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Os passos definitivos
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Os passos definitivos

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Atentados criminosos persistiram ontem pelo Ceará, mas com muito menos força. Houve duas estratégias emergenciais de enfrentamento às facções criminosas. A primeira é o policiamento ostensivo e a repressão aos atos criminosos. A segunda é, ao mesmo tempo, reação e estopim da onda de violência. Trata-se da ação dentro dos presídios, para impedir que detentos continuem a cometer crimes. Os canais de comunicação com o exterior são cortados e líderes são enviados para fora do Estado. Como resposta imediata, as ações são as corretas. Como solução de longo prazo, o poder público precisará ir além.

 

Seguir o dinheiro

 

Qualquer iniciativa contra o crime organizado, para ter sucesso, passa necessariamente por cortar os canais de financiamento do crime. Enquanto correr dinheiro, as pessoas aceitarão correr riscos. A boa notícia é que, tanto no governo Jair Bolsonaro (PSL) quanto na administração Camilo Santana (PT), há sinalizações nessa direção. O lado ruim é que o discurso não é novo. Precisa virar ação.

 

Nesse aspecto, Sergio Moro pode se revelar a pessoa certa para momento tão crítico. A experiência no combate à lavagem de dinheiro pode se revelar providencial nesse enfrentamento. O ex-juiz chegou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública como referência - polêmica que seja - de combate à corrupção. Porém, pode usar os conhecimentos nessa trincheira, um tanto improvável.

 

Aliciamento

 

Sufocar o financiamento das facções é tarefa talvez menos complexa que o segundo passo indispensável para desmontar as facções: evitar o recrutamento de membros, basicamente jovens das periferias. Essa missão está absolutamente atrelada à outra: o fato de as facções terem dinheiro atrai novos membros e o fato de terem integrantes permite que ganhem mais e mais dinheiro.

 

Ocorre que o aliciamento de jovens vai além do dinheiro. Envolve status nas comunidades, glamour e glamourização. As facções ganham aura de heroísmo e se tornam objeto de aspiração e desejo. Jovens que entram para o tráfico podem adquirir bens e serviços que outros adolescentes muitas vezes não conseguem comprar. É algo subjetivo, difícil de enfrentar.Trata-se de construção no campo simbólico. Leva tempo para criar e, também, para desconstruir. Porém, é tarefa necessária.

 

No mês passado, o repórter Thiago Paiva abordou os obstáculos enfrentados por quem está nas facções e tenta sair. Você pode ler neste link: bit.ly/saidacrime

 

O limite das ações

 

Como iniciativa emergencial, o policiamento ostensivo é imprescindível. Mas não é solução de longo prazo. Como já escrevi, a estratégia dos atentados se assemelha à guerrilha. É preciso pouca gente para efetuar ataques. Podem ocorrer em qualquer lugar, usam elemento surpresa, são imprevisíveis. Por isso, com uma semana completa, ainda ocorrem ataques. Mesmo com reforço da Força Nacional e apoio de policiais de estados diversos. Ainda assim, não há escolta que chegue para toda a frota de ônibus de todos os municípios, para todos os municípios, todos os prédios públicos, todos os veículos de concessionários. Não é possível policiar o tempo todo todas as ruas de todas as cidades. O cobertor sempre será curto e sempre haverá onde criminosos possam agir. É preciso ir mais fundo, atacar raízes mais estruturais.

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A primeira parte da tarefa tem sido cumprida. A normalidade dos serviços 

gradualmente é retomada. Mas é preciso dar passos além, ou o Estado seguirá vulnerável aos caprichos da delinquência.

 

O bem-vindo recuo de Kim

 

Comentei ontem a teoria estapafúrdia do deputado eleito Kim Kataguiri, líder do MBL, sobre ataques no Ceará. Para ele, plano maquiavélico de Camilo Santana (PT) para prejudicar Bolsonaro. Ontem, em novo vídeo, Kim recuou. 

 

"Tenho humildade de reconhecer quando a gente erra, não tenho nenhum problema em admitir". Ele conversou com o senador eleito Eduardo Girão (Pros) e com gente do MBL no Ceará, que o alertaram dos equívocos. Ele não deixa de responsabilizar Camilo pela crise, no que tem sua parcela de razão, e aponta razões eleitoreiras na demora em pedir auxílio. Mas ao menos recua da tese mirabolante que havia elaborado. Kim errou, sobretudo, ao comentar crise muito complexa de realidade que não conhece.

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