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O que é Bolsonaro?

2018-01-14 00:00:00

A ascensão popular de um personagem como Jair Bolsonaro só poderia ocorrer na quadra que se formou no Brasil após o advento do lulo-petismo, Lava-Jato, impeachment. Enfim, uma conjunção que acabou por gerar um imenso descrédito na política e no sistema representativo. Não deixa de manter aparências com o vácuo de 1989, que levou Lula e Collor ao segundo turno.
 


Mas, não é provável que o ex-capitão do Exército consiga ir muito longe. Não tem partido, não tem tempo na TV, não tem alianças, não tem palanques, não tem conteúdo. Sua fala é um apanhado do lugar comum da misoginia de coturnos.
 


Diante de seguidos mandatos, não há cristão algum que consiga encontrar algo de relevante que tenha proposto como deputado federal. Nada. Um deserto. A lembrança que sua trajetória emana é a da viuvez da ditadura, do prendo e arrebento.
 


Ao estilo da velha política, do qual efetivamente faz parte, Bolsonaro fez um acordo com o “dono” aposentado do PSL e filiou-se ao partido. Partido Social Liberal, que havia se transformado em Livres por força de um movimento de jovens liberais que escolheram a sigla para ensejar uma trajetória política.
 


Não havia outro caminho que não fosse a honrosa saída. Fizeram muito bem os rapazes e moças do Livres. Entraram no PSL como uma promessa de renovação. Saíram bem maiores, mais relevantes e, coisa que se tornou rara, levaram em consideração que o pensamento ideológico que os move não está em busca de aventuras e aventureiros.
 


Sim, Bolsonaro, com sua trajetória individual (o que o torna mais perigoso), é o tipo que coloca a sua caseira na gloriosa vila de Mambucaba como funcionária de seu gabinete na Câmara. Um velho estratagema. E ainda argumenta que a senhora em questão trabalha lendo jornais e lhe repassando notícias de Mambucaba. Ora, ora! Poupe-nos!
 


É o tipo que ao responder o que fazia com o dinheiro do auxílio-moradia se saiu com essa: “Como eu estava solteiro naquela época, esse dinheiro de auxílio moradia eu usava pra comer gente. Tá satisfeita agora, ou não? Você tá satisfeita agora?” Creiam!
 


São fatos, porém, menos importantes do que seu histórico de votações como deputado. Bolsonaro votou e militou contra o Real, contra a quebra dos monopólios do petróleo e das telecomunicações e contra as reformas administrativa e da Previdência, que buscavam dar racionalidade às contas públicas.
 


Sim, exatamente o mesmo comportamento do petismo, certo? Certo. Na verdade, como adorador do nacionalismo que caracterizou a ditadura, Bolsonaro é um estatista convicto. Claro. O que nos permite dizer que, nas questões ideológicas de fundo, está muito mais perto do que distante de nossa esquerda. Quem discordar, por favor, o faça com modos e argumentos.
 


A campanha ainda não começou para valer. Os pesquisadores vão às ruas com base em suposições. Umas óbvias. Outras, nem tanto. Pesquisa agora tem o mesmo valor de uma penca de bananas machucadas em fim de feira. Lula é a obviedade na mente da maioria. Bolsonaro navega no contraponto.
 


Quando a disputa começar para valer, em 20 dias, metade da campanha, o quadro já estará mais ou menos estabelecido. Vou fazer uma aposta e torcer por ela. Bolsonaro já terá virado o que de fato é: algo menor mesmo em nossa desgraçada política.

Fábio Campos

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