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Triste destaque do Ceará
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Triste destaque do Ceará

Tipo Opinião

Ontem foi dia em que o Ceará foi destaque pelo Brasil e pelo mundo. Da forma mais triste possível. Havia sido assim no primeiro mês do ano, quando 14 pessoas morreram na Chacina das Cajazeiras, a maior da história do Ceará. Foi assim ontem, quando, novamente, 14 pessoas morreram em ataques no Cariri.

O ano de 2018 terminará com redução dos homicídios no Estado. A queda da violência ocorre na comparação com 2017, o mais violento da história do Ceará. Teve 5.133 mortes em homicídios, roubos seguidos de morte ou lesões seguidas de morte. De fato, 2018 será melhor. Caminha para terminar como o segundo mais violento da história. Não é um alento. Foram 4.190 mortes violentas até novembro. A se manter a média de 380 por mês, passará dos 4.439 de 2014, recorde de homicídios até Camilo tomar posse.

Assim o Ceará chamou atenção do Brasil e do mundo: com matanças em larga escala, com execução de chefes de facções criminosas. Com mortandade. Ontem, as mortes no Estado abriram o Jornal Nacional e correram o mundo. O massacre em Milagres despertou atenção do mundo por se tratar de ação com refém. É sempre dramático.

As informações divulgadas pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) indicam que ocorreu basicamente o seguinte:

1) Informações compartilhadas entre as forças de segurança de Ceará, Bahia, Sergipe e Alagoas indicaram que haveria ataque a bancos em Milagres ou Missão Velha. 2) Grupo armado chegou a Milagres durante a madrugada e tentou atacar as agências. Caminhão foi usado para bloquear a BR 116. 3) Pelas informações preliminares, pessoas que passavam pela BR 116 foram feitas reféns e levadas até os bancos. 4) Quando o Batalhão de Choque chegou ao local, o ataque aos bancos estava em curso. Na troca de tiros, cinco integrantes do grupo criminoso foram baleados e morreram no local. Outros dois foram feridos, levados até o hospital, mas não resistiram e morreram.

Oitavo suspeito de envolvimento morreu em confronto com policiais no município de Barro. 5) Além dos criminosos, outras seis pessoas morreram.

Seriam os reféns. A circunstância dessas mortes a SSPDS não explica. Disse apenas: "Além dos criminosos, outras seis pessoas foram feridas e morreram durante a ação criminosa".

A história é mal contada. Há muitas dúvidas e pouca transparência. Ao longo do dia de ontem, a SSPDS tentou impedir que policiais dessem informações à imprensa. A secretaria queria controlar a informação - e demorava a explicar algo. Motivo extra para desconfianças.

Dúvidas: quem atirou nos reféns? Há de se imaginar que foram os criminosos, mas é o caso de fazer exames de balística. Suponhamos que foram assassinados pela quadrilha quando esta se viu acossada pelos policiais. Nesse caso, terá sido uma ação desastrada das forças de segurança. Numa ocorrência com reféns, nada é mais importante que preservar a vida desses reféns. A abordagem tem de ter cuidado redobrado. Isso para nem trabalhar com a hipótese de as vítimas terem sido usadas como escudo humano, de em alguma circunstância terem sido mortas pelas balas dos policiais. Seria ainda pior.

Camilo foi bem infeliz

Camilo Santana (PT) foi particularmente infeliz ao comentar o assunto. Questionado pelo jornalista Thiago Paiva sobre a morte dos reféns, o governador disse que não tinha aquela informação e achava estranho que reféns passassem por ali àquela hora. Inacreditável. A família que tem cinco dos seis mortos passava por lá porque vinha do aeroporto de Juazeiro do Norte. Passavam pela BR 116 àquela hora porque o avião chegou àquele horário. Voo, aliás, que o Governo do Estado se empenha para viabilizar.

O governador ainda encontrou o que salientar na ação policial. Pareceu estar satisfeito com o trabalho de inteligência. "Houve uma antecipação nisso. O fato é que estavam preparados para assaltar dois bancos e não assaltaram nenhum". A mim pareceu transparecer que viu lado bom no resultado.

Mas, o pior talvez tenha sido o governador dizer que não tinha informação sobre o que de mais grave havia ocorrido. Era por volta de meio-dia e o episódio se passara na madrugada. É inaceitável que Camilo, eleito e reeleito para administrar o Estado, não tivesse todas as informações do caso. Ainda mais fazendo insinuação sobre os cadáveres de uma família.

Foto do Érico Firmo

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