Logo O POVO+
Ciro se movimenta para ser o pós-Lula
Foto de Érico Firmo
clique para exibir bio do colunista

Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Ciro se movimenta para ser o pós-Lula

NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

As primeiras duas semanas desde a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) lançam alguma luz sobre os planos de Ciro Gomes (PDT). Ele faz aposta alta e arriscada. Se der errado, terá sido o desfecho de projeto nacional acalentado por mais de duas décadas. Se sair como ele planeja, colocará o ex-governador cearense na condição de principal líder de oposição do País no ciclo pós-Lula.

 

Ciro vislumbra o esgotamento do PT como alternativa de centro-esquerda. A leitura é de que dificilmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará em liberdade até a próxima eleição. A conclusão dessa leitura é de que, sem ele, o PT tende a minguar. Com ele, o partido se abraça ao desgaste do ex-presidente. Essa é a percepção de Ciro e disso ele tenta se aproveitar.

 

O ex-ministro fez uma jogada alta com objetivo de se tornar um principal líder de centro-esquerda no Brasil de Bolsonaro. Ou, ao menos, o principal em liberdade. A jogada é arriscada porque Ciro nunca saiu tão forte de uma eleição presidencial. Não só pela votação, apenas pouco maior que em 1998 e 2002. Ele teve 10,97% dos votos em 1998, quando era novato. Foi a 11,97% em 2002, quando chegou a despontar com força, mas terminou a campanha em franca queda, atrás de Anthony Garotinho, com 17,86%. Desta vez, Ciro teve 12,47%.

 

Mais que o percentual, Ciro saiu em alta, valorizado. Foi visto como alguém capaz de influenciar decisivamente os votos no segundo turno. Todavia, abriu mão desse papel. Limitou-se a sinalizar um "Bolsonaro não". O partido deu "apoio crítico a Fernando Haddad (PT). Seu irmão, Cid Gomes (PDT), foi a ato do PT e protagonizou momento que foi usado exaustivamente pela campanha de Bolsonaro. Ficou menos preocupado em parecer ajudar o hoje presidente eleito que em eventualmente ser associado ao PT.

 

O risco a que se expôs é calculado. Ele foi responsabilizado por petistas pela vitória de Bolsonaro, ao não ter apoiado Haddad. Ciro imagina que o desgaste de um não apoio explícito é menor que o de se abraçar ao PT e à sua rejeição.

 

A estratégia de Ciro é não se atrelar ao PT, de forma alguma. Não só pela mágoa pelo que considerou postura desleal nas negociações de alianças. Ele é pragmático. Sobretudo, acredita que o PT está desgastado demais e é caminho sem volta. Viu na eleição de Bolsonaro um atestado da rejeição petista. E acha que quem ganhar essa pecha irá se inviabilizar. Por isso, quer construir uma frente de oposição sem o PT. Uma frente moderada - disse que dará trégua ao novo governo nos primeiros meses. Já se encontrou com Marina Silva (Rede), enquanto PDT, PCdoB e PSB se reuniram para discutir a frente sem o PT.

 

Em resumo, Ciro acha que o futuro da esquerda no Brasil não será conduzido por um herdeiro de Lula, mas por alguém que se distancie do ex-presidente. A análise tem sua lógica, mas embute risco. Mesmo preso, o petista seguiu como mais popular político do País enquanto as pesquisas o incluíram. Não é pouca coisa o que quer Ciro: viabilizar-se como sucessor/alternativa a Lula, no campo político de Lula e sem o apoio de Lula.

 

Oposição nasce às trombadas

A oposição a Bolsonaro nasce, então, rachada e em furiosa briga. Na própria noite da vitória de Bolsonaro, a vice de Ciro, Kátia Abreu (PDT-TO) foi às redes sociais: "Tiveram o que mereceram. O Brasil sinalizou várias vezes que não queria o PT no governo. Insistiram por pura soberba. As pessoas só servem pra vocês quando os apoia. Se não, vocês destilam ódio. Vão dormir com esta".

 

Os problemas para essa articulação de oposição sem o PT são alguns e bem palpáveis: o PT elegeu a maior bancada da Câmara dos Deputados. É o partido que elegeu mais governadores. O candidato do partido teve, no primeiro turno, mais que o dobro dos votos de Ciro. Como a oposição espera se articular ignorando essa força? Como irá montar estratégia nas votações da Câmara sem levar em conta a maior bancada? Se a estratégia é deixar o PT a reboque, parece mais fácil ocorrer o contrário.

 

Talvez por isso, o PT está incomodado com a postura do restante da oposição, mas contemporiza. Conforme a jornalista Mônica Bergamo, Lula se disse surpreso com a ausência de Ciro das eleições, mas ponderou: "Ciro é um ser humano que vale a pena". Sinalização de que acredita no reencontro à frente.

 

A questão é saber se Ciro acha isso bom para ele. Não parece.

 

Foto do Érico Firmo

É análise política que você procura? Veio ao lugar certo. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?