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Os caminhos para 2018 no Ceará e no Brasil

2017-07-22 17:00:00

Mesmo com a política ainda muito dependente dos humores da Lava Jato, há o entendimento de que as eleições do próximo ano nos estados terão seus contornos fortemente influenciados pelo desenho das eleições presidenciais. Ou seja, a tendência é que as alianças estaduais reproduzam as alianças que se concretizarem em torno dos candidatos
a presidente da República.


Pelo cenário de hoje, ainda muito marcado pela instabilidade e por dúvidas, há dois campos principais em formação. Um deles é de oposição a Michel Temer. São os grupos que ficaram viúvos do poder após o impeachment de Dilma Rousseff. Nesse grupo encontram-se o PT, PCdoB e PDT.

 

Desse grupo pode sair um ou dois candidatos a presidente. Um petista e outro do PDT. Quando ao do PT, não se sabe ao certo se Lula conseguirá emplacar sua candidatura. Afinal, depende das injunções da Lava Jato. Mesmo que não seja julgado até a eleição, teríamos assim um condenado candidato a presidente sendo que um presidente nem réu pode ser. Coisas do Brasil.


O outro nome é Ciro Gomes, agora no PDT, que partirá para a sua terceira tentativa. A primeira, em 1998, foi um ensaio. Já a segunda, em 2002, foi o grande momento da carreira de Ciro. Tivesse feito as coisas certas, teria sido eleito. Mas, quando começava a disparar nas pesquisas, Ciro resolveu boicotar a si mesmo. Não se sabe ao certo que espírito regerá seu comportamento em 2018.


Porém, no Ceará, a tendência é que esse grupo marche unido na eleição para governador independentemente da disputa federal. Já há conversas nesse sentido. Todas com a seguinte visão: o Ceará tem somente 4% do eleitorado e o que importa é o segundo turno das presidenciais.


Mas, é bom lembrar: a indefinição e a instabilidade da política deixam muitos pontos sem resposta e em aberto. Como o prazo de filiação foi esticado, decisões acerca de mudanças de partido tendem a ocorrer apenas nas vésperas da data final, em abril do ano que vem. Ou seja, o governador Camilo Santana certamente vai usar o prazo disponível para decidir se concorre pelo PT ou muda de sigla.


O outro lado da disputa federal é encabeçado pela antiga oposição aos governos do PT e que agora se alinham, em boa parte, com a base de apoio ao presidente Michel Temer. Citem-se: PSDB, DEM, PMDB, PR e PSD. É muito provável que estas siglas se alinhem em torno de um candidato indicado pelo PSDB.


Curiosamente, estas siglas, com altos e baixos, apoiam Michel Temer, estão no Governo ocupando cargos, concordam com as reformas, mas vão chegar à disputa presidencial mantendo distância regulamentar do presidente. Temer intoxica qualquer candidatura. Pelo quadro de hoje, é uma situação parecida com a de José Sarney em 1989.


No caso do Ceará e de vários outros estados, incluindo São Paulo, esse grupo tende a entrar unido também nas disputas estaduais, formando uma aliança para indicar um candidato a governador, a vice-governador e às duas vagas de senador.


É O NOVO

Pois é. A partir desta percepção é que causou imenso burburinho a ainda muito silenciosa articulação para fazer do administrador de empresas, Geraldo Luciano, diretor do grupo Dias Branco, o candidato

a governador dessa aliança.


A leitura é a seguinte: nome novo, sem trajetória política, sem contágios negativos, sem escândalos para responder, jovem e com um currículo de sonho, que mistura empregos públicos e privados, à disposição dos eleitores.


É tudo o que as forças políticas em torno da família Ferreira Gomes e do governador Camilo não gostariam de encontrar pela frente. O sonho de opositor dessa força política continua sendo o senador Eunício Oliveira (PMDB) ou o deputado estadual Capitão Wagner (PR), considerados
fáceis de nocautear.


PROSPERA?

Depois do texto de domingo passado, que expôs a possibilidade da candidatura de Geraldo Luciano montado em uma chapa com bom tempo de TV e enraizamento político, muitos atores desse jogo conversaram comigo a respeito. Curiosidade geral: “É pra valer?”. Digo frequentemente que, em minha já longa trajetória como analista de política, não costumo tratar de coisas que “não são pra valer”. A pergunta correta é outra: “Vai prosperar?”. A resposta: “Não tenho a menor ideia, mas a coisa toda tem sentido”.

CAMILISMO

Camilo Santana continua cuidadosamente fazendo a sua parte na tentativa de domesticar o PSDB cearense. Sempre que pode, elogia o senador Tasso Jereissati. No Governo, o tucano tassista Maia Júnior tem prestígio e espaço que jamais foi dado a nenhum outro secretário.

Noutra ponta, quem se detiver sobre os investimentos publicitários do Governo, notará que o fluxo de contratos com o grupo Jangadeiro, sistema de comunicação ligado a tucanos de bico duro, anda mais nutrido que em tempos recentes.


MAR ADRIÁTICO

Principal interessado em ter um candidato capaz de unir forças para derrotar os Ferreira Gomes, seus antigos e mais longevos aliados, o senador Tasso Jereissaiti se mantém fiel ao seu estilo esfinge. Calado estava, calado permaneceu. Está longe do País em férias com a família no belo litoral da Croácia. Isso não quer dizer que o senador não esteja acompanhando atentamente o desenrolar dos acontecimentos na política do Ceará.

PAUTA DE EXPORTAÇÕES

Em sua época como presidente do Banco Central, o economista Pedro Malan gostava de citar uma frase de autoria do diplomata norte-americano, George Kennan: “Todo Governo tem um núcleo principal de pessoas dedicadas aos seus projetos pessoais. Em segundo lugar, eles cuidam dos seus projetos políticos. E quando sobra espaço na agenda, se dedicam aquilo que o país gostaria que elas realmente fizessem”.


Kennan, ainda na década de 1950, foi um dos primeiros a prever a derrocada da União Soviética.


MAÇANETA

Uma curiosa imagem chamou a atenção ao longo da semana. Na noite de terça-feira, o presidente Temer chegou à casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. De forma incomum para um presidente, o próprio Temer passou a mão na maçaneta da casa do anfitrião, abriu a porta e entrou. Ao fim de seu governo, Fernando Henrique Cardoso brincou com a situação ao dizer que teria de aprender novamente a passar a mão na maçaneta e abrir portas após oito anos de poder. No Brasil da política dominada pelo patrimonialismo, o problema mesmo é o ex-governante aprender a dirigir seu próprio carro, pagar suas próprias contas e esquecer o helicóptero que sempre estava à disposição.

 

Adriano Nogueira

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