[FOTO1]

MEMÓRIA_CULINÁRIA

Se tem um assunto que levanta os ânimos de qualquer mesa de bar ou encontro de amigos este assunto é a comida. Quando trazemos então uma conotação afetiva e de memória gustativa ao tema, aí é que a conversa se estende a não ter fim. É um tal de “minha avó fazia”, “quando eu era pequeno”, “mas o da minha mãe é o melhor” que não se acaba mais. Nós somos feitos de muitos elementos, língua, sotaques, religião, folclore, e também das memórias e gostos de onde viemos e crescemos. E não dá para falar de Ceará sem falar de praia e sertão. Apesar do imenso e lindo litoral que possuímos, a proposta aqui é adentrar na vastidão do nosso árido sertão. Principalmente da minha refeição preferida quando tenho oportunidade de viajar e vivenciar seus sabores: o café da manhã.

Nas fazendas e sítios, o dia começa cedo, aquele cheiro de curral lá longe anuncia que o leite mugido não tardará a chegar. Vindo do leite gordo, temos os seus derivados sublimes: nata, coalhada, manteiga, queijo coalho, queijo manteiga e manteiga da terra.

Os bolos são de macaxeira, milho, mole e grude. Milho e macaxeira ainda são protagonistas em muitas outras delícias. O primeiro vem na pamonha, na canjica, no mungunzá doce (deixemos o salgado para o almoço) e no cuscuz, que por si só merecia uma coluna só para ele de tanto que dá pra variar. A macaxeira vem cozida na manteiga da terra, na tapioca fininha, na tapioca hidratada, no grude e no grolado. Ovos caipiras com a gema mole ou mexidos também não podem faltar. Broas de goma e milho, biscoitos de polvilho e sequilhos ficam ali pelos potes de vidro enfeitados.

O cheiro de café invade a casa e faz com que todos despertem. Os refrescos de limão trazem um alivio ao calor e o perfume de canela da cartola e das bruacas arrematam esse lindo banquete que é o café da manhã no sertão. Esse texto traz apenas um pequeno apanhado da mesa nas manhãs do Interior do nosso Estado. Esses e muitos outros preparos fazem parte dessa maravilhosa parte da gastronomia popular tradicional do Ceará: a sertaneja. Detalhe: reparem que não mencionamos o pão. Ele até pode vir, mas já ficou claro que será apenas um coadjuvante.