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Um clima onde só prosperam os vícios

2018-01-21 00:00:00

A imprensa do Brasil dedicou seus últimos dias a uma cobertura muitas vezes histérica em torno do julgamento do ex-presidente Lula, marcado para o dia 24, quarta-feira, em Porto Alegre, sede do Tribunal Federal da 4ª Região.


Será apenas o primeiro julgamento de uma série de ações que tem o ex-presidente como réu. No entanto, é a ação com efeitos políticos imediatos na disputa pela presidência da República, que ocorre esse ano.


Caso o julgamento confirme a decisão da 1ª Instância, Lula está fora do jogo eleitoral. Afinal, a Lei da Ficha Limpa é clara quando diz que condenados em segunda instância não podem ser candidatos.


Mas, é claro, haverá rebuliço. Apenas o fato de se aventar a possibilidade de uma candidatura presidencial de Lula é prova do quanto a situação política do Brasil ficou deplorável. Em circunstâncias normais, nem se aventaria tal possibilidade.

 

Enquanto a questão Lula não for superada, o Brasil não consegue levar adiante uma agenda política virtuosa. Prevalece o ramerrame em torno de uma questão que, em repúblicas menos atrasadas, seria algo de menor envergadura. Enquanto a questão não é resolvida, o ambiente político é predominantemente passional, repletos de ódios, rancores os mais diversos e uma tendência de se resolver as coisas de modos não civilizados. É claro que nesse caldo não prospera a melhor agenda.


Quisesse prestar um serviço ao País, Lula deveria anunciar em alto e bom tom que não vai concorrer na disputa presidencial e que dedicará todas as suas forças a favor de sua defesa no âmbito dos tribunais. Mas, se dissesse isso, não seria Lula.


FREIO DE ARRUMAÇÃO

No Ceará, a coisa está assim: Camilo Santana (PT) está montado em um bom cavalo, já está na corrida e não há outros concorrentes na disputa. Sim, sozinho. A nobilíssima oposição se dedicou a sonhar com a candidatura de quem jamais quis ser candidato, perdeu precioso tempo e hoje se vê sem uma alternativa definida. Nos últimos dias, a ficha dos opositores começou a cair. Nem Tasso Jereissati nem Capitão Wagner. O primeiro nunca quis novamente ser candidato ao Governo. O segundo sempre teve em mente concorrer a deputado federal, ampliar sua força política e, aí sim, disputar a Prefeitura de Fortaleza em 2020.

Os caminhos da oposição se tornaram mais pedregosos. Os caminhos de Camilo se tornaram mais fáceis. Porém, 2018 é só o começo de uma nova história. A eleição presidencial tende a ser um freio para arrumar o sistema político brasileiro.


UM AVANÇO QUE POUCOS VIRAM

Melhor que não haja empresa estatal atuando em setores tipicamente capitalistas. Já que há, enquanto persistirem, que se sujeitem a um item muito especial que praticamente passou batido quando aprovado e sancionado em 2016: a Lei da Responsabilidade das Estatais.

A Lei representa um grande avanço. Claro que contou com a oposição de sindicalistas, da esquerda, dos estatistas e de uma elite sempre com dentes bem fincados nas maltratadas tetas nacionais.

 

Pois não é que a gloriosa Caixa Econômica Federal, um poço de escândalos de grande, médio e pequeno porte, se tornou a primeira estatal do País a se adequar às regras previstas na Lei?


Sim, o novo estatuto da CEF foi feito para se acoplar aos itens da Lei das Estatais. Agora, por exemplo, os polêmicos vice-presidentes, tradicionais indicações de partidos políticos, deixam de ser indicados pelo presidente da República e passam a ser nomeados pelo Conselho de Administração.


Isso resolve o problema? Claro que não, mas quando se junta a uma série de outras medidas forma-se uma boa rede de proteção contra ratazanas. Afinal, ¼ dos membros desse Conselho serão independentes. Os vices ainda passarão pelo crivo do Banco Central, o órgão regulador do sistema financeiro. A Caixa começou um ciclo. Todas as outras estatais devem dar sequência adaptando-se ao que manda o texto.

 

Gabrielle Zaranza

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