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Tirar estatal do buraco causa demissão

2018-06-03 00:00:00

 
Os motivos que levaram o economista Pedro Parente a sair da presidência da Petrobras expõem a velha chaga nacional: o patrimonialismo. O Estado encarado como patrimônio é o obstáculo à eficiência da máquina pública. Na cultura tropical, o Estado serve à política. É o inverso do que se imagina da ideia de democracia e Pais civilizado. Assim, estamos fadados ao fracasso.

Depois da pilhagem como nunca antes tinha acontecido neste País, Parente foi colocado na Petrobras para recuperar a estatal.

Permaneceu no comando da companhia entre 1º de junho de 2016 e 1ª de junho de 2018. Exatos dois anos. No período, enfrentou com sucesso a maior crise que a Estatal já viveu. Não resistiu à antevéspera das eleições.

Como bem relatado pelo economista Gesner Oliveira, com Parente a Petrobras voltou a operar com lucro positivo, após quatro anos no vermelho. “No primeiro trimestre, registrou lucro líquido de R$ 6,961 bilhões, o melhor resultado dos últimos cinco anos. Já a dívida líquida da petrolífera encerrou o primeiro trimestre em R$ 270,7 bilhões, após ter chegado a R$ 391 bilhões no final de 2015”.

“Parente teve êxito em reduzir o endividamento e recuperar o caixa da empresa. Em 2017, destacando-se em três aspectos fundamentais: a gestão da dívida, a melhora da governança e a chamada ‘política de desinvestimentos’, que permitiu a entrada de caixa de US$ 6,4 bilhões em 2017, as agências de classificação de risco Moody’s e Standard&Poor’s elevaram a nota da Petrobras. Pegou um time na zona de rebaixamento e entregou no G-4 do campeonato”.


Seu sucesso foi separar a Petrobras da política. Seu sucesso explica a sua saída.

AS BOQUINHAS VITALÍCIAS


Vez ou outra, ouço a seguinte sentença: “Estatal não é para dar lucro”. Prefiro nem entrar no mérito. Este pensamento é a mãe e a avó dos saqueadores do patrimônio público, cujo parte é dos cidadãos brasileiros e parte é de investidores (pequenos, médios e grandes) nacionais e internacionais. Como se sabe, a Petrobras está na Bolsa de Valores.

Logo após o anúncio da saída de Parente, o jornalista Jocélio Leal fez em seu blog abrigado no O POVO, uma análise certeira dos acontecimentos. Seu texto trouxe à tona um ponto fundamental: os impostos estratosféricos é que tornam os combustíveis caros e não a política de preços praticada pela Petrobras, que segue uma linha global.

Pelo menos para isso a greve dos caminheiros, apoiada pela direita, pela esquerda e oportunistas de plantão, serviu. O efeito colateral do movimento, que fez um grande estrago na economia, foi chamar a atenção para os percentuais de impostos que pagamos para encher o tanque. Quase a metade do preço da gasolina é imposto. Quase 30% é estadual. No Ceará, a gasolina que move nossa economia é item de “luxo” na contabilidade do Governo. Por isso, é taxada em mais 2%.

Paciente ao excesso, o povo brasileiro certamente não se incomodaria de pagar impostos tão altos. Desde, é claro, que os serviços estatais tivessem qualidade. Pagamos impostos no nível dinamarquês para receber serviços no nível... brasileiro. Creiam leitores, este é o ponto crucial. Ninguém, nem a economia, suporta mais.


Usualmente, surge a lengalenga do fosso social, das diferenças de renda. É fato, é fato. Porém, a origem do problema não é responsabilidade do rico que fica mais rico. A origem do problema está em um estado ineficiente, tomado de assalto pela política e projetos de poder que se pretendem eternos. A boquinha vitalícia.

OS SEM ESGOTO


Novamente entramos em campanha eleitoral e tenho uma quase certeza: o que importa passará ao largo. O debate eleitoral será tomado pelo marketing rasteiro. Nada de discutir eficiência da máquina estatal ou a qualidade dos serviços públicos, por exemplo.

Isso não rende voto. E tome musiquinhas.

Não se discutirá a necessidade de certas obras, o custo destas e os procedimentos a respeito do processo de decisão administrativa que leva governantes a queimarem bilhões em, por exemplo, um sistema de metrô insustentável do ponto de vista financeiro e econômico, que consome mais de R$ 300 milhões por ano para transportar um punhado.

Não se discutirá o custo das coalizões que se agarram nas tetas públicas sem que nem mesmo se dignem a apresentar uma ideia, um projeto. Basta compor, entregar alguns segundos de propaganda eleitoral, bater palmas. Pronto. Estamos todos cansados disso.

A massa ignara, imensa maioria espoliada de saúde, esgoto, segurança e conhecimento, não tem dimensão das causas de seus problemas. Os candidatos miram nesse público. A eles dirigem frases de efeito, bordões, atitudes programadas. 

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