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ILYA e a vida vista do mar
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Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros

ILYA e a vida vista do mar


As más condições atmosféricas dos sentimentos turvados pelo desrespeito ao outro e ao bem comum têm causado instabilidades emocionais e falhas de navegação nas relações entre as pessoas. A vida urbana vai afundando em suas ondas de individualismos, e é de dentro do mar da arte que a cantora ILYA tenta encontrar novos ares para a realização do amor e do amar, mesmo que para isso seja preciso “sair fora de si” e “dançar, dançar, dançar”.


No clipe de Canções de Mar, gravado pela própria cantora, a música de José Rodrigues (vocal da banda de beat-rock Água de Quartinha) ganha plasticidade numa versão digital dos velhos caleidoscópios manuais, feita em Photobooth, com montagem e edição de Igor Cândido. O vídeo será liberado no YouTube amanhã (11/1), às 18 horas, pouco antes do show que ILYA fará no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar, em uma noite que terá ainda Astronauta Marinho e Jonathan Doll.


Carregado de mensagens subliminares, o videoclipe agrada pela simplicidade técnica, pela voz deliciosa e pelo autorretrato despretensioso de uma cantora que na sua ousada busca por outras maneiras de amar mergulha “borboletas em tinta fresca” para fazer tatuagens no céu. Leve e dançante, Canções de Mar é um hit potencial que abre as comportas do repertório do disco de estreia de ILYA, que está sendo produzido com direção de Daniel Groove e Claudio Mendes.


Ao explorar um olhar náufrago voltado para a cidade e seus habitantes, a intérprete faz o upload de suas vivências, espelhando modos de ser e de sentir que passam tanto por ondas quentes e amorosas dos mares cearenses, sobretudo de Icapuí, Sabiaguaba e Fortaleza (onde nasceu e mora), quanto pelo clima tropical asiático do arquipélago de Langkawi, na Malásia, e das praias índicas do continente-ilha australiano, por onde navegou.


ILYA vem ganhando oxigênio farto para mergulho solo no oceano da música pop do Brasil. Ao lado de Carlos Hardy e Diego Ramires integra o grupo afro-brasileiro psicodélico Tripulantes da Sabiabarca, faz som eletrônico experimental no duo Mantra Coité e interpreta com muita desenvoltura as narrativas musicais do meu livro-cd Bulbrax – Sociomorfologia Cultural de Fortaleza (Armazém da Cultura), em um repertório que tem participações especiais de Daniel Groove e Chico César.


O interesse de ILYA para ser cantora surgiu da amizade com Rafael Martins, há quase uma década quando eram colegas no ensino médio. Foi estimulada por ele, que hoje é vocal e guitarrista da Selvagens à Procura de Lei (banda de indie-rock radicada em São Paulo), que ela resolveu cantar. Não é à toa que Rafael nada junto com ela na aventura marinha do seu disco, participando da faixa A Cidade é Pequena, composição da performer holística piauiense Michele Tajra.


Canções de Mar é sensorial, radiofônica, boa de streaming, de pista de dança e de ouvir em balanço de rede na praia. Dá para sentir o remar acentuado de cada um dos instrumentos na mesma correnteza por onde flui a voz de ILYA: a bateria-de-proa do Beto Gibbs, o baixo-bússola do Rian Batista e o violão-barlavento de Cláudio Mendes, que responde também pelos efeitos sonoros. Tem tudo para cair no gosto de quem, como ela, quiser experimentar as travessias da vida, vendo o mundo a partir do mar.


Foto do Flávio Paiva

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