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O que Camilo tem a ver com Lúcio?

2018-02-18 00:00:00

 
O que parecia ser uma tranquila caminhada de Camilo Santana (PT) rumo à reeleição se transformou em uma trilha espinhosa e com abismos à espreita. Uma chacina seguida da outra e a incomparável onda de assassinatos fizeram o governador sair da rota planejada e entrar numa zona de turbulência que não dá sinais de que terminará tão cedo.

Observadora atenta dos acontecimentos, a oposição esfrega as mãos e passa a comparar Camilo com Lúcio Alcântara, o austero governador cuja gestão era muito bem avaliada, mas, mesmo assim, sofreu uma dura derrota ainda no primeiro turno quando tentava a reeleição, em 2006.

O opositor que na época destroçou Lúcio foi Cid Gomes, cujo grupo político apoiou a gestão lucista e até manteve secretários no Governo. Cid tinha cheiro de novo. Lúcio emanava odores do passado. Era político oriundo da ditadura e, por muito pouco, já não havia perdido a eleição de 2002 para um inacreditável José Aírton Cirilo (PT), que surfou na onda Lula.

Vale lembrar aqueles tempos. Lúcio era do PSDB. O Governo era do PSDB. Tasso era do PSDB, mas também era aliado dos Ferreira Gomes. Num dos piores momentos de sua trajetória, Tasso retirou o apoio ao Governo de seu correligionário Lúcio acusando-o de acobertar atos suspeitos que seriam praticados por um filho do governador.

A acusação em tom de denúncia criou as condições para romper com o governador de seu próprio partido e apoiar a candidatura de Cid Gomes em 2006. A julgar pelos acontecimentos que o processo político desenhou quatro anos depois (2010), Tasso deve se arrepender amargamente.

O apoio de Tasso foi importante, mas, entre outros motivos de cunho político, Cid ganhou a eleição contra o bem avaliado Lúcio porque soube comunicar a agenda certa. A saber: um projeto de segurança pública (Ronda do Quarteirão), um projeto para construir hospitais regionais e um bom projeto de educação, que já tinha em casa a partir da gestão como prefeito de Sobral.

É para esse ponto que a oposição arregala os olhos. A insegurança hoje é um problema muito mais grave do que era há 12 anos. Trocando em miúdos, um opositor com boa trajetória, capacidade de comunicação e que apresente aos eleitores um bom projeto de segurança pode conquistar muitos apoios do eleitorado que sofre com a violência. Por enquanto, ninguém se habilitou para a empreitada.


UMA QUESTÃO DE “CONTROLE”


Tem sentido a questão levantada pelo advogado Leandro Vasques, que preside o Conselho Estadual de Segurança Pública, quando afirma que uma intervenção Federal na segurança pública do Ceará é muito mais justificável do que no Rio de Janeiro.

Os números que apresenta são crus. Em 2017, o Rio contabilizou 6.731 homicídios, enquanto o Ceará registrou 5.134. Só que a população de lá é quase o dobro da nossa. Ou seja, proporcionalmente, aqui se mata muito mais. Tanto que a taxa de homicídios do Ceará é de 57 para cada 100 mil habitantes e a do RJ é de 40 por 100 mil.

Camilo Santana garante que mantém o controle e se irrita com quem duvidar. Porém, controlar não é a qualidade que melhor caracteriza a política de segurança do Ceará. Em alguns presídios, o controle, se há algum, é da porta para fora. O governador precisa ressuscitar o estado de ânimo seu e dos seus. A semana não podia terminar pior com a declaração de seu líder na Assembleia afirmando que não faz uma CPI por temer retaliação do tráfico.

Bastava dizer que uma CPI da Assembleia para investigar o narcotráfico é algo despropositado, desnecessário e ineficaz. Preferiu a capitulação. 

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