PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

Casa de apostas se mantém fechada

2017-10-15 00:00:00

A semana que termina neste domingo foi uma prévia do que vai se desenrolar até o desfecho do processo pré-eleitoral, que só ocorrerá entre maio e junho de 2018. É o período definido pela Justiça Eleitoral para que os partidos políticos façam as convenções que vão oficializar alianças e candidaturas da disputa estadual e nacional.


São quatro as siglas protagonistas da novela cearense. PDT, PT, PMDB e PSDB lideram o processo político no Estado. Em torno delas, orbitam todos os outros partidos. O quadro é de indefinição. O conjunto de declarações que os líderes das siglas proferiram durante a semana mostra que há apostas sendo feitas no escuro.


Camilo Santana é do PT. Porém, sua candidatura foi bancada pelo grupo liderado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes. No mercado político, ninguém é capaz de garantir que o governador seguirá no PT até as eleições de outubro do ano que vem. Mas há uma aposta certa: caso mude de partido, será para atender a uma conveniência do grupo que o bancou e que hoje está hospedado no PDT.


O grupo de Cid Gomes ainda convive com uma parte do PDT histórico, representado pelo seu presidente, o deputado federal André Figueiredo. Cid não fecha portas para alianças com, por exemplo, o PMDB. Já André descarta essa aliança. Isso se tornará um problema? Talvez sim, talvez não.


O fato é que Cid deu a senha ao afirmar que a convenção do ano que vem é quem dirá a linha a ser seguida. E quem vai controlar a convenção? Ora, o grupo de Cid. Afinal, é a maior força política do Estado, com dezenas de prefeitos, incluindo o de Fortaleza, deputados, vereadores e militantes. Ou seja, há óbvios limites para quem se dispuser a esticar a outra ponta da corda.


SINAL ABERTO


A porta que Cid deixa entreaberta para Eunício Oliveira é do gosto do governador Camilo e do prefeito Roberto Cláudio. Os dois gestores saíram lucrando com a aproximação. Afinal, nos últimos 30 dias, o senador jogou sua influência como presidente do Congresso para destravar uma montanha de recursos tanto para a Prefeitura quanto para o Estado.


Dinheirinho em tempos de crise vale ouro. Principalmente quando se sabe o quanto é estreito o acesso do governador e do prefeito aos gabinetes ministeriais e bancos oficiais fontes dos recursos. É bom lembrar que o impeachment jogou o PDT e o grupo de Cid Gomes na oposição ao Palácio do Planalto.


Atentem que, na convenção do PDT de quinta-feira, Ciro Gomes gastou seu verbo atacando o ex-padrinho Tasso Jereissati, mas deixou Eunício, seu antigo e preferencial saco de pancadas, de lado.


MORRE-SE PELO BRASIL. MATA-SE PELO CEARÁ


O mercado político trabalha com uma percepção: Ciro e Cid Gomes têm no Ceará o seu patrimônio político. Isso vem desde o fim da década de 1980. É aqui que o grupo se mantém, que se especializou em ganhar eleições, que garante os postos e empregos de seus quadros. Enfim, garante a sobrevivência do próprio grupo.


Portanto, a ordem primária é, como diria Michel Temer, manter isso aí. Ou, parafraseando um antigo intelectual cearense (não lembro a autoria): pelo Brasil o grupo morre. Pelo Ceará, mata. Sem piedade e com sangue no olho. Tasso, em sua campanha de 2010, que o diga.


O BOMBEIRO DA VEZ


E Eunício Oliveira? Em viagem oficial à Russia, certamente o senador comemorou a decisão do Supremo Tribunal Federal que deixou com o Senado a prerrogativa de aceitar ou não medidas cautelares do Poder Judiciário contra membros da Casa. Por extensão, o mesmo vale para a Câmara dos Deputados.

 

É importante lembrar que o senador segurou as rédeas de influentes colegas do próprio partido, como Renan Calheiros e Jáder Barbalho, dois ex-presidentes da Casa, que queriam votar em plenário o requerimento proposto para derrubar a decisão do Supremo que afastou Aécio Neves (PSDB).


Eunício optou pelas vestes de bombeiro, jogou água na fogueira e, no voto, abriu espaço para que a própria Corte retomasse a questão. A estratégia funcionou. Não sem emoção. Os 6 a 5, com o confuso voto de desempate de Carmen Lúcia, deixou a política em estado de tensão.


É O NOVO!


Nos bastidores, há muita conversa de que negociatas entre a iniciativa privada e o setor público se mantêm ativas. Talvez, talvez. Porém, depois da Lava Jato não haverá mais a desculpa de que a promiscuidade é parte do cotidiano político-empresarial do País. Algo natural, inerente ao sistema.


Pelo menos no lado da política, há bons frutos. Um deles é o surgimento de partidos como o Novo. De cunho liberal, a sigla vem atraindo quadros como o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, que rasgou sua ficha de filiação ao PSDB.


Até agosto passado, o partido tinha pouco mais de oito mil filiados no Brasil. 164 deles eram no Ceará. Todos em Fortaleza. Avalia-se que a filiação de Franco fez crescer significativamente a quantidade de filiações. Os dados ainda não estão no site do TSE, mas o partido já contabiliza quase 15 mil filiados, com média de 100 adesões por dia.


A sigla cobra dos filiados uma mensalidade mínima de R$ 28,23 e seus estatutos proíbem lançar mão dos recursos do Fundo Partidário que lhes são de direito. O curioso é que o comando do Novo não está conseguindo devolver o dinheiro.


Adriano Nogueira

TAGS