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As muitas faces da corrupção
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

As muitas faces da corrupção

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A Secretaria da Administração Penitenciária apreendeu 2,3 mil celulares em presídios no intervalo de 21 dias. Média superior a 100 por dia. Um descalabro. Scanners corporais foram instalados em todos os grandes presídios do Ceará. O equipamento identifica objetos nas roupas ou no corpo de visitantes. Até chips de celulares são identificados. Pode ser que visitantes escondam os celulares tão incrivelmente bem que driblem a tecnologia. Isso ou alguém de dentro do sistema ajuda para que os aparelhos entrem na unidade. O que é mais provável?

 

A corrupção tem muitas formas, não restritas a desvio de dinheiro e pagamento de propina. As maneiras como servidores do Estado se corrompem são diversas. É difícil imaginar que milhares de celulares driblem a vigilância, entrem nos presídios e sejam usados lá dentro sem colaboração de alguém. 

 

Nas mesmas vistorias, encontraram plantação de maconha na cadeia de Pacoti. Será que escondiam tão bem que ninguém achou antes? Em tempo: no começo do mês, 23 presos fugiram ao mesmo tempo. É o caso, também, de averiguar se não tiveram ajuda.

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Esse é um dos dramas dos presídios do Ceará: não se consegue evitar, ao menos até agora, que objetos ilícitos entrem. E, o pior, não se evita que quem está lá dentro cometa crimes. O que torna inútil muito do esforço da Polícia para prender criminosos.

 

O papel dos policiais em Milagres

 

Oito dos doze policiais que estavam afastados das funções desde a tragédia em Milagres retornaram às atividades. As investigações concluíram que eles não estavam envolvidos no confronto que terminou com seis reféns mortos. 

 

Além disso, outras oito pessoas morreram, apontadas como participantes da ação criminosa. Os oito policiais, integrantes do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), estavam afastados desde 10 de dezembro. Outros quatro policiais permanecem afastados.

 

Algumas considerações: é fundamental que as investigações sejam rigorosas, criteriosas e justas. Então, se ficou constatado que os policiais não participaram diretamente da ação, é corretíssimo e imprescindível que retornem às atividades. Aliás, assim sendo, é uma pena que tenham sido afastados. Pior que a impunidade é punir inocentes. Isso vale para qualquer um, em particular policiais, que teriam sido eventualmente injustiçados no exercício do dever e colocando a vida em risco.

 

O caso de Milagres foi gravíssimo e precisa ser muito bem esclarecido. Para não deixar de punir quem errou e para não deixar imagem de culpa sobre quem agiu certo. Seis reféns foram mortos e o povo tem direito de saber o que houve. É preciso saber se os policiais investigados estavam lá e, também, se os que participaram diretamente cometeram erro na ação. Porque, embora haja indícios disso, não é algo que esteja provado. Os oito policiais que voltaram ao trabalho não estariam envolvidos, mas tampouco está comprovada a culpa dos outros quatro.

 

Há, todavia, outras interrogações: quem efetivamente participou da ação? Afinal, seis reféns morreram e oito dos criminosos - embora dois deles em momento posterior. Vamos combinar, não foram apenas quatro policiais que enfrentaram semelhante quadrilha. Caso tivesse sido, seria uma temeridade. Então, sem que isso signifique que eles são culpados, é importante saber quem estava lá e qual foi o envolvimento.

 

Aliás, o próprio fato de que chegaram a ser afastados oito policiais que, segundo se constatou na investigação, não estavam diretamente envolvidos no confronto demonstra que não se sabia ao certo quem participou do episódio. Amostra do aparente grau de bagunça e descoordenação, que já havia sido apontado no caso.

 

A raiva da imprensa

 

Jair Bolsonaro não gosta de jornalistas. Direito dele. Juro que entendo. Mas, ele agiu de forma inadequada ao cargo, ao desmarcar entrevista coletiva 40 minutos antes de ela ocorrer. O motivo alegado: "abordagem antiprofissional da imprensa".

 

Aguardavam por ele jornalistas suíços, alemães, chineses, mexicanos, portugueses. Vá lá que esteja com raiva da imprensa nacional. O que estrangeiros têm com isso?

 

Ele não é obrigado a dar entrevista. Mas, desmarcar minutos antes, surpreendendo até a organização de Davos, pega mal para o País. O candidato podia agir com fígado. Agora, a desfeita é do presidente do Brasil.

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