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Indicativo de Bolsonaro sobre Previdência é bom
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Indicativo de Bolsonaro sobre Previdência é bom

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As declarações de Jair Bolsonaro (PSL) sobre a Previdência trazem indicativos bastante razoáveis. Veiculadas pela TV Aparecida, elas colocam em questão o plano draconiano sinalizado pelo ministro indicado da Economia, Paulo Guedes.

 

O presidente eleito disse que não se pode ter aposentadoria aos 65 anos para todo mundo. Mostrou-se contra equiparar todo mundo. Para alguns segmentos, nem mesmo 60 anos é razoável, ele disse. E apontou como ideia uma aposentadoria para servidores públicos aos 61 anos para homens e 56 para mulheres.

 

Bolsonaro também questionou o modelo de capitalização sugerido por Guedes. O próprio presidente eleito disse, em entrevista à Band, desconfiar da ideia. Questiona, por exemplo, da sustentabilidade do modelo de poupança individual do trabalhador. Da capacidade de financiar a velhice dos aposentados. Há motivos para desconfiar mesmo.

 

Em uma coisa, particularmente, Bolsonaro foi feliz: "Você fazendo acertos de forma gradual, atinge o mesmo objetivo sem levar pânico à sociedade". Isso é importante e é algo que os governos anteriores não entenderam. Os problemas da Previdência se acumulam ao longo de décadas. Não dá para fazer ajuste do dia para noite, despencando na cabeça de uma única geração. Não dá para mudar tudo de uma vez.

 

A transição possível

É possível, sim, fazer uma transição gradual, que não desabe de uma vez sobre a vida das pessoas. Claro que o aumento da expectativa de vida exige ajustes, que precisarão ocorrer ao longo do tempo. Mas, isso não precisa ser abrupto.

 

O Brasil tem margem para resolver esse problema de forma escalonada, equilibrada, sem pirotecnia, sem arroubos, sem guinadas bruscas. Sobretudo, é equivocado olhar o número global da Previdência como coisa única. Há várias nuances. Por exemplo: a aposentadoria dos servidores federais vive realidade que pode ser administrada com moderação. Já a situação nos estados é periclitante e exigirá medidas mais drásticas. Olhar de forma uniforme agrava a situação de uns e não dá dimensão do tamanho do problema de outros.

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Para além do problema

Como já escrevi, aposentadoria não pode ser vista apenas como problema. Ela é enorme solução, que evita que a miséria entre idosos seja ainda mais grave do que já é. É ela que financia a economia e movimenta o comércio em muitos municípios. Ocorre que, para a tecnocracia, Previdência é apenas um número deficitário numa planilha. O próprio Bolsonaro, também à Band, refutou essa ideia. "Não pode mudar sem levar em conta que tem um ser humano que vai ter a vida que será modificada. Às vezes um colega pensa apenas em número". Essa clareza é ótima. A Previdência não é apenas um déficit.

 

Outro ponto que Bolsonaro aponta: "Nós temos um contrato com o aposentado, você vai mudar uma regra no meio do caminho". Isso é coisa para a qual pouco se liga. Políticos e empresários morrem de medo de descumprir contratos. Dizem que isso quebra a confiança etc. Mas, quando se fala de mexer em direitos de trabalhadores, aí não tem problema nenhum rever o que estava combinado, descumprir o que estava sinalizado. Mesmo em coisas tão fundamentais quanto aposentadorias.

 

O indicativo é bom e é coerente com a história de Bolsonaro. Como escrevi, o mercado comprou a tese de um Bolsonaro reformista por presumir em Fernando Haddad (PT) um não-reformista. Porém, essa nunca foi a história do presidente eleito como deputado. Aliás, ele ia mais longe que as ponderações que faz: votou contra tudo quanto foi reforma que lhe passou pela frente nos últimos 28 anos. Foi contra as mudanças da Previdência feitas por Lula em 2003, a de Dilma Rousseff em 2012, e ainda contra o Plano Real. Seu histórico é estatizante, corporativista e populista.

 

Na campanha, contudo, Guedes apresentou programa reformista radical, que começa a se esvaziar. Veremos o que irá prevalecer. Se Bolsonaro manterá a sinalização que deu nas recentes entrevistas ou se irá predominar os indicativos ao mercado ao longo da campanha.

 

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