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É mais seguro ser temido que amado

2017-09-24 00:00:00

Nos 33 meses de duração de seu mandato, iniciado em 1º de janeiro de 2015, Camilo Santana (PT) manteve-se firme na estratégia política que desenhou para si. A saber: eliminar potenciais focos de oposição estreitando o relacionamento com os potenciais opositores de maior e menor envergadura. Quanto a esses últimos, a boa e velha cooptação resolve. Pelo visto, o sonho do governador é chegar à campanha eleitoral sem concorrentes relevantes.

 


Isso explica a sua postura maleável, elástica e de humores excessivamente controlados. Jamais mercurial, dedicado a arranjos, mostra-se sempre um bom moço mesmo quando acossado pelas circunstâncias. A embalagem de seu comportamento procura passar a ideia de que as prosaicas questões partidárias, políticas e até pessoais devem ser submetidas aos - como é mesmo? - interesses do Ceará.
 


É evidente que isso constrói uma imagem do governador. Para o bem e para o mal. Se por um lado há a imagem de um paciente negociador, posturas “pacifistas” em excesso deixam rastros negativos. O tom de eterna resignação não passa para o distinto público a imagem do líder de referência com musculatura capaz de conduzir os destinos do povo.
 


Afinal, o clássico de Maquiavel já ensinava que é mais seguro ao líder ser temido do que amado. “Porque, dos homens em geral, se pode dizer o seguinte: que são ingratos, volúveis, fingidos e dissimulados, fugidios ao perigo, ávidos do ganho”.
 


“Enquanto lhes fazeis bem, são todos vossos e oferecem-vos a família, os bens pessoais, a vida, os descendentes, desde que a necessidade esteja bem longe. Mas quando ela se avizinha, contra vós se revoltam. E aquele príncipe que tiver confiado nas promessas, como fundamento do seu poder, encontrando-se desprovido de outras precauções, está perdido”.
 


É evidente que o caminho mais fácil para o governador se reeleger passa pela não viabilização de opositores de porte. Porém, vitória fácil em jogo amistoso não constrói um líder.
  

 

AULA DE FUTEBOL
 

Nessa semana, ouvi de um importante político do Ceará a seguinte narrativa: no futebol, observe os jogadores ao fim da partida quando baixam as meias. Uns estão com a canela lisa e limpa. Outros com canelas arranhadas e cheias de ronchas. Os primeiros passearam em campo evitando confrontos. Os segundos dedicaram corpo e alma em busca da vitória. Só esses se tornam líderes e são amados pela torcida.
 


Eunício Oliveira (PMDB) ensaiou uma aproximação com Camilo Santana e os Ferreiras Gomes. Portanto, passou a compor um jogo que muito satisfaz ao governador. De lado a lado, é a busca pela vitória mantendo as canelas intactas. Nos últimos dias, o senador ensaiou um recuo. Talvez tenha ouvido os apupos da torcida.
 


LABORATÓRIOS
 

Quem estava perto de Lula na visita a Quixadá, em determinado momento ouviu o petista se dirigir ao deputado federal José Guimarães. “Guima, o Camilo já conversou com o Eunício?” Diante da resposta negativa, Lula, com pouca paciência, baixou a ordem. “Os dois têm que conversar”.
 


Era a mesma linha que Lula já havia adotado em Alagoas, com Renan Calheiros. A investida de Lula surtiu efeitos. Dois dias depois, o presidente do Senado deu a primeira declaração de que tenderia a votar em Lula para presidente. Por sua obra e graça, a CPI da JBS retirou a convocação dirigida a Lula.
 


Na sequência, deu-se uma inusitada conversa em um movimentado restaurante de Brasília. Eunício, Camilo e o prefeito Roberto Cláudio (PDT) à mesa para serem vistos e notados. De lá mesmo, via zap-zap, o senador orientou que a informação do encontro fosse devidamente vazada. Com um detalhe: os textos deveriam dizer que os dois o procuraram.
 


Como tudo na política, a coisa era para valer na mesma medida em que também era balão de ensaio. Afinal, é preciso fazer testes no laboratório político para ver como o mundo da política reage. Pelo visto, houve reações até na base de um e de outro lado. Nem sempre a favor.
 


O maior esperneio veio do deputado federal André Figueiredo (PDT). Para ele, o acerto era o seguinte: o PDT concede a Ciro a legenda para se candidatar a presidente da República. Em troca, André é candidato a senador em dobradinha com Cid Gomes.

O problema é a dinâmica da política.
 

 

É A ECONOMIA...
 

Não duvidem: 2018 será ano de crescimento econômico. Como é peculiar no Brasil e no resto do mundo, o mais influente cabo eleitoral de presidente costuma ser a economia. Tanto para levantar como para afundar uma candidatura.
 


Sendo assim, o Palácio do Planalto vai trabalhar firme para compor uma chapa presidencial que una toda a sua base. Inclua-se aí o PSDB. Ou seja, se os tucanos quiserem tocar o barco confiando em adesões automáticas, podem ficar isolados.
 


A tendência se mantém: os estados serão estimulados a reproduzir a mesma composição partidária do âmbito nacional. A não ser que a base se esfacele. Nesse ponto, as atenções continuam voltadas para Alckmin e Doria. O segundo já recebeu convite formal do DEM.
 


CONCORRÊNCIA DESLEAL
 

Notinha na sexta-feira: “Chamou a atenção do ministro do TCU Bruno Dantas a ociosidade dos portos brasileiros. Em uma comunicação ao plenário do órgão, Dantas diz que tem estado próximo do setor de infraestrutura de transportes do Brasil e, por isso, se surpreendeu com o pouco uso que tem sido dado aos portos” (Radar, Veja).
 


Sugere-se uma visita dos técnicos do TCU ao porto do Mucuripe. O belo terminal, que custou cerca de R$ 150 milhões, está sendo usado como espaço para eventos sociais (casamentos, aniversários, shows).
 


Nesse sentido, o setor público virou um voraz concorrente da competente iniciativa privada que trabalha no setor de eventos em Fortaleza. Não há como concorrer com o terminal e nem com o Centro de Feiras. Os bufês estão sofrendo como nunca.
 


HÁ ALGO ERRADO


Vejam essa: estudos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) concluíram que O Brasil está entre os países que menos gastam com ensino primário, mas tem investimento ‘europeu’ em universidade. Pois é. É o que deve ser?
 


O estudo aponta O Brasil gasta com alunos universitários mais que a Coreia do Sul. US$ 11,7 mil (R$ 36 mil) contra U$ 9,6 mil. O Brasil gasta anualmente US$ 3,8 mil (R$ 11,7 mil) por aluno do primeiro ciclo do ensino fundamental (até a 5ª série).
 


Portanto, em tese, um estudante de Comunicação da UFC vale mais que três vezes um aluno da Escola Municipal Professor Américo Barreira, na Granja Portugal.

Fábio Campos

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