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O buraco na saúde
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O buraco na saúde

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O preenchimento de vagas no Mais Médicos mostra que o problema da falta de profissionais em municípios do Interior não será resolvido tão facilmente. Comemorou-se a rápida ocupação das vagas. Daí, houve quem concluísse que nunca faltaram médicos e que o programa era uma empulhação para financiar a ditadura cubana. Infelizmente, o problema maior que as futricas ideológicas. O que fica claro é que muita gente está se inscrevendo no Mais Médicos e deixando o Saúde da Família. Como se diz lá em Maranguape, cobrem um santo e descobrem outro.

 

A situação expõe vários dos dilemas da saúde brasileira. Por que esses profissionais preferem o Mais Médicos? Por se tratar de programa federal, com dinheiro garantido. O Saúde da Família fica a cargo das prefeituras. Muitas vezes o pagamento atrasa. Além disso, o Mais Médicos garante férias, o que nem sempre está assegurado nos contratos de Saúde da Família. (Lembra do argumento de que o Mais Médicos "escravizaria" os cubanos?)

 

Todas essas situações são absurdas. Os profissionais precisam receber em dia e ter direito a férias. Há muitos problemas a serem atacados. O mais grave deles: a população dos menores e mais pobres municípios precisa de médicos.

 

Em resumo: as vagas preenchidas com o edital do Mais Médicos podem ser de profissionais que já atuam na atenção básica. Não representarão novos médicos, mas outra situação contratual para os mesmos profissionais. Culpa dos médicos? Não. Culpa de uma situação trabalhista que já era problemática na Saúde da Família.

 

O ponto é: como será resolvido o problema? E resolvido no longo prazo, porque a vinda dos cubanos sempre foi tratada como saída emergencial.

Quando as vagas no último edital começaram a ser preenchidas, houve quem defendesse que nunca faltaram médicos. Mas, o fato é que os cubanos só eram chamados quando sobravam vagas. O Mais Médicos funcionava assim: a) A prioridade sempre foi de formados no Brasil; b) se as vagas não eram preenchidas, eram convocados os formados no Exterior que tenham passado na prova do Revalida; c) Se ainda sobravam vagas, eram chamados brasileiros formados no Exterior e que não fizeram Revalida; d) se ainda havia vagas, eram chamados estrangeiros formados no Exterior e sem diploma validado no Brasil. Depois de tudo isso, se ainda havia lugares sem médicos, eram contratados cubanos, por intermédio do governo da Ilha. Ou seja, eles estavam em locais, realmente, para os quais não havia interessados, brasileiros ou de outras nacionalidades.

 

O Globo mostrou ontem que ainda há municípios na Amazônia e comunidades indígenas para as quais ainda não apareceram interessados. Quando se soma às centenas de médicos que estão saindo do Saúde da Família, há buraco considerável aberto. O perigo é se ficar numa futrica de Bolsonaro contra PT e não se atacar o problema central: como garantir médicos nesses lugares?

 

Entidades dizem que não faltam médicos. Pode ser, mas também não falta emprego. Ou vocês conhece algum que esteja sem ter um local sequer onde trabalhar? Então, os médicos que têm emprego nas capitais e grandes cidades haverão de ir por que para os rincões, para as florestas? Esse é o ponto. Como já comentei, a solução poderia ser, talvez, carreira pública nos moldes da magistratura, com promoção dos pequenos para os grandes municípios conforme o tempo e a competência. É uma das ideias. Outras existem. É preciso colocar em prática.

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O problema e a solução

Esse problema, é importante ficar claro, não é causado pelos médicos. Se eles têm emprego em outro lugar, não se pode obrigá-los a ir aonde não querem. Pode-se construir política pública indutora, que crie condições para tal.

 

Por um lado, não se resolve problema da saúde apenas com médico. Por outro, não há solução sem eles. Nem eles nem enfermeiros, farmacêuticos, técnicos? Como também já escrevi ao apontar o que considero problema do Escola Sem Partido: não se resolve educação sem professor, nem tratando-os como problema. Como não se resolve problema da segurança sem policiais.

 

Há questões a corrigir? Com certeza, em todas as áreas. Há incompetência, desonestidades, desvios em todas essas áreas? Claro. Situações que devem ser atacadas. Entretanto, a solução passa necessariamente por eles. No caso da saúde, médicos são solução. Até por isso, é preciso garantir que estejam em toda parte.

 

Foto do Érico Firmo

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