Logo O POVO+
O nome de Tasso está posto e é pra valer
Foto de Guálter George
clique para exibir bio do colunista

Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O nome de Tasso está posto e é pra valer

NULL (Foto: )
Foto: NULL

Há poucas palavras públicas do tucano cearense Tasso Jereissati em relação à possibilidade de disputar a presidência do Senado em 1º de fevereiro próximo. Por outro lado, as ações silenciosas dele têm sido muitas e não deixam dúvidas, no ambiente do Congresso, de que a história de candidatura é pra valer. Aliados apresentaram um cálculo inicial que parece animador, como ponto de partida (apenas), no qual conta-se de 21 a 23 votos dentro de um colégio eleitoral do qual fazem parte 81 parlamentares. Parece pouco e é, de fato, na matemática pura. Quando aplicada à realidade de uma novela política ainda com muitos capítulos por percorrer, no entanto, se vê como indicativo de que há base para o projeto ser levado adiante.

O Congresso retomará suas atividades dando posse aos vitoriosos em outubro passado. Muita gente nova, 46 senadores iniciando mandato novo, em números mais exatos, boa parte dos quais suscetíveis ao discurso da renovação, o que começa a tornar a história interessante para Tasso Jereissati, cuja aposta estratégica maior é, exatamente, o de se oferecer como uma chance de mudança. Especialmente se o adversário a bater for o "velho" Renan Calheiros, do MDB.

Como dito antes, Tasso não fala acerca do quadro de disputa pela sucessão do também cearense Eunício Oliveira (MDB). De público, pelo menos. Já nos bastidores, em conversas casuais ou planejadas, tem gasto muita lábia falando de seus planos de recuperar uma ideia de poder moderador para o Senado, garantindo-lhe papel de equilíbrio institucional que considera perdido em meio à crise dos últimos anos. É um dos compromissos que tem assumido, junto com o apoio à agenda de reformas, ponto no qual ganha simpatias no futuro governo.

Neste ponto, um passo importante foi o encontro, em seu gabinete do Senado, de Tasso Jereissati com dois integrantes da futura equipe de Bolsonaro - o economista cearense Mansueto Almeida, que permanecerá secretário do Tesouro Nacional, e Roberto Campos Neto, que presidirá o Banco Central. O assunto sucessão de Eunício Oliveira não foi tocado, nem faria sentido que o fosse, mas o recado principal, de apoio à agenda de reformas, foi transmitido de maneira clara.

Termômetro interessante para se ver como andam as coisas é o que acontece toda terça-feira, dia em que tradicionalmente Tasso recebe para almoços políticos em seu gabinete. A agenda permanece movimentada e está mais concorrida ultimamente, graças ao trabalho de articulação de dois apoiadores, em especial: o correligionário tucano, de Minas, Antonio Anastácio, e o conterrâneo Cid Gomes, do PDT, que tem sido fundamental para ampliar as chancesdele junto a segmentos fora do arco partidário no qual a coisa parece fluir com mais naturalidade.

Resumo da história é que o nome está posto, cresce de possibilidade à medida em que se confirma o alagoano Renan Calheiros como oponente e a hipótese de desistência não está colocada mesmo se Simone Tebet, de Mato Grosso, entrar na disputa, como se especula. Sobre isso, inclusive, Tasso nega que tenha admitido à imprensa que abriria mão de seu projeto de disputar o Senado caso a emedebista oficialize candidatura. O recado dele foi claro: "admiro a senadora, mas uma coisa não tem a ver com a outra". A má interpretação de uma declaração sua por um jornalista em Brasília, que gerou alguns incômodos entre aliados, envolveria interesses ocultos, conforme se suspeita. Assim é Brasília, e ele sabe, quando se decide jogar alto.

CRIANÇAS A BORDO

 

Parece um retrocesso e, na verdade, o é. O prefeito de Tauá, Carlos Frederico (PSDB), decidiu dobrar de cinco para dez anos o tempo mínimo exigido para fabricação dos veículos que a gestão pode contratar para o transporte coletivo de alunos da rede municipal. O resultado pode ser, de novo, aquela cena de crianças valendo-se de autênticos paus de arara nos seus deslocamentos entre casas e escolas.

 

OS AMIGOS DA PRESSA

 

A oposição esperneia, grita, mas o prefeito até conseguiu que a Câmara realizasse sessão extraordinária em pleno dia 27 de dezembro, entre Natal e Réveillon, apenas para apreciar o projeto. A pressa gera uma outra crítica, já que a matéria não exigiria, por sua natureza, apreciação com tanta urgência, impedindo debate quanto aos efeitos das mudanças para as crianças de Tauá atendidas pelo programa. Afinal, a quem o tema realmente interessa.

 

DIPLOMACIA DE OPORTUNIDADE

 

A forte aproximação entre Brasil e Israel tem muito a ver com o trabalho do embaixador Yossi Shelley, desde 2016 em Brasília. Trata-se de um negociador agressivo, que fez uma série de viagens ao Ceará nos últimos anos para vender o projeto da dessalinização das águas do mar que seu país desenvolveu com grande êxito. Ele tem aproveitado muito bem a guinada que representou a chegada de Jair Bolsonaro à presidência.

 

A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA

 

Nas suas andanças por aqui, o embaixador, que vive no Brasil sua primeira experiência diplomática - originalmente é empresário no seu país -, deixa clara sua prioridade: é fazer negócio. Segundo ele, quando busca exercitar caridade Israel foca nos países verdadeiramente pobres, que não considera ser o nosso caso. No governo cearense, pelo menos, o estilo "sincerão" assustou muita gente com quem andou conversando.

 

O PRIMEIRO EQUÍVOCO

 

É evidente o equívoco dos partidos e parlamentares de oposição que estão decidindo boicotar a posse de Jair Bolsonaro como presidente da República, terça-feira próxima. Equivale, em muitos aspectos, ao mau comportamento do próprio Bolsonaro, quando candidato, lançando dúvidas desnecessárias e infundadas sobre o processo eleitoral brasileiro, o voto eletrônico e tal. Para, vitorioso, silenciar sem qualquer cerimônia acerca do tema.

 

A CRÍTICA ALIMENTADA

 

Já existe quem defenda a ausência como ato político importante, lembrando que PSDB e DEM, por exemplo, também boicotaram a posse de Dilma Rousseff, do PT, quatro anos atrás. Ou seja, usa-se um erro para justificar outro, além do agravante de oferecer mais combustível àquela velha, e não raro injusta, crítica feita à esquerda de ter postura antidemocrática, não lidar bem com derrotas etc. A ausência programada é prato cheio para alimentar tal discurso.

 

 

Foto do Guálter George

A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?