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Sinal dos tempos

2017-08-26 17:00:00

Não faz tempo, dizer que o interlocutor era de “direita” soava equivalente a um palavrão. Foi uma herança da ditadura militar que, curiosamente, não era de direita. No poder, o nacionalismo dos militares instalou a fase mais estatista do País. O fato é que “direita” passou a ser sinônimo de autoritário e defensor da tortura. Aos poucos, principalmente depois da experiência da esquerda no poder, o termo passou a retomar o seu significado correto. Não ainda completamente, é verdade. 



Nas democracias, é muito importante que a disputa política se abrigue no leque ideológico esquerda-centro-direita. Cada posição com suas diversas variações e nuances. Cabe ao “centro” um papel preponderante, circunstancialmente se aliando a um dos dois polos para formar maiorias parlamentares que dão sustentação ao Governo de plantão. 


Em resumo, a direita é representada pelos grupos que defendem menor intervenção do Estado na economia, o liberalismo econômico e a propriedade privada. Uma das nuances é o liberal conservador. Este último termo também ganhou conotação negativa entre nós. Mundo afora, por conservador entenda-se o respeito radical às leis e às instituições. Aqui, é outro palavrão. Algo como retrógrado.
 


O liberalismo é a maior fonte de avanços na humanidade. Por prezar as liberdades individuais, valoriza as escolhas pessoais em todos os setores. Entre os quais, escolhas relacionadas a comportamentos sexuais e até ao consumo de drogas. Porém, sem que isso seja tratado como uma imposição à sociedade e nem como expressão de militância ideológica.
 


Há muitos sinais de que, no Brasil, após quase duas décadas de hegemonia do pensamento de esquerda, que é de natureza estatista e intervencionista, a balança da nossa política tende a pender para a direita liberal. Isso se dará quase por osmose. É um dos frutos dos erros e crimes da esquerda no poder, que, entre outros feitos desastrados, levou o País à recessão e desorganizou as contas públicas.
 


Aliás, nas democracias, é exatamente o que costuma ocorrer com grande frequência: os liberais instalam a austeridade, cortam gastos públicos e reorganizam a economia. Tudo isso, claro, gera desgastes. Nas eleições, a esquerda retoma o poder. E aí recomeça o ciclo de gastos públicos, fato que costuma gerar popularidade. A lua de mel acaba com a nova desorganização das contas e outros males. Resultado: em novas eleições, os liberais são convocados novamente para consertar os estragos. E assim sucessivamente.

TEMER, O REFORMISTA
Atentem para o que acontece hoje no Brasil: Michel Temer, o mais impopular dos governantes desde a abertura, tende a ser reconhecido pela História como o mais reformista dos presidentes. É paradoxal. Não fosse a flechada de Janot, o procurador aloprado, Temer provavelmente conseguiria fazer até a reforma da Previdência Social.
 


Acerca de Rodrigo Janot, um fato relevante: dá-se como certa sua candidatura ao Governo de Minas Gerais pela Rede. Logo ele, que acertou várias flechadas no mineiro Aécio Neves (PSDB). De flechada em flechada, o procurador com supostas pretensões políticas abateu potenciais futuros inimigos na política mineira.
 


Em pouco mais de um ano, entre maio de 2016 e agosto de 2017, o reformista Temer lançou dois grandes pacotes de privatizações e concessões públicas para a iniciativa privada. No ano passado, seu Governo colocou no mercado 34 projetos de desestatização. Este ano, já foram anunciados outros 57. No total, 91 ativos, entre estradas, portos, aeroportos e até loterias, entraram na lista para que sejam leiloados.

 


JOGO BRUTO

E a política do Ceará? Parece um tranquilo laguinho repleto de plácidas garças que aparentemente flutuam mansas na superfície. Porém, quem vê de dentro d’água percebe as patinhas se movimentando freneticamente, com vigor e direção. Hegemônico, o grupo político que controla a Prefeitura de Fortaleza e o Governo do Ceará faz o que lhe cabe no momento: política a partir das ações administrativas e ainda pequenas reuniões no Interior.
 


Jogo bruto para valer foi feito via Assembleia Legislativa, controlada pelo fiel cidista Zezinho Albuquerque. O parlamento agiu célere na nova emenda para extinguir o TCM, abrigo de Domingos Filho. Imaginem: a sinecura dos sonhos de muitos deputados estaduais, preferência declarada por dez entre dez governistas, foi levada ao brejo apenas para dar uma flechada em um opositor. Isso é novo na História política do Ceará e mostra que o jogo vai ser pródigo em pontapés.

 

CAMINHO TUCANO
Tasso Jereissati já bateu o martelo quanto ao desejo de ver o executivo Geraldo Luciano candidato ao Governo. Em recente reunião com o comando do partido, o senador soltou a seguinte frase: “Geraldo só não será se não quiser”. Em entrevista ao Estadão, quando perguntado se seria candidato ao Governo do Ceará, Tasso se saiu com essa resposta: “Não pretendo mais voltar ao Executivo. Também defendo a renovação no Ceará. O ideal é um processo de renovação lá também”.

 

De cabelos brancos, mas líder dos cabeças pretas do PSDB (a ala rebelde e mais jovem tucana que quer o partido longe de Temer, mas perto das reformas que o presidente apresenta), o senador tem pressa. Afinal, um nome novo na política é um nome também desconhecido. Hoje, em nossa política, ser desconhecido do distinto público não é o pior dos mundos.

 

TURMA NOVA
O MBL, o movimento que encabeçou as grandes manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff, faz movimentos de aproximação com o PSDB. No Ceará, o MBL não tem força. Os jovens liberais daqui se aglutinam em grupos de estudos na UFC e na Unifor. Os dois maiores grupos, um em cada universidade, já levaram Geraldo Luciano para palestras.

 

Ou seja, a aproximação desses grupos com o PSDB cearense, caso ocorra, acontecerá através da relação estabelecida com GL. Hoje, a maioria se aglutina no Livres, o ex-PSL. De Tasso: “Queremos receber a influência de todos esses movimentos que estão nascendo por aí, que são influenciados pelas redes sociais”. Essa tarefa certamente não ficará a cargo de Luiz Pontes, que há anos preside o PSDB no Ceará.

Fábio Campos

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