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Como será contada a história de Moro, Bolsonaro e Lula?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Como será contada a história de Moro, Bolsonaro e Lula?

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A história do Brasil nesta década é a história da operação Lava Jato. E esse enredo está em curso. Estão em disputa as narrativas sobre esse processo. Querer dizer que o veredicto da história "é este e pronto" é pretensioso e inútil. Não faz muito tempo, era dada por encerrado o debate sobre a ditadura militar. Agora, há quem queira reescrever essa narrativa. Pode-se não gostar - há revisionismos espúrios e esse é um deles - mas não se pode proibi-los. A história não tem fim. Mesmo o passado não termina de ser revisto.

 

Mas, falava da Lava Jato. Falo de Sérgio Moro. Como juntar as peças dessa história? A investigação começou com esquema de lavagem de dinheiro e chegou a grandes empreiteiros. Daí aos mais altos escalões da política nacional. O motivo oficial não foi esse, mas, sem a Lava Jato e o ambiente de suspeição e instabilidade criado por ele, não haveria impeachment de Dilma Rousseff (PT), não haveria governo Michel Temer (MDB), não haveria a derrocada de Aécio Neves, levando junto o PSDB todo. A candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não seria barrada. Logo, seria pouco provável que Jair Bolsonaro (PSL) fosse hoje presidente.

 

Como encaixar essa sequência de fatos? Como contar essa história? Como Sérgio Moro será visto no futuro?

 

O que Moro tem a ganhar e a perder

A narrativa tem capítulo crucial que só começa a ser escrito: o desempenho de Moro no Poder Executivo. O desafio do novo Ministério da Justiça e Segurança Pública é gigantesco. Terá de combater crime organizado, fiscalizar orçamento federal, monitorar movimentações financeiras suspeitas, coibir financiamento de atividades criminosas e terroristas, além de cuidar de direitos dos povos indígenas, direito do consumidor, tratar de assuntos relacionados a migrações, política sobre drogas. Administra a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e o sistema penitenciário nacional. Também auxilia o presidente da República em quaisquer questões que não sejam da responsabilidade de outros ministérios. Coisa demais. Um balaio de desgastes em potencial. A chance de dar errado possivelmente seja maior que a de dar certo.

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Moro joga alto. O simples fato de aceitar o convite fornece mais argumentos do que jamais tiveram os que o acusam de politizar julgamentos e perseguir adversários ideológicos. Ele se vincula a um partido e um governo. Ganha esse carimbo e isso será sempre arguido contra ele. A entrada de Moro num cargo político introduz novos tópicos na história da Lava Jato. Movimento do presente que interfere no olhar sobre o passado.

 

O juiz é ícone e ídolo nacional. Empresta reputação, admiração e respaldo ao governo Bolsonaro. O presidente tem demais a ganhar. Moro tem mais a perder. É difícil pensar que possa sair mais popular. Caso consiga, terá tamanho para ser o que quiser. A aposta é alta e o potencial ganho, também. A possível perda, também.

 

Moro arrisca, inclusive, o legado da Lava Jato. Já há os questionamentos, a politização que muitos apontam, a alegação de seletividade. Tudo isso ganha mais contundência agora. Caso Moro saia chamuscado do governo, o arranhão na imagem, a depender da dimensão que tenha, não irá poupar a Lava Jato.

 

A Lava Jato ainda merecerá avaliação mais serena, longe do calor dos acontecimentos. Quando as personagens não estiverem tão enfronhadas na política. Houve excessos e isso já é reconhecido por quem chegou a ser entusiasta, vide Gilmar Mendes. Mas, há, também, tarefa importante e monumental.

 

A Lava Jato fez algo ainda mais improvável que prender um ex-presidente da República e colocar na cadeia um ex-presidente da Câmara. Prendeu grandes empreiteiros, gigantes do empresariado nacional. Gente detentora do verdadeiro poder, que não se submetia a alternâncias. Mantinha-se governo após outro. A operação revelou engrenagem da promiscuidade entre público e privado e isso foi crucial.

 

Trajetória que estaria mais bem preservada se o maior responsável por ela não acabasse ministro no governo que veio a seguir.

 

Foto do Érico Firmo

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