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A política não convive bem com o vácuo

2017-05-25 01:30:00

No primeiro momento da nova crise, ainda na noite de quarta-feira passada, escrevi em meu blog um texto com o seguinte título: “O melhor caminho é a renúncia”. Faz hoje uma semana. Havia naquele momento a clareza de que Michel Temer na Presidência passaria a encarnar a crise. Quanto mais tempo lá permanecer, pior. E assim tem sido.

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Temer virou a expressão da crise. A renúncia faria desencadear o fluxo definido pela Constituição. A saber: assume o presidente da Câmara dos Deputados enquanto o Congresso, em 30 dias, prepara e realiza as eleições indiretas. Detalhe: há vários vácuos na lei quando aos procedimentos a serem adotados, ao modelo de eleição, aos cidadãos que são elegíveis e outros pontos igualmente relevantes.


Além de todas as questões acima, a política tem suas peculiaridades. Ela se move em velocidade própria e sempre considerando seu instinto de sobrevivência. Não convive bem com o vácuo e trata de ocupar os espaços vazios. E o espaço vazio tem nome: o personagem possível e adequado para substituir Temer.


É uma construção dificílima. Principalmente se o colégio eleitoral em questão está repleto de suspeitos que priorizam salvar a própria pele. A crise de agora, que já tem três anos, possui um vazio que não havia nas outras grandes crises políticas do País: políticos com credibilidade e respeitabilidade capazes de oferecer um rumo seguro e confiável ao País. No fundo, trata-se de uma constatação velha e não há nada o que fazer a respeito.

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PARA COMPARAR

Vejam como são as coisas. A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou ontem o aumento da contribuição previdenciária de servidores públicos cariocas de 11% para 14%. O fato gerou violentos protestos de servidores públicos e confrontos com a Polícia Militar nas proximidades da Alerj.

 

No entanto, no final de dezembro do ano passado, vésperas do Natal, no apagar das luzes daquele período legislativo, a Assembleia do Ceará aprovou a mesmíssima medida e muito mais. Aumento de contribuição de 11% para 14% e mais tetos de gastos por 10 anos, o que limita a possibilidade de reajustes salariais acima da inflação. Como reação, apenas alguns muxoxos aqui e acolá, E nada mais.


É SEMPRE UM RISCO

Camilo Santana (PT) ouviu de mais de um interlocutor o seguinte conselho: o melhor para o Governo é que os dois secretários citados na delação da JBS se afastem de suas funções até que os casos sejam esclarecidos. Camilo a tudo ouviu com atenção, mas quem conhece o governador sabe que ele não é de adotar esse tipo de medida, mesmo pagando o preço de arrastar para dentro do Palácio da Abolição uma crise que não tem relação com sua administração, mas somente com sua campanha eleitoral.

 

A propósito, o pedido de impeachment do governador é uma peça sem pé nem cabeça. Não há nem sequer rastro de “crime de responsabilidade” para justificar pedido do tipo, que será solenemente engavetado.


OS ALVOS ERAM OUTROS

Do ponto de vista político, os mais prejudicados pelos lamentáveis eventos na Esplanada dos Ministérios são os próprios partidos e forças que encabeçaram as manifestações. Baderna, depredação e quebra-quebra formam um conjunto que a maioria da população rejeita enfaticamente.

 

Claro ficou que, sem a barreira da Polícia Militar, os atos de ontem chegariam à sede dos três poderes. Sobram casos como este nos últimos anos. Como não conseguiram avançar, se contentaram em depredar parte do patrimônio público e histórico desenhado por Oscar Niemeyer que não estava protegido pelas forças públicas.

 

Adriano Nogueira

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