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O cheiro da nova estação

2017-05-20 17:00:00

A vassaladores são os fatos. Para os que entendem os acontecimentos e sabem situá-los no contexto histórico, há motivos para otimismo. É o passado decrépito e moribundo sendo estraçalhado para então ser superado. Acabou. O mundinho político e administrativo, medíocre, cretino e patrimonialista, que se estabeleceu no Brasil desde a implantação da República está em franco processo de extinção. Antes tarde do que nunca.

Sim, vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estação. Aos 11 anos, em 1976, fui apresentado pelas minhas irmãs à Alucinação de Belchior. Guardo o vinil como uma relíquia de capa remendada com fita adesiva durex. Foram dias a fio, que se prolongaram por anos, ouvindo o mesmo velho Long Play. Garoto, adolescente tímido, sentia o impacto de letras que se tornariam clássicas.

Você pode até dizer que eu estou por fora ou então que eu estou inventando. Mas, é você que ama o passado e que não vê. É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem. Muitos viam na letra um clamor revolucionário. De esquerda. Mentes reducionistas. Solto um sorriso no canto da boca, quase lamentando, quando incautos se apropriam do pensamento, moldando-o ao gosto militante.
 

Sim, o novo é o porvir. A letra da música citada é universal. Bela, é clássica por ser atemporal. É perfeitamente adequada a qualquer época, a qualquer sociedade. Mais do que nunca, explica o Brasil de agora.

O novo é a superação do passado e não uma expressão ideológica. É a substituição do que ficou decrépito e senil pelo inexorável. É a mudança, termo já muito gasto que começou a ser freneticamente usado na política na década de 1980. Primeiro, nas disputas do movimento estudantil até ser apropriada pelas disputas eleitorais. É o implacável que surge, cedo ou tarde, com os ditames dos processos que ninguém controla. Como as novas tecnologias que impõem a transparência.

Depois de tudo o que vimos, assistimos e lemos, fica muito claro que o novo, gestado durante anos, vai se impor. Mas, muita calma nessa hora. Tudo é muito lento entre nós. É incrível a persistência e resistência do
atraso que se enraizou nos trópicos como em nenhum outro ponto da humanidade.

As coisas se precipitaram com a chegada do PT ao poder. Não pelo que o partido e seus próceres pregaram quando na oposição. No poder, foi a vez do que se dizia novo, autodeclarado hospedeiro de uma nova consciência e juventude, reproduzir ao cubo o que de mais velho e velhaco existia.

O PT apenas precipitou a decrepitude do sistema. Não por que assim o quisesse, mas sim por ter se mimetizado na velharia tornando-se amasiado do passado. E assim o fez por ser também velho e ultrapassado. Para manter a tropa de prontidão, dizia adorar uma ideologia que o mundo moderno já havia colocado em seu devido lugar: o monturo de lixo da História. Claro, sem deixar de contar o vil metal.

NA POLITEIA DAS PROPINAS
É preciso ser otimista. A crise não é nova. Arrasta-se, bruta e voraz, há três anos com a histórica recessão que virou depressão. No entanto, é possível que o futuro tão conclamado e ansiado pelos nossos pais tenha, enfim, se mostrado no horizonte. Claro, o horizonte transparece a derrocada do passado. Um raio de luz. Não há personificação.

A Lava Jato e seus vários braços foram os agentes dedetizadores. Ratos, baratas e sanguessugas borrifados com o veneno das investigações. A Operação está longe de ser perfeita. Nada disso. Há muitos erros, desvios de condutas e até ilegalidades. Porém, ela seguiu e prossegue. O velho poder não a barrou exatamente por ser matusalém e carcomido. Não há mais nada a se fazer mesmo que a Lava Jato seja anulada. A engrenagem já fez a roda girar.

Mas, o que surgirá no lugar do velho e do passado? Busco algumas pistas a respeito. Doutor em economia pela FGV, aonde ensina microeconomia e economia do trabalho, Eduardo Zylberstajn mantém um blog no Estadão ironicamente batizado de “Almoço Grátis”. Na última quinta-feira, sob o calor dos acontecimentos, o professor tentou responder à mesma questão.

Saiu-se com essa sentença: “Mas, se você acredita, como eu, que a Lava-Jato é o resultado de uma evolução enorme de nossa sociedade, ou seja, que é um dos frutos de nosso amadurecimento, então há motivos para sermos otimistas. Isso não tira, claro, o brilhantismo de todos os que estão contribuindo diretamente para passar o Brasil a limpo. Ora, se eles são uma expressão de nossa vontade como sociedade, então devemos comemorar (e muito) o fim da Politeia das Propinas – e nos organizar para o que virá depois”.

Pois é. O novo é inexorável, mas só será pródigo se a nossa sociedade organizar-se para construí-lo.

BALCÃO DAS PROMISCUIDADES
Não poderia haver melhor e mais competente propaganda a favor das privatizações. O capitalismo de estado montado no Brasil criou o caldo perfeito para proliferar a promiscuidade entre o público e o privado. O balcão de “favores” entre os dois lados. A corrupção.

As operações policiais tiraram o balcão da penumbra. Jogaram os holofotes sobre as negociatas e os negociantes. Acabou? Claro que não. Sempre haverá criminosos dispostos a cometer crimes. Quanto mais estatais e dependência do Estado houver, maior a corrupção. Já é clássico.

2018 JÁ GRITA
A parte que cabe ao Ceará nas delações da família Batista (Wesley e Joesley) é muito delicada e tem força suficiente para mexer no jogo político da sucessão estadual de 2018. Há, no caso, dinheiro público na veia. Vamos aguardar a atitude do governador Camilo Santana.

Fábio Campos

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