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O momento da Polícia Civil
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O momento da Polícia Civil

Política
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A primeira estratégia governamental contra os ataques no Ceará foi reforçar o policiamento ostensivo. A Força Nacional foi mobilizada, estados enviaram reforços. Policiais de folga foram chamados e pessoal que estava na reserva foi convocado. Mesmo assim, o esforço para coibir ataques é inglório. Eles caíram, drasticamente. Mas, é quase impossível evitar por completo que ações isoladas aconteçam. Por mais policiais que haja nas ruas, eles podem atacar em qualquer lugar. São 119 bairros de Fortaleza, sem falar de outros 183 municípios. A Polícia ostensiva é a resposta emergencial. Era imprescindível numa crise como a atual. Porém, pela forma como agem as facções - com métodos de guerrilha, pulverizadas nas comunidades e recrutando membros em toda parte - não será com Polícia ostensiva que a crise será debelada por completo.

 

Pela natureza desse conflito, a solução passa necessariamente por fortalecer a Polícia Civil.

 

Força negligenciada

 

De forma tardia, o governador Camilo Santana (PT) dá passos na direção de corrigir negligência histórica do Estado do Ceará em relação à Polícia Judiciária. Durante a última campanha eleitoral, anunciou concurso para 1.496 vagas. Também convocou aprovados em concursos anteriores. São passos para reverter situação vexatória: o Ceará tinha o menor efetivo proporcional do Brasil.

 

Polícia Militar também investiga, também tem inteligência, mas essas são atividades da essência da Polícia Civil. Nas últimas semanas, há exemplos da importância dessa ação. Em 12 de janeiro, a Polícia Civil apreendeu cinco toneladas de explosivos no Jangurussu. Quatro dias depois, novamente a Polícia Civil encontrou 700 quilos de explosivos, dessa vez na Granja Lisboa. Ontem, foi a Polícia Militar que prendeu dupla com 500 litros de combustível.

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Essas iniciativas apontam o caminho: antecipar ações, interceptar ordens, identificar os líderes, prendê-los, isolá-los. É trabalho sofisticado, complexo. 

 

Exige gente experiente, bem treinada, com estrutura para atuar. Ainda assim, é tarefa menos inglória que correr atrás, depois dos ataques realizados, de grupos numerosos, pulverizados, que podem atacar em qualquer lugar do Estado. Não tem polícia que chegue para cobrir tudo.

 

Digo isso sem demérito algum da Polícia Militar, cujo papel é imprescindível nesse momento. Era mesmo o primeiro contingente a ser mobilizado. A resposta imediata e contundente. Mas, ambas têm seus papeis e são fundamentais. Não faz sentido a rivalidade que tem havido esses dias.

 

Os ataques persistem como espasmos, que tentam sinalizar ao governo e à população que a normalidade não foi retomada. Tentam manter a pressão. É jogo de paciência e persistência. Os governos fizeram o que precisavam no primeiro momento, com a polícia ostensiva. Porém, o passo além virá da inteligência, sobretudo da Polícia Civil. Claro, isso já está sendo feito - não dá também para alardear.

 

Porém, a Polícia Civil ainda carece de mais gente, mais investimento. É como saneamento básico, no qual governos deixam de investir por não dar visibilidade. Polícia Militar, importantíssima que é, além de tudo rende propaganda. Está nas ruas para todo mundo ver. Polícia Civil trabalha na surdina. Ainda mais quando na inteligência, aí é que o trabalho quase não aparece. O ideal é que os crimes sejam evitados, aí se ganha menos projeção ainda.

 

Policiais reclamam constantemente da Justiça por soltar quem eles prendem.  Por outro lado, juízes criticam a baixa qualidade dos inquéritos. Pois bem, essa qualificação passa investir na Polícia Civil.

 

Outro aspecto alarmante é a quantidade de crimes não solucionados, inclusive homicídios. Coisa da casa de 70% a 80%. Quer dizer o seguinte: se alguém comete homicídio, a chance de não ser descoberto é bastante considerável. Resolver isso, novamente, passa por Polícia Civil.

 

Camilo anuncia contratações investimentos. É ridículo que o Ceará, que tanto dinheiro investiu em segurança desde meados da década passada, tenha deixado o contingente dessa força tão importante chegar ao ponto de ser o menor efetivo do Brasil, proporcionalmente. Demorou até Camilo começar a dar passos para solucionar a questão.

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