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Crise de expectativas

2018-06-10 00:00:00

O que é o mercado? São usuais os equívocos a respeito do seu significado. É comum a ideia de que o “mercado” é um ser onipresente, organizado, com uma cabeça nos Estados Unidos de onde emanam ordens de comportamento, sentenças globais ou coisas que o valham. Geralmente, o ligam à CIA ou a um pequeno grupo de cartolas que, em festivos almoços regados a champanhe, definem como o mundo deve se comportar.

 

Geralmente, é este um pensamento comum a uma linha de raciocínio mais à esquerda. São numerosos. Não é à toa. Desde sempre, a esquerda acreditou na ideia do internacionalismo para si mesma e para o mundo. Já no Manifesto Comunista, assinado por Karl Marx e Friedrich Engels, pouco lido mas muito falado, há a famosa frase "Trabalhadores do mundo, uni-vos!".

 

 

Parece ser óbvio que o contraponto do Manifesto é a tese de que os capitalistas mundiais são unidos. Uma espécie de conspiração em constante estado de atenção e ação para reger a humanidade. Pois era exatamente, sem a concepção negativa, esse tipo de regência que os comunistas queriam para a humanidade com suas internacionais socialistas. Um pensamento único a reger a todos. Democracia, por exemplo, passaria a ser algo descartável nesse contexto.

 

A introdução acima serve como entrada para a questão que proponho como discussão diante do quadro político e eleitoral, com sintomas de tempestade perfeita, que se forma no Brasil. Ponto âncora: o mercado passou a reagir da pior maneira possível quando, caída a ficha, entendeu que a Lava Jato, com a honorável ajuda da imprensa, arrastou a política para o buraco e meteu quase todos numa vala comum de corpos apodrecidos.

 

Nessa vala comum, a esquerda, que tem militância e voz organizada, soube se mover. Eis aí o momento em que vivemos: Lula, condenado e preso, lidera toda e qualquer prospecção eleitoral. Seu nome é trabalhado para ser candidato, com jingle, marca e tudo o mais, como se livre estivesse e ficha limpa fosse.

 


É evidente que o tal do mercado passou a ver o futuro sombrio. Muito menos por Lula, que fez a carta aos brasileiros (no dizer de Cid Gomes, uma carta aos banqueiros). Muito mais pela fragilidade dos até aqui candidatos de centro-direita que entendem este ser onipresente chamado mercado como a manifestação das estimativas acerca do futuro.

 

Futuro sombrio? Mercado? O que chamamos de mercado podemos traduzir como a roda da economia. Simples assim. “Ahh, tem uma turma aí que se alvoroça e esperneia promovendo a especulação na bolsa e no câmbio para ganhar dinheiro”. É verdade. Por sua natureza, são estes os “mercados” sujeitos a movimentos especulativos de curto prazo os que respondem de forma imediata às exacerbações políticas.

 

Porém, o que importa é a economia dita “real”. Esta sim, não especula e se recolhe para valer diante da ampliação das incertezas. Assim, congela as decisões relacionadas ao investimento produtivo. No caso, a aquisição de máquinas, equipamentos e instalações e, por consequência, a geração de vagas de trabalho.

 

A coisa funciona assim: numa economia de mercado, a decisão de investir é extremamente complexa. Ao investir, o empreendedor reduz sua liquidez e incorre em uma série de riscos. Por isso, passa a se mover com base em uma questão central: será que o mercado absorve a produção adicional gerada pelos novos investimentos? Humm... Melhor não arriscar, não é? Melhor, mais seguro e mais rentável aplicar em um ativo financeiro que renda juros. É o raciocínio lógico.

 

A partir do locaute dos caminhoneiros e das empresas de transporte de carga, o País começou a conviver com as piores expectativas. De cara, quem pretendia investir, se recolhe. Os negócios são engessados. O mais racional passa a ser esperar o fim do processo eleitoral para voltar à ativa. Enquanto isso, claro, a tendência é um novo ciclo recessivo se instalar vorazmente. Infelizmente, caminhamos céleres para isso.

 

O mercado está agitado? Ora, prescreve maracugina para ele. Pena não ser simples assim. Isso é coisa de gente que cabulou aula no primário. A roda possui engrenagens bem mais complexas.

 

 

O fato é que as circunstâncias apontam fortes sinais de deterioração do quadro econômico. O problema é da economia? Não creio. Nesse ponto, no que diz respeito às reponsabilidades do Governo, penso que se fez a coisa certa. O problema é da política. A crise de expectativas, que tem força recessiva, é oriunda da política. Tão cedo se resolverá. A campanha eleitoral tende a piorar esse quadro. 

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