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Primeiros atos de Bolsonaro
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Primeiros atos de Bolsonaro

Tipo Análise
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1) Sinais positivos na economia: o primeiro dia de governo Jair Bolsonaro (PSL) deixou o mercado eufórico. A Bolsa de Valores bateu recorde histórico e o dólar caiu. Era previsível a animação dos setores econômicos com o novo governo. Os sinais foram de continuidade de medidas do governo Michel Temer (MDB) e indicativos de reforma. O discurso de Paulo Guedes e outros gestores que assumiram os cargos foram na linha exata do que os investidores queriam ouvir. 

Se Bolsonaro for bem-sucedido na economia, terá aprovação. A pauta conservadora tem apoio da população. A questão é a capacidade de gerar emprego e fazer o País crescer. Para isso a aposta é alta. Guedes falou em abandonar a "legislação fascista da CLT". A lei trabalhista mudou há pouco mais de um ano e a promessa dourada de geração de empregos até agora não aconteceu. Outra ideia do governo é ter critérios mais rígidos para aposentadorias. São duas questões muito delicadas. Se não trouxerem, e rápido, os resultados de crescimento e emprego, haverá custo político alto.

O primeiro passo de Bolsonaro na economia foi muito positivo para ele. Porém, tudo que houve foram acenos. Reflexo da confiança injetada. Porém, o efeito é efêmero se não tiver consistência - vide o que aconteceu com Michel Temer (MDB), que entregou a economia bem aquém do que se anunciava à época do impeachment. 

2) População LGBT e diversidade: medida provisória publicada ontem retirou a população LGBT das diretrizes de direitos humanos. Pelos dados mais recentes, relativos a 2017, o Brasil teve uma pessoa assassinada por homofobia a cada 19 horas. O desmonte de políticas públicas para o combate ao preconceito envolve a vida e a morte das pessoas. Não se trata de futrica de rede social. É seríssimo o que está sendo feito.

3) Educação e inclusão: com fim anunciado a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão era responsável pela inclusão escolar levando em conta questões de raça, cor, etnia, origem, posição econômica e social, gênero, orientação sexual, deficiências, condição geracional e outras que possam ser identificadas como sendo potenciais fatores de exclusão. Do bullying à violência, passando pela miséria, são muitos os fatores que afetam o desempenho escolar e a própria frequência à sala de aula. O governo trata questões sérias com a ótica de que isso é mimimi e age como quem escreve textão no Facebook.

4) Indígenas, quilombolas e agronegócio: simples entender o que significa entregar a demarcação de terras indígenas e quilombolas ao Ministério da Agricultura. Com o assunto na Funai, a prioridade eram os indígenas. No Incra, os quilombolas. Na Agricultura, as demarcações obedecerão à lógica não dos segmentos sociais, mas dos produtores rurais.

Bom, mas Bolsonaro disse antes da eleição e repetiu depois de eleito: "No que depender de mim, não tem mais demarcação de terra indígena". Bom, então pouco importa mesmo quem ficará responsável pelo assunto, não é?

5) PT erra feio: é errada na imagem que transmite e na estratégia que adota a recusa do PT ao diálogo com o governo. Tem razão o líder do partido, deputado Paulo Pimenta, quando afirma que o convite ao diálogo não condiz com o comportamento do presidente. O aceno partiu do chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Ocorre o seguinte: por um lado, fica antipático perante a opinião pública dizer que não vai dialogar. Independentemente de todo o contexto, houve um chamamento a conversar. A oposição é minoritária. Ao dizer que não quer conversa, puxa para si ao menos parte da imagem de intransigência. Reforça a imagem de que são semelhantes, apenas com sinais trocados. A recusa a conversar é um favor do PT a Bolsonaro.

Acho que a oposição já errou ao boicotar a cerimônia de posse. Goste-se ou não de tudo que Bolsonaro representa, desde terça-feira, ele passou a representar mais do que o próprio pensamento. Expressa, também, a posição que a maioria dos eleitores escolheu. Cabe respeitar. Em 2014, a então oposição também boicotou, embora não em bloco, a posse de Dilma Rousseff (PT). Aécio Neves, Aloysio Nunes Ferreira (ambos PSDB) e Agripino Maia (DEM) puxaram as ausências. Errados estavam também.

O erro vai além da imagem que transmite. Estrategicamente, a oposição tem mais chances de conseguir interferir e mudar algo nos projetos do governo se sentar à mesa para negociar do que na disputa voto a voto. Se o PT quiser ter alguma voz nas decisões, seria melhor sentar e conversar. Caso queira apenas jogar para a plateia, também foi mal, pois saiu antipático.

Foto do Érico Firmo

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