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As urnas fizeram os interlocutores sumir
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

As urnas fizeram os interlocutores sumir

A eleição de 2018, com seus resultados para a nova formação do Congresso Nacional, está gerando muita desorientação. Pouca gente está conseguindo projetar com algum grau de convicção como serão a Câmara e o Senado depois da renovação que o voto proporcionou, em níveis que há muito tempo não se via. O pessoal que cuida da articulação política na Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, anda à procura das unidades estaduais para tentar entender o que aconteceu e, em especial, saber o que sobrou do que havia antes.

Para se ter uma ideia do que houve, apareciam como bons interlocutores do setor no atual Congresso, da bancada cearense, o senador Eunício Oliveira (MDB), e os deputados Raimundo Gomes de Matos, Danilo Forte, ambos do PSDB, e Gorete Pereira, do PR. Todos derrotados. O fenômeno se espalha pelo Brasil, conforme constatou o Núcleo de Assuntos Legislativos (Noal), que finaliza levantamento para embasar os empresários do setor industrial sobre as novas bancadas. Os dados colhidos, até agora, têm sido assustadores.

A Câmara, por exemplo, terá 243 novos deputados, alcançando índice de renovação de 47%, altíssimo pelos padrões históricos. O Senado, que tinha em disputa dois terços das cadeiras, receberá 46 estreantes, deixando pelo caminho muita gente que tentava a permanência por mais um mandato. Eunício, inclusive. Em termos percentuais, assombrosos 85% do que estava em disputa.

O que preocupa, mais até do que o número, é o perfil dos novos parlamentares. Muitos deles sem muita noção de como as coisas funcionam na vida parlamentar, especialmente no campo federal, que deram pouca indicação na campanha de como pensam questões relevantes à economia e importantes ao setor produtivo, com foco mais evidenciado em temas morais ou comportamentais. Enfim, há necessidade de começar o trabalho quase do zero, a fim de encontrar os novos interlocutores de um governo que será novo, seja quem for o vencedor da disputa presidencial do próximo domingo.

Tomemos o caso do Ceará para pensar sobre a complexidade da nova realidade que se aproxima. Na eventualidade de um governo Bolsonaro, que é a hipótese mais provável à mesa, dois deputados passariam à condição de interlocutores naturais do poder que se estabeleceria em Brasília: Heitor Freire (PSL) e Capitão Wagner (Pros). Nenhum deles, de início, com perfil para se vislumbrar como canais através dos quais, por exemplo, a indústria do Ceará possa encaminhar uma pauta eventual de reivindicações que tenha.

É um cenário de incertezas como há muito não se via. Em outras épocas, até com suas possibilidades de gerar o otimismo que os sopros de renovação naturalmente oferecem, mas, diante do quadro sombrio que temos, o que está prevalecendo hoje são dúvidas que preocupam, e muito, lideranças do quadro empresarial. Cearense e brasileiro.

Saúde e paz

Um novato na política, por isso ainda com alguma ingenuidade preservada, o senador eleito Luis Eduardo Girão, do Pros, fez sua parte, como amante da paz que é, quando participava da inauguração do comitê do candidato Jair Bolsonaro, do PSL, semana passada. Ao discursar, pediu aos presentes respeito àqueles que estão do outro lado, lembrando se tratar "de irmãos, como nós". Os muitos ouvidos presentes ao evento o ignoraram, solenemente.

Sonho de irmãos

Repete-se uma situação de anos anteriores, com os irmãos parlamentares Elpídio Nogueira, vereador, e José Sarto, deputado estadual, lançando-se simultaneamente como candidatos às presidências, respectivamente, da Câmara Municipal de Fortaleza, e da Assembleia Legislativa. O problema para ambos, ou para um deles, pelo menos, é que seria poder demais para uma mesma família.

A vez do outro

É lembrar o que aconteceu em 2012. Na época, Sarto abriu mão do seu projeto em nome do irmão, que foi à disputa na Câmara, apoiado pela então prefeita Luizianne Lins (PT), e acabou derrotado por Salmito Filho, este mesmo que hoje ocupa o posto e o deixa ano que vem, junto com o mandato, para assumir cadeira na Assembleia. O normal será que dessa vez, havendo necessidade de sacrifício, sobre para Elpídio.

O amigo infiel

Assim fica difícil para Eunício Oliveira manter a linha de queixa interna com possíveis traidores no grupo dos Ferreira Gomes e no PT, que não teriam se empenhado pela sua reeleição ao Senado, apesar da aliança informal estabelecida. Seu sócio, aliado número um, amigo de todas as horas, Gaudêncio Lucena anuncia abertamente que votou em Jair Bolsonaro para presidente no primeiro turno e voltará a fazê-lo dia 28 próximo.

Lição de casa

É claro que a revelação tira parte da moral do emedebista para cobrar fidelidade dos outros, quando ele próprio não consegue garantir que alguém de sua cozinha honre o compromisso que firmou com uma aliança que incluía o PT de Fernando Haddad. Achando pouco, já que não se imagina que tenha havido combinação com Eunício, apareceu todo pimpão na inauguração do comitê de Bolsonaro na terça-feira.

No leito certo

Um reparo sobre o que se escreveu aqui semana passada sobre o hospital que abrigou por uma noite o então candidato Ciro Gomes na campanha à presidência da República: foi o Sírio-Libanês, em São Paulo.

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