Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) disse que escolheria ministros sem nomeações políticas. Nos primeiros nomes assim foi: Paulo Guedes, Sérgio Moro, Marcos Pontes e general Augusto Heleno não estão lá para contemplar cotas partidárias. Mesmo Onyx Lorenzoni, deputado pelo DEM, não é indicação do partido. Porém, a escolha da deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS) para ministra da Agricultura é explícita expressão do jeito mais tradicional de fazer política.
A escolha da ministra chegou ao presidente como pacote feito. Parlamentares da bancada ruralista se reuniram e escolheram o nome de Teresa para o cargo. Jeito mais velho e carcomido de montar governo não existe.
Pode-se argumentar que ela, presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, é engenheira agrônoma. Isso faria dela indicação técnica. Só se você acreditar que o economista Romero Jucá (MDB-RR) foi indicação técnica de Michel Temer (MDB) para o Ministério do Planejamento ou o engenheiro civil Gilberto Kassab (PSD) foi opção técnica de Dilma Rousseff (PT) para o Ministério das Cidades.
A bancada ruralista não é uma instância técnica do setor. É um grupo de pressão e lobby. Isso é legítimo. São o grupo organizado mais influente do Congresso. Têm poder, prestígio, trânsito e organização. Bolsonaro os atendeu como parte dos entendimentos para votarem com o governo. Nada de novo sob o sol.
Em princípio e a rigor, não tem nada de errado em nomeação política, desde que de alguém qualificado. Aliás, essa coisa de demonizar a política nunca acabou bem e sempre conduziu a saídas heterodoxas, questionáveis do ponto de vista da democracia. Não vejo saída fora da política e que não passe por fortalecer e qualificar os partidos. Fora disso, o que há é personalismo.
O problema é vender a imagem de que não faz política, de que a nomeação é técnica e que os partidos não apitam coisa nenhuma. Política, pois sim.
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Ridículo, sobretudo, negar o óbvio. Indicado ministro do Gabinete de Segurança Institucional, o general Heleno tentou negar o lobby ruralista pela ministra. "Não é indicação política, ninguém pediu pela deputada Tereza Cristina. Ele (Bolsonaro) chegou à conclusão de que ela é capacitada para ser ministra da Agricultura".
Fica feio para um general de quatro estrelas faltar com a verdade ou, no mínimo, falar do que não sabe. Após Bolsonaro confirmar a escolha, a bancada ruralista divulgou nota na qual afirma que ela foi indicação deles, sim senhor: "Membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) estiveram reunidos, hoje, com o Presidente da República eleito Jair Bolsonaro. A bancada, após consenso entre parlamentares e entidades representativas da Agropecuária, sugeriu o nome da deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS), presidente de FPA, para o Ministério da Agricultura. Jair Bolsonaro aceitou a indicação e confirmou o nome da deputada Tereza Cristina para assumir a pasta".
O presidente e a imprensa
A relação do presidente eleito com a imprensa vai de mal a pior. Já disse que usará verbas públicas para beneficiar quem lhe é simpático e retaliar os críticos, tentou impedir acesso de jornalistas a sessão solene no Congresso. Na terça-feira, ficou irritado com pergunta absolutamente pertinente de jornalista sobre problema diplomático que ele causou.
O presidente eleito pediu que fosse feita outra pergunta, que não responderia sobre isso - era só o que faltava. Jornalistas insistiram no questionamento. Então, o presidente deu as costas e foi embora.
Ora, será que, como presidente, Bolsonaro irá se recusar a responder perguntas das quais não goste? O dever do jornalista é mesmo o de incomodar. De questionar sobre aquilo que é desconfortável. Para aplaudir, não precisa de imprensa. Tem puxa-saco que sobra.
O problema surgiu depois que Bolsonaro falou de transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém. A decisão atende a pleito legítimo dos israelenses, mas a forma como o Brasil fez isso, isoladamente, foi imatura. Não se entra de forma atabalhoada em questão tão descuidada quanto o conflito entre árabes e judeus.
O presidente agiu movido pelo que mais diz abominar, mas pratica o tempo todo: ideologia.
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