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Bolsonaro e a tentativa de uma política pós-partidos
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Bolsonaro e a tentativa de uma política pós-partidos

Tipo Opinião
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Jair Bolsonaro (PSL) iniciou nesta semana seu mais profundo mergulho na política tradicional desde que se lançou candidato a presidente. Na montagem do palanque de campanha e na composição do primeiro escalão, o presidente eleito agiu diferente de qualquer campanha que já tenha sido competitiva. Não negociou nos termos convencionais, não buscou as conhecidas formas de aliança. Em outros tempos, a falta de alianças teriam-no levado à derrota inapelável. Apostou que a política brasileira mudou profundamente e ganhou. Ao menos o primeiro round.

Bolsonaro foi bem-sucedido na etapa do jogo que foi decidida pelo eleitor. Não era fácil nem provável. Mas, essa segunda provação é mais difícil. Tentará estabelecer novos parâmetros na relação com deputados e senadores. Esse jogo é mais pesado. 

Na montagem do ministério, de 21 ministros escolhidos até agora, cinco são deputados federais, outro foi dirigente partidário colocado por Bolsonaro no PSL e uma é assessora parlamentar de senador. Sete dos 21 são ligados à política convencional. Três do DEM, dois do PSL, um do MDB e uma ligada ao PR.

A proporção é a menor de que se tem notícia. Além disso, a forma de indicação não obedeceu aos moldes comuns. Não foram indicações dos partidos. Foram escolhidos por Bolsonaro ou indicados por grupos de interesse. Os partidos consentiram, sem necessariamente prometer apoio.

Nesta semana, já com praticamente todo o primeiro escalão preenchido, Bolsonaro sentou com os partidos: MDB, PRB, PSDB. Nenhum prometeu apoio, todos deram indicativos de votarem a favor das reformas.

Bolsonaro não quer dar cargos. Quer dar influência aos parlamentares nas políticas de governo. Seu discurso é de não receber indicações, mas de compartilhar o exercício do poder. Eles poderão direcionar investimentos, sugerir aplicação de verbas, destinar obras. Pode dar certo, mas é instável.

Quando tem ministro indicado pelo partido, o sujeito chegará para dar expediente no dia seguinte à votação. Se o deputado conseguiu ontem verba para seu reduto eleitoral, isso não necessariamente assegura o voto do parlamentar no dia seguinte. Se a expectativa for criada a cada votação, o "toma lá, dá cá" periga ficar maior.

Bolsonaro tem dito que não sabe a fórmula do sucesso, mas conhece a do fracasso. Ele tem razão. Os métodos tradicionais levaram ao fisiologismo clássico e patrimonialismo enraizado. Faz sentido tentar algo diferente e, realmente, não repete receitas.

Acordos com bancadas são incertos

Há raciocínio interessante na lógica de Bolsonaro. Ele entendeu que, para a bancada ruralista, por exemplo, a questão agrária é muito mais importante para eles que a filiação ao MDB, PRB ou PSC. Para a bancada evangélica, importa mais a questão religiosa que pertencer a PP, PPS ou PMN. Então, Bolsonaro atende a essas bancadas, São mais ideológicas, mais identificadas com seu governo. Então, os laços tendem a ser mais firmes.

Faz sentido. Problema: votações que não tenham relação com o tema que unifica as bancadas. Em questão que não envolva o agronegócio, os ruralistas votarão juntos, em troca da interlocução com o governo e pela ministra que os representa?

O desenho político é complexo. Há partidos, há bancadas temáticas. Mas, há os interesses paroquiais, a relação com governadores, prefeitos. Tudo isso influencia a posição dos parlamentares. É improvável que toda essa complexidade seja esvaziada em nome das bancadas temáticas.

Partidos esperam para ver

O movimento de Bolsonaro se tornou viável em cenário no qual os principais partidos saíram muito fracos, esfacelados até. PSDB implodiu e é reconstruído sob comando de João Doria. O MDB murchou, mesmo com a Presidência da República até 31 de dezembro. Bolsonaro arquiteta uma política pós-partidos.

As velhas burocracias partidárias observam. Estão fracas e não farão nada agora. Esperam para ver no que vai dar. Mas, ninguém imagine que assistirão quietos ao esvaziamento de seu poder. Se tiverem espaço, irão contra-atacar.

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