PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

O confronto dos tempos

2017-05-11 01:30:00

Alguns analistas estão vendo o momento político e institucional do Brasil como um divisor de águas. Na verdade, uma transição conflituosa entre o velho País marcado e determinado pelo patrimonialismo e uma nação mais republicana e democrática. O começo dessa transição teria como símbolo as grandes manifestações de 2013.

[QUOTE1]

A sucessão de acontecimentos no Brasil ganhou dinâmica tal deste então que não foi possível se debruçar com a devida atenção sobre as jornadas de junho de 2013. Não havia nenhum tom revolucionário (em seu sentido clássico) naquele movimento.


Os eventos de 2013 não reivindicavam o fim do capitalismo ou rupturas institucionais. Não havia lideranças (até hoje, ninguém é capaz de citar uma) individuais ou coletivas. As convocações para as grandes manifestações se espalharam de forma espontânea via redes sociais E, quase sempre, ocorriam logo após o fim do expediente de trabalho.


As bandeiras eram difusas, mas poderiam ser resumidas em alguns pontos: por serviços públicos de qualidade, por uma forma de representação democrática que não reproduzisse o sistema partidário que já se mostrava moribundo e, por fim, pela intolerância a privilégios, inclusive na aplicação das leis.


Em recente entrevista, o diretor da Faculdade de Direito da FGV-SP, Oscar Vilhena, resumiu bem essa visão: “O Brasil acostumado com a corrupção e a não levar a cabo os interesses da população está se chocando com um novo Brasil com uma população que exige os seus direitos e com instituições renovadas que passaram a usar as esferas de poder para impor a lei de maneira mais igualitária”.

[QUOTE2]

É claro que tudo isso passa também pela visão do modo como a sociedade, principalmente os setores mais privilegiados, interage com o Estado. A exigência é por um Estado sem tentáculos, menos onipresente, além de concentrado e eficiente na execução das políticas públicas que lhes são fundamentais (segurança, saúde, educação).


É evidente que esse processo, se estiver mesmo em andamento, causa rebuliços de toda ordem no status quo vigente, além de naturais revoltas nos costumes tradicionais da política e do poder. O primeiro de uma série de depoimentos prestados pelo ex-presidente Lula em um dos cinco processos em que é réu seria um dos reflexos desses acontecimentos.


De 2013 para 2017, é um intervalo de apenas quatro anos. Muito pouco para a correta e abrangente análise histórica, mas suficiente para emplacar mudanças. Há outros sinais dos acontecimentos. Pesquisas de opinião (como a realizada pelo PT na periferia de São Paulo) e acadêmicas já identificaram a linha de comportamento e a visão de mundo do público que enseja essas mudanças. Uma visão que, em resumo, rechaça a luta de classes, acredita no capitalismo e nas iniciativas individuais.


ATENÇÃO NA SEGURANÇA PÚBLICA

Era com alívio e muita torcida que acompanhávamos as sucessivas quedas nos índices de homicídios registrados no Ceará e em Fortaleza ao longo de 2016. Lamentavelmente, os primeiros meses de 2017 apresentam uma reversão de tendência com um significativo aumento na quantidade de assassinatos. É imperioso que o Governo do Estado consiga fazer ajustes certeiros em sua política de segurança.

 

Os dados divulgados ontem são assustadores. Em abril, 37,6% a mais na quantidade de crimes em relação ao mesmo mês do ano passado. Na Capital, foram incríveis 86,7% a mais. Quase que dobrou. E o que aconteceu para isso? O fato mais notável foi o possível fim da trégua entre facções criminosas. Um reflexo aqui do que se deu em vários estados do país, incluindo São Paulo que se mantém com os índices melhores.


De positivo, a postura do Governo de não dourar a pílula, reconhecer que há um problema e manter a postura de dar transparência e credibilidade aos
índices da violência.

 

Adriano Nogueira

TAGS