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Uma transição à moda Camilo Santana
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Uma transição à moda Camilo Santana

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[FOTO1]É anormal o silêncio e a tranquilidade que envolvem a transição de governo no Ceará. Claro que o fato de ser uma continuação justificará muito da inexistência de pressão sobre Camilo Santana, que encomendou estudos, contratou consultoria, entregou a tarefa exclusiva de acompanhar tudo ao atual secretário do Planejamento, Maia Júnior, tudo isso sem qualquer tipo de aperto conhecido de aliados, neoaliados ou futuros aliados. Ninguém dá um pio sobre o assunto. Maia Júnior, que conhece muita coisa sobre o que está projetado para o segundo governo Camilo, já avisou publicamente que ninguém ficará sabendo de nada através dele. Sua reação é imediata e objetiva a quem o procura buscando saber de algo sobre, pelo menos, a nova estruturação que está projetada: "procure o governador!". Assim, em tom exclamativo. Na Assembleia, onde o assunto é necessariamente acompanhado com atenção, o desconhecimento é completo, informações confiáveis não circulam porque elas, incrivelmente, não existem.

Claro que a competência que o governador há demonstrado para conter a parte oficial dos vazamentos não basta para evitar que as especulações aconteçam. Por exemplo, o deputado Tin Gomes tem demonstrado simpatia à ideia de trocar a Assembleia pela secretaria dos Esportes, ex-jogador de futsal que é. Dos bons, conforme testemunhas. A hipótese vincula-se a alternativas colocadas no contexto em que a disputa pela presidência da Assembleia, onde o pedetista está com o nome colocado no momento com chances reais, possa exigir no futuro aquele jogo de compensação por algum sacrifício em nome de uma unidade política.

Outra hipótese que andou circulando nos últimos dias e que causou calafrios em alguns líderes de setores produtivos do Ceará indicava como possível a indicação do deputado federal petista José Guimarães para o novo secretariado. Falou-se numa pasta de Desenvolvimento Agrário, que substituiria à atual secretaria de Agricultura, Aquicultura e Pesca, mas o nome, mesmo colocado ainda num nível muito especulativo, levou gente preocupada a buscar checagem da procedência dos boatos junto a fontes mais próximas de Camilo. Sem êxito, pelo que a coluna apurou.

Há mais coisa circulando. Por exemplo, discute-se muito a situação na  Fazenda, havendo uma resistência silenciosa à ideia de mais um retorno ao seu comando do deputado federal eleito Mauro Benevides Filho. Vozes do empresariado consideram-no de diálogo difícil e gostariam de um outro interlocutor na área, alguém mais paciente e sensível às conversas. O atual secretário, João Marcos, que funcionou anos como "número dois" na Sefaz, é um nome visto com boa simpatia.

No geral, enfim, o Ceará experimenta um quadro de transição que repete contextos e inaugura situações. Não há novidade na falta de nomes oficiais já anunciados, porque em outras épocas assim aconteceu e a divulgação dos escolhidos aconteceu apenas às portas da posse, como era costume acontecer com Cid Gomes, o antecessor de Camilo. Para citar um exemplo. O que chama atenção agora é que tudo isso aconteça sem qualquer curiosidade, pressão ou cobrança conhecida de aliados, deixando-se o governador à vontade para redesenhar a estrutura e definir os nomes sob uma aparente tranquilidade. O risco é de ser uma calma política apenas aparente.

O TEMPO DA LEI

O TCE pede pressa à Assembleia na análise e votação de projeto encaminhado no começo do ano estabelecendo sua nova Lei Orgânica. O presidente Edilberto Porte lembrou que a matéria está na Casa desde março e diz se manter em contato permanente com os deputados para vê-la andar, até hoje, sem êxito. Hoje, há duas Leis Orgânicas comandando os julgamentos, simultaneamente. Uma delas, herdada do extinto TCM. que baliza os julgamentos de gestores municipais.

CADA CASO É UM CASO

A conselheira Soraia Victor reclama da ginástica regimental que se precisa fazer a cada julgamento. Caso seja um gestor estadual, aplica-se uma lei orgânica e considera-se um tipo de jurisprudência consolidada, mas, quando o processo envolve um gestor municipal "precisamos trocar o chip, aplicar outra compreensão, mudar quase tudo, enfim". A preocupação é que o quadro comprometa o calendário e ajude nas prescrições. Tudo que os maus gestores querem.

SAUDADES DO MINISTRO

Foram fortes os afagos do ministro da Segurança, Raul Jungmann, no senador Eunício Oliveira, quando da inauguração do Centro Integrado de Inteligência em Fortaleza, na sexta-feira. Apesar de dizer que respeita a vontade democrática do povo, o ex-parlamentar pernambuco se afirmou "inconformado" com o fato de o atual presidente do Senado não ter renovado o mandato. Tudo, para ressaltar o apoio que teve de Eunício sempre que precisou.

A TURMA DO CONTRA

O entendimento cada vez mais afinado entre o presidente da Fiec, Beto Studart, e o governador Camilo Santana não determina o mesmo grau de entusiasmo em todos os andares e corredores do prédio da Barão de Studart. Há, ao contrário, quem se sinta bastante incomodado e reclame que a situação meio que transforma a entidade numa espécie de "puxadinho" do governo. A coluna ouviu o termo de uma fonte, durante a semana.

O PT PODE EXPLICAR

O fato de ser um governo do PT, apesar do estilo muito próprio do governador, também pesa na construção do sentimento de rejeição. Beto Studart, que não é conhecido exatamente como entusiasta do petismo, pelo contrário, reage com naturalidade às críticas pela aproximação com Camilo, que só se acentua, dizendo que elas se mantêm restritas "a um ou dois". É minoria, de fato, mas o grupo irritado com o quadro certamente passa de dois.

SANTO DE CASA

O fato de ser do quadro de servidores pode ter determinado o enfraquecimento da indicação do economista cearense Firmo de Castro para ocupar a presidência do Banco do Nordeste no governo Jair Bolsonaro. Haverá medidas que certamente precisarão de um combate ao corporativismo, imagina-se na equipe de Paulo Guedes, que assume o comando da economia com o novo governo, o que tornaria arriscado apostar em alguém com vínculo de tal nível com a instituição.

Foto do Guálter George

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