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O drácula que morde também beija

2018-03-04 00:00:00

O jogo político de uma eleição presidencial tem suas regras. A mais conhecida: a economia é o cabo eleitoral que decide o jogo para eleger um presidente da República. Estando ruim, é a oposição quem leva. Estando bem, é a situação que se mantém no poder. A regrinha não é tropical. Dá-se em todo o planeta democrático.

Pois é. O IBGE mostrou que a economia do Brasil cresceu 1% em 2017. Um resultado nada desprezível considerando a derrocada histórica iniciada ao fim de 2014 e concretizada nos anos de 2015 e 2016. O impeachment de Dilma e a ascensão de Temer mudaram de fato o rumo da economia brasileira. Parece ser esse o fato insofismável que a política terá que se relacionar.


O nocaute da recessão de 2015/2016 não permite que o nosso Brasil varonil se levante da lona na rapidez necessária. “PIB cresce 1% e País precisa de mais três anos para se recuperar”, diz O Globo em manchete. A saída do desastre é lenta e penosa. Porém, ainda atordoado, o Brasil está saindo da calamidade e é esse ponto que vai pesar na campanha eleitoral.

Sim, os economistas bem sabem: é lá na ponta da economia, no emprego, que a recuperação ocorre de forma lenta. Vale explicar: na recessão, o desemprego sobe veloz porque as demissões aumentam e a ausência de investimentos impede a criação de postos. Além disso, novos profissionais chegam ao mercado e pressionam a taxa de desemprego, que vai à estratosfera. Precisamente, foi essa a obra dilmo-petista que fez desaparecer 3,5 milhões de vagas.

 

Com a volta do crescimento, cuja previsão média para 2018 é de até 3%, o padrão para a retomada dos empregos é assim: primeiro, as empresas tratam resolver a capacidade ociosa. Depois, vem a recolocação das vagas fechadas. Somente em terceiro lugar, se a economia estiver voando, criam-se novas vagas.

A boa notícia veio com o Caged de janeiro divulgado na última sexta-feira apontando que quase 80 mil vagas foram criadas em janeiro. Ou seja, o saldo de empregos ficou positivo no balanço dos últimos doze meses, após três anos de fechamento líquido de postos com carteira de trabalho. Sem duvidas, um sinal muito positivo.

Nesse ponto, o Governo Federal fez a coisa certa quando promoveu a reforma trabalhista cujo objetivo primordial é simplificar as relações de trabalho e emprego. Não é fórmula nossa não. Todos os países da Europa que entraram em recessão a partir de 2008 reformaram suas relações trabalhistas.

Mas, voltemos à política. A questão é a seguinte: caso não ocorram acidentes de grande envergadura, o Brasil vai entrar na campanha eleitoral com a economia em crescimento e as vagas de empregos sendo retomadas. Uma intersecção de fatores que, claro, influenciará a tomada de decisão dos eleitores.

É evidente que não haverá vácuo de responsabilidades para assumir a paternidade do ciclo econômico virtuoso. Michel Temer está sentado na mesa do jogo. E dando suas cartas. Os méritos serão evidenciados. Nem mesmo a oposição poderá sonegar fatos, que, sim, terão repercussão eleitoral. Trocando em miúdos, Temer não poderá ser desconsiderado.

Fora do jogo econômico, há outro fator com forte influência eleitoral. No Brasil, chegamos a um ponto em que podemos lançar mão de uma variação tupiniquim da famosa máxima do marketing político norte-americano. Juntemos “É a economia, estúpido!” com “É a violência, idiota!”

Pronto, é a tempestade perfeita para a vitória e, claro, para a derrota. As atenções devem se voltar para o laboratório chamado Rio de Janeiro. A depender do sucesso ou insucesso da ação desencadeada por Temer no Rio, haverá influência decisiva na tomada de posição do eleitorado.

Atentem para um artigo assinado pelo presidente na edição da Folha de S.Paulo, quinta-feira passada. Temer começa dizendo que a recessão “será definitivamente encerrada”, desfia dados positivos da economia para, enfim, abordar a questão da segurança pública.

Vejam um trecho: “Iremos, sim, além do Rio de Janeiro e confiamos que obteremos na segurança os bons resultados que, com muito esforço, já conquistamos na economia...” Além do Rio?

Pois bem. Depois das cartas, o presidente joga suas fichas na mesa: crescimento econômico e intervenção federal na segurança. Pelo cenário que se forma, os candidatos de centro vão ter que conversar com esses temas sem desconsiderar o presidente. Já os de esquerda vão ter que ir além da alegoria carnavalesca de tratar Temer como um ridículo “Drácula golpista”.

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