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A Arte da política

2018-06-17 00:00:00

Deparamos-nos com o pior dos mundos. A saber: a política sendo vista e tratada como a manifestação do mal. Uma tarefa própria do capeta. Chegamos a um ponto no qual até muitos dos que querem ser políticos se arvoram a dizer que os políticos e a política são os vícios e serem destituídos. É mesmo? E qual será a manifestação da virtude? Não fazer política? Ora, está nesse pensamento o ovo da serpente do autoritarismo. O fim da democracia.
 


A política criou a mais louvável das artes, a diplomacia. Trata-se da mais civilizatória das ciências humanas. Sinônimo de fazer política, a diplomacia é a arte de negociar. É a arte de construir acordos entre os diferentes. Sejam nações, grupos ou sociedades. Portanto, é sinônimo de política.

 

A diplomacia tem como âncora a compreensão, a vontade do diálogo e o entendimento aplicados às relações, que podem ser pessoais, institucionais, internacionais. Portanto, esse conceito nada mais é do que... a arte de fazer política.

 

Assim como a diplomacia, a política é absolutamente necessária. Seus operadores, os políticos (os diplomatas da política) são absolutamente necessários. Qualquer ideia de sociedade, a mais visionária que seja, precisa desses operadores.

 

No Brasil e alhures (sim, não é exatamente um problema exclusivo dos trópicos), claro que muitos políticos se aproveitam da política em busca de objetivos pouco civilizados. Projetos de poder em detrimento de projetos de sociedade, por exemplo. Isso para ficar em exemplos mais virtuosos e não nos moldarmos em referências prosaicas tipo “projetos de enriquecimento pessoal”.

 

Talvez, no Brasil, o problema da política seja o vício na política. Compreendem? Chega-se a um ponto em que até jovens com trajetória desprovida de vícios políticos, quando chegam ao poder, se entregam aos mesmos com uma determinação como se fosse uma missão. No poder, deixam perdem a capacidade de dizer “não” numa proporção que antes seria inaceitável.

 

Minha longa trajetória como observador da política me serve de padrão de conhecimento. Ao longo do tempo, vi muita gente boa se entregar ao vício da política como o viciado se entrega ao crack. O meio vira o fim. O poder a ser mantido é o que importa.

 

Não quero aqui citar nomes. Confortável para mim? Sim, claro. Entrego-me ao conforto: vi os que pregavam a mudança como fundamento de sua existência política a, no Governo do Ceará, em passado não tão longínquo, moldar a máquina da administração ao sabor do interesse político. Cria um cargo ali para abrigar um deputado acolá e assim abrir a vaga para o suplente.
 


Até que estava dentro de um padrão razoável a ser aceito, não é? Outros tempos. A dependência da droga aumentou. Anos depois, ouvi gente jovem na Prefeitura de Fortaleza dizer o seguinte: “Ah... terceirizei a relação com os vereadores”. Era como criar “laranjas” para o balcão do dia a dia e, ao mesmo tempo, ter a sensação de limpeza e integridade pessoal.

 


Um pouco antes, vi gente nova chegar ao poder e dizer que a relação com a imprensa seria de cooptação. Ou melhor, paga-se e leva-se. Se foi assim com a imprensa, não precisa dizer como foi com os políticos. Vi gente jovem chegar ao poder e dizer que gostaria que tivesse ainda mais cargos para distribuir com os políticos. Vi sim, não faz tempo.
 


Sim, os vícios se exacerbaram. Reputo que muito da exacerbação se deu por causa do lulo-petismo. Gente que passou três décadas a pregar a instalação de novos costumes e, ao chegar ao poder, aprofundou os vícios. Claro que todo o resto se sentiu estimulado a fazer o que, de certa forma, já fazia. Só que em menor proporção. Sempre, com raras e conhecidas exceções.
 


Entretanto, a política continua fundamental. Absolutamente necessária. Que seja em outros padrões. É de dar fastio ver gente que se propõe a ser político começar a negar a política, a negar as negociações, os acordos, as alianças. Nada vai construir a não ser protótipos autoritários.

 

Imprensa, Ministério Público ou Judiciário não substituem os políticos e muito menos os partidos. Quando estes começam a ganhar importância exagerada no jogo político é sinal de que as coisas não vão bem e pendem para distorções que não se relacionam bem com o ideal da democracia.
 


Porém, em grande parte, os políticos e os partidos continuam agindo como se vivessem em um mundo próprio, separado de todo o resto, distantes da realidade e dos clamores. Acorda, gente! Ainda é tempo.

Fábio Campos

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