Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
O ano termina, e faço mentalmente uma retrospectiva visual do meu país, o Ceará. As imagens que marcaram nossa vida nativa, do hipotético “Zoio de Iracema”, a roda-gigante a ser instalada no espigão da praia homônima, à farra dos vereadores que aprovaram emendas à Lei de Uso e Ocupação do Solo para beneficiar patrocinadores de campanha. Do dia de se vestir igual ao Agostinho Carrara ao melhor show do ano: um tributo ao volume 3 do Aviões do Forró.
Foi um ano de euforia na terrinha, que viveu dias de “ame-a ou deixe-a”. Tudo convidou à problematização: hub, glitter, Getúlio Abelha, facções, José Avelino, futebol, Casa do Barão e Praia dos Crush. Um ano que começa com uma discussão filosófico-carnavalesca (o que é um bloco?) e termina com uma pergunta: vai ter Belchior?
Ano de ranço, de treta e de arenga, nas ruas e nas redes. Ano de reafirmação de um velho traço do cearense: o “paroquialismo”, que, entre nós, se traveste de sofisticação e cultura avant-garde. Ano em que aliados e opositores descobriram que é melhor dividir a rapadura.
Foi também o ano em que o Ronda do Quarteirão acabou. Se oficialmente os PMs ainda se vestem com o azul-bebê desenhado por Lino Villaventura a pedido de Cid Gomes, na prática, as viaturas com tração nas quatro rodas foram progressivamente substituídas por modelos mais baratos. É o fim da era das Hilux.
E o início do primado do Raio, a tropa motorizada a cargo de quem repousa agora a chama olímpica da paz no Ceará e a responsabilidade por zelar por nossa segurança. Trocamos a ostentação a la Cid pelo pragmatismo a la Camilo. Mudamos não apenas de carro, de farda e de discurso, mas de poética: sai o enfrentamento típico dos Ferreira Gomes, entra o “camilismo”, uma escola de pensamento cujas bases se assentam na acomodação de múltiplos interesses sob a bandeira da gestão despassionalizada.
De tudo que vimos, extraímos a seguinte lição: ainda que caiam pedras de gelo do céu, o nativo encontrará um meio de se dar bem
E aqui um parêntese. Como nenhum outro político, Camilo operou uma alquimia eleitoral em 2017: fundiu João Doria e Fernando Haddad. O tarefeiro tucano e o político de esquerda. O homem público e o negociador de alianças estratégicas. Halder Gomes e Zezinho Albuquerque.
Enfim, este foi um ano no curso do qual o cearense encontrou motivos para rir (com a história da mulher que celebrou a Páscoa dentro do ônibus) e festejar (o ano se encerra com uma chuva de granizo em Parambu). De tudo que vimos, extraímos a seguinte lição: ainda que caiam pedras de gelo do céu, o nativo encontrará um meio de se dar bem (gelando a cerveja, por exemplo).
Por essas e outras, eu só posso terminar esta crônica ao modo de João Inácio Jr., mandando pra vocês uma explosão de paz, alegria e felicidade (imaginem aquele barulhinho que o apresentador faz com a boca). Gostaram? Como diz um amigo que costumava assinar suas reportagens como Deusimar de Deus, tenho apenas um voto nesta reta final: que 2018 seja um ano show de bola.
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