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Recusar COP 25 é galopar rumo ao atraso
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Recusar COP 25 é galopar rumo ao atraso

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A ideologização na política externa do governo Jair Bolsonaro (PSL) já mostra resultados que podem custar caro. Ideologia e pura ideologia explicam a decisão do Brasil de não sediar a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 25. Bolsonaro citou o custo da realização do evento e potenciais perdas que o País teria com acordos a serem propostos. Ora, a posição que o País eventualmente assuma é aspecto importante, mas posterior à decisão de receber o evento. E, sobre o custo, é o caso de medir o tamanho do prejuízo com o mal-estar diplomático causado. O Brasil não se encaminhava para sediar a conferência porque lhe caiu no colo. O governo Michel Temer (MDB) articulou, trabalhou e conseguiu apoios para tal. Quando recua, o mundo não quer saber se trocou governo. A imagem transmitida é de que o País é uma bagunça. Vale ressaltar que alternâncias de poder nunca haviam sido motivos de muitos solavancos na política externa brasileira. Dessa vez já é diferente.

Receber a COP 25 traria chefes de Estado, cientistas, diplomatas, empresários. Colocaria o Brasil em vitrine, na qual já esteve na Rio 92. Renegar o evento afronta a comunidade internacional - onde está o dinheiro, inclusive. Fecha portas para outros eventos do tipo e gera desconfiança. Nada de positivo vem daí.

Meio ambiente não é apenas defender árvore, golfinho e mico-leão-dourado. É negócio. Dinheiro. Transações internacionais levam em conta aspectos ambientais. Para comprar, por exemplo, carne brasileira, países estabelecem exigências, que passam pelas condições de produção e sustentabilidade. Segundo relatório de investimento global da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), dos 18 acordos internacionais firmados em 2014, 14 tinham dispositivos sobre proteção à vida animal, vegetal, humana e recursos não-renováveis; 14 tinham cláusulas que proibiam a redução da proteção ao meio ambiente na busca de investimentos e 12 tratavam de proteção ao meio ambiente já no preâmbulo.

Na Argentina, o presidente francês Emmanuel Macron, um liberal, deu recado a Bolsonaro: "Não sou a favor de que se assinem acordos comerciais com potências que não respeitem o Acordo de Paris. Tenho pedido a minhas empresas que se adaptem e não assinarei tratados com países que não o façam ou não o respeitem".

Interesses e alinhamento

A política externa de Bolsonaro busca alinhamento com Donald Trump e fica muito explícita do gesto do presidente de prestar continência a um assessor do presidente americano e de Eduardo Bolsonaro sair de reunião em Washington com boné da campanha de reeleição de Trump . Nenhum problema. A coisa se complica quando o Brasil começa a achar que é o Estados Unidos e que os interesses são os mesmos.

Os Estados Unidos têm dinheiro, poder e influência com os quais o Brasil jamais sonhou. Tem peso para impor suas posições em negociações bilaterais. O Brasil, não. Tem peso para grandes brigas globais. O Brasil, não.

Por outro lado, o Brasil talvez seja a única grande economia global a se tornar mais competitiva no cenário de baixo carbono. Percebe a distância que separa o País dos Estados Unidos.

A Casa Branca defende seus interesses, ainda que os mais imediatos. Achar que a situação é idêntica, que pode ser replicada exatamente e que há condições para agir do mesmo jeito beira o analfabetismo funcional.

Brasil, Estados Unidos e Haia

Não é a primeira vez que o Brasil acha que seus interesses são comuns aos dos Estados Unidos. Era assim em 1907, quando o barão do Rio Branco era ministro das Relações Exteriores e Rui Barbosa representou o País na Segunda Conferência Internacional da Paz de Haia. Estava em debate a criação de corte internacional para arbitragem de conflitos. A tese apresentada para composição do tribunal elencava diferentes categorias de países. A posição brasileira até então entendia, de fato, que os diferentes tamanhos entre nações haveriam de ser considerados nesses fóruns. Mas, qual foi a surpresa brasileira ao saber que estava categorizado lá embaixo. Fracassaram as tratativas para classificar melhor o Brasil e, então, Rui Barbosa fez sua célebre defesa da igualdade jurídica entre os estados. O Brasil se dera conta de que seus interesses e o das potências não eram uma coisa só. O problema é que lições são esquecidas se não lembradas de tempos em tempos.

 

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