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Uma crítica ao Uber e à miudeza política

2017-04-22 17:00:00

Pelos relatos, foi lamentável a atitude do Uber de aumentar o preço das corridas na hora em que, acuada, a população mais precisou. Não se pode apontar premeditação. O preço do Uber varia de acordo com a demanda. Um programa de computador regula o pêndulo por uma lógica muito simples: se a procura é pouca, o preço cai. Se a procura é grande, o preço sobe.

O fato acima não se relaciona com a retrógrada decisão do prefeito Roberto Cláudio de fazer tudo o que estiver ao seu alcance para impedir o funcionamento da concorrência ao sistema de táxi tradicional. Ao agir assim, o gestor se apequena ao responder apenas aos interesses de vereadores e de uma corporação e não aos da cidade.

Regulamentar Uberes, Táxi Amigo e afins sem criar taxas que façam os preços das corridas subirem permitiria à cidade estabelecer artigos contra abusos como os que ocorreram na crise dos ônibus incendiados. Com previsão nas regras, a empresa estaria apta a receber uma desestimulante multa por praticar exploração oportunista.

Porém, o pior dos mundos continua sendo a ação de proibir a saudável concorrência em nome de uma miudeza política. É sempre bom lembrar: o sistema de táxis melhorou muito com a concorrência. De qualidade e de preço. Por isso, continuo pegando táxis.
 

POLITICAGEM COM A DESGRAÇA E O CAOS
O pior erro que um político pode cometer é usar as desgraças a favor de suas pretensões políticas. O julgamento da população costuma ser duríssimo. Foi precisamente o que fez o deputado estadual Capitão Wagner (PT), ao usar a tribuna da Assembleia para atacar o governador Camilo Santana, chamando-o de “frouxo”. Como não poderia deixar de ser, recebeu uma resposta à altura.

No momento em que um grupo criminoso aterroriza a população, é hora de baixar o tom da política. É hora de unir forças e combater o criminoso, e não o operoso secretário da Segurança ou o governador. Afinal, o ataque do terror nada mais é que uma reação a medidas do Governo que os criminosos não gostaram, como prisões ou transferências de presos.

A semana do Capitão Wagner não foi das melhores. No mesmo dia em que o crime incendiava mais de uma dezena de ônibus na cidade e tentava tornar a cidade refém de bandidos, o deputado arregimentou sua tropa para mobilizar empresários do ramo de confecções que ocupam ruas do Centro, como a tombada rua José Avelino.

O Capitão quer ser prefeito. Uma das obrigações do síndico da cidade é organizá-la, impedindo ocupações ilegais e invasões do espaço público. Se há uma dinâmica econômica que interessa à cidade, é então papel do município articular uma boa saída. No caso, incentivar a instalação dos negócios que estão na rua em espaços adequados.

É precisamente o que vem sendo feito. A cidade (Fortaleza 2040) definiu uma área geográfica (Jacarecanga) para receber aquela atividade econômica. Daí provocou a iniciativa privada para que construísse shoppings populares com estacionamento, hotelaria, praça de alimentação e banheiros para receber em condições civilizadas e corretas do ponto de vista urbano, tanto vendedores quanto compradores.

É um imenso desserviço para a já sofrida loura desposada do sol um movimento que quer manter a caótica, suja, irregular e perigosa feira nas ruas históricas de nosso Centro.
 

QUEM VAI OCUPAR ESSE LUGAR NA POLÍTICA?
Volto ao que considero o mais instigante tema dos últimos anos e com forte relação com o futuro de nossa política e de nossa economia. Novas gerações de brasileiros formadas nos últimos 25 anos assimilaram valores que em nada se relacionam com o vitimismo, o pobrismo, o cotismo, o onguismo e todos os “ismos” e mimimis reinantes em determinado setor da sociedade.

O fato foi cientificamente exposto a partir de duas pesquisas. Uma acadêmica e outra oriunda da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. Esta última, intitulada “Percepções Valores Políticos na Periferia de São Paulo”, foi certeira ao identificar o perfil liberal das gerações que votaram no PT entre 2002 e 2012.

Para estes, o inimigo não é o empresário nem o patrão. Pelo contrário, são aliados na luta contra um estado espoliador que arranca dinheiro de seus bolsos e oferece de volta políticas públicas de baixíssima qualidade. Essa faixa social valoriza o mérito e sonha em empreender.

Na mesma linha, pesquisa feita nos morros cariocas em 2016 por Carlos Gutierrez, antropólogo da Unicamp, concluiu que o trabalhador dessas regiões não se identifica com o pensamento da esquerda, que vê tudo baseado na ótica da luta de classes. Um trabalhador que não quer só o emprego, que ser empreendedor, e valoriza o esforço e o mérito acima de tudo. É, portanto, um liberal.

Questão que fica no ar: que políticos estão falando para esse público?

Fábio Campos

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