano, porém, tinha planos mais ambiciosos, entre os quais a briga pela presidência do PSDB. Ao fim da refrega nacional, porém, acabou destituído por um debilitado Aécio Neves. E agora assiste ao esfacelamento do seu grupo. Definitivamente, 2017 não foi um bom ano para o “galego”.
E 2018 se mostra, no mínimo, desafiador.

A POLÍTICA DAS TRAIÇÕES

O jogo político é marcado sobretudo por traições, disso não resta dúvida. No Ceará, então, essa tem sido a tônica nos últimos anos. Os rompimentos mais rumorosos - e não foram poucos - são motivados por viradas como a protagonizada por Domingos Filho e seu grupo, no qual se destaca ainda o filho, deputado federal Domingos Neto.

Em 2010, após sofrer sua primeira derrota em 24 anos, Tasso declarou que deixaria a política para cuidar dos netos. A dedicação exclusiva às crianças, porém, durou pouco, e o tucano voltou quatro anos depois para se eleger senador. Ontem, o empresário desabafou: disse que jamais se sentira tão sozinho. Há, de fato, um ineditismo nisso.

OS PAPÉIS DE CID

Curioso também os papéis - local e nacional - que Cid Gomes desempenha na conquista de Domingos. Dedicado nos últimos dias a conversas com deputados do PSB, o ex-governador trabalha nos bastidores para ampliar o conjunto de siglas liderado por Ciro Gomes – além do PSB, há um flerte com o PP do senador Ciro Nogueira e o PCdoB de Manuela D’Ávila.

A MELHOR CHANCE DE CIRO

Ciro Gomes nunca esteve tão perto do Palácio do Planalto. A menos de cinco meses das eleições, o pedetista tem faca e queijo nas mãos. De temperamento mercurial e gestos às vezes desastrados, pode ocorrer de se cortar e acabar deixando a disputa. Mas também pode acontecer de o pré-candidato continuar a manejar bem as ferramentas de que dispõe. Pelo andar da carruagem, o ex-governador vai dando passos firmes rumo a um eventual 2º turno. Há muitos fatores que lhe favorecem. E outros tantos contra. Amanhã volto ao assunto.

Foto do Henrique Araújo

Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?